Quando vamos à Festivais é impressionante o quanto não conhecemos filmes de países que acabam nem entrando em nosso circuito comercial limitado, principalmente no interior, e com isso algumas vezes somos surpreendidos com filmes brilhantes e que mesmo mantendo uma simplicidade acabam nos emocionando por saber principalmente trabalhar bem o roteiro em um tema bonito e interessante. Com "Pais e Filhos", o drama mote da trama já foi bem batido aqui em novelas nacionais e até mexicanas, mas por trabalhar mais com crianças e com uma cultura duríssima que é a japonesa, o filme acaba nos tocando até mais do que imaginávamos.
O filme nos mostra que Ryota é um arquiteto obcecado com o sucesso profissional. Tudo o que tem conseguiu através do seu trabalho e acredita que nada pode impedi-lo de seguir a sua vida como um perfeito vencedor. Até que um dia, ele e sua esposa, Midori, recebem um inesperado telefonema do hospital. Keita, seu filho de seis anos, não é seu filho de verdade – o hospital lhes deu o bebê errado. Ryota será obrigado a tomar uma decisão que poderá mudar sua vida: escolher entre "natureza" e "criação". Vendo a devoção de Midori com Keita, mesmo depois de saber sua origem, e ao entrar em contato com a família rude, porém carinhosa, que cuidou de seu filho natural todos esses anos, Ryota começa a se questionar: será que ele realmente foi um "pai" todos esses anos?
A sensibilidade que o diretor Hirozaku Kore-Eda nos entrega em seu filme é de um primor impressionante, pois todos que conhecem descendentes de japoneses sabe que aqueles que colocam como metas na vida profissional, vão duro em segui-las esquecendo todo o restante familiar, etc., sendo certos até demais com tudo, e aqui o protagonista nos é mostrado exatamente dessa forma. Porém a doçura mostrada nas crianças, que com uma interpretação monstruosa a qual o diretor com certeza orientou bem até demais, derruba o coração de qualquer um, e se a pessoa não tiver se emocionado em qualquer cena, nas cenas finais da câmera um cisco com toda certeza irá trombar em seus olhos. O ponto de discussão sobre pai é quem cria já foi tema de discussão de diversos programas, novelas, filmes e tudo mais que pensarmos, mas pela primeira vez vi um longa trabalhar de forma tão convicta algo em torno de laços sanguíneos, acredito que seja mais pela cultura japonesa ser tão forte nesse estilo, então todo o valor mostrado no filme agrada bastante e bate com força na montagem escolhida pelo diretor por abordar tudo com olhos bem abertos, tirando é claro o motivo da troca que acabou fraco demais.
Embora o filme tenha toda a doçura e agrade bastante, não podemos deixar passar um pequeno erro que até pode ser explicado por alguns como existente normal, mas é notável que ambos os garotos não possuem 6 anos, não digo apenas pelo tamanho deles, mas pelo desenvolvimento criativo de Shôgen Hwang que é dinâmico nas brincadeiras e já entrou na famosa fase dos porquês que tanto irrita muitos pais, com isso o garoto até se sai melhor, mesmo ficando em segundo plano em alguns momentos. Não consegui nenhum dado mais forte sobre a idade real deles, mas precisariam ter trabalhado um pouquinho mais nesse quesito, não que tenha atrapalhado nada, mas quem quiser achar defeito é só começar por esse ponto. A forma de discurso de Keita é muito bonita e nem parecem tão jovem, agradando na medida, mas é risível sua forma robótica de caminhar na última cena do filme, poderia ser mais suave que ficaria mais bonitinho. Quanto dos adultos, Masaharu Fukuyama foi metódico como deveria ser em seu papel, e construiu um semblante focado e sem erros, onde até impõe medo em certos momentos. Ao oposto Lily Franky fez um papel totalmente irreverente, onde o famoso pai bobão entra em ação, brincando com seus filhos como se não houvesse amanhã, e felizmente toda essa vida bagunçada dele agrada sendo verossímil sua interpretação. Machiko Ono até tenta nos emocionar com o sofrimento de mãe, mas quem conhece sentimentos maternos não abriria mão tão fácil como ela, e traria mais sentimento para a personagem. O mesmo podemos dizer de Yôko Maki, mas seus trejeitos afetivos ao menos ficaram mais suaves, agradando em alguns momentos.
O visual da trama trabalha bem as diferenças entre as famílias utilizando de elementos cênicos precisos e em grande número, iniciando pelas casas, e todo o conteúdo, mas o mais importante acaba recaindo sobre os brinquedos e brincadeiras familiares que mostram até mais do que um simples visual, funcionando como parte do roteiro e agradando na medida certa todo o conteúdo que a direção de arte trabalhou junto da direção de forma importantíssima para o filme. Além disso, os passeios sempre regados a brincadeiras e comidas tradicionalmente caras ficaram bem montados. A fotografia mesclou cores para colocar a família mais pobre como mais alegre e tonalidades cinzas para a família mais séria e rica e com isso trabalhou bem a nossa perspectiva em não ficar preso somente no roteiro, mas colocando todo o conteúdo visual para trabalhar a favor do longa.
Enfim, um filme gostoso de ver, que parecia ser bem mais forte, mas suavizou bem o tema, sem perder claro toda a emoção que deve passar. Vale com toda certeza assistir assim que for possível não só pela minha recomendação, mas pela simbologia de vida que o filme pode passar. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda dos 4 filmes que faltam passar no Festival SESC Melhores Filmes, ainda há 2 que não vi, então em breve teremos mais posts por aqui, abraços e até breve.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...