A escola de cinema italiano é daquelas que o diretor sempre fica na dúvida se vai fazer uma comédia dramática ou um drama cômico, e nessa dúvida ele acaba levando o público para um estilo de diversão diferenciado que geralmente gostamos do que vemos na telona, mas saímos exaustos com a quantidade de enrolação que fazem para atravessar apenas uma rua (não que isso ocorra nesse filme, mas geralmente para atravessar o ator pensa cinco vezes volta para três bares e conversa com dez pessoas antes de realmente desistir de atravessar), ou seja, não digo que "Loucas de Alegria" seja um filme ruim, nem tão pouco algo sensacional de assistir, mas consegue trabalhar bem a dinâmica de amizade mais maluca que alguém poderia imaginar.
O longa nos mostra que Beatrice é uma mulher rica e extravagante, que dá ordens a todos ao redor e não para de falar em momento algum. Donatella é tímida e misteriosa, evitando o contato das outras pessoas. Elas possuem personalidades completamente distintas, mas têm uma coisa em comum: as duas estão internadas em um hospital psiquiátrico. Aos poucos, tornam-se grandes amigas e decidem fugir da instituição para resolver uma questão do passado de Donatella.
É interessante ver que ao chegarmos no fim do longa, conseguimos observar que não só a história é completamente maluca, como as atrizes chegaram ao limite da loucura junto com o diretor, pois o resultado acaba brincando com o público, mostra bem a vontade de ambas protagonistas retomar o seu real mundo nem que seja por alguns minutos, e com isso o filme flui bem, só é uma pena a falta de ritmo na trama para que o filme fosse mais fluído e não cansasse tanto, pois o resultado é bacana, mas acaba parecendo que passamos no mínimo umas três horas dentro da sala do cinema, sendo que o longa não tem nem duas.
No conceito interpretativo, temos de ser honestos e dizer que Valeria Bruni Tedeschi deu um show com sua Beatrice, claro que de forma meio caricata ela consegue nos prender pelo estilo arrogante e cheio de classe que tanto sabemos que mulheres ricas costumam fazer, e segurando bem o estilo do começo ao fim (dando apenas uma desabada emocional na cena necessária) ela conseguiu dominar o filme e por bem pouco não ficamos olhando para os demais personagens com tudo o que ela faz em cena. Por um outro lado, Micaela Ramazzotti fez de sua Donatella uma pessoa delicada, com muitos problemas (que só vamos sabendo aos poucos) e que acabamos conectados com sua tentativa de alcançar os seus dois sonhos, mas sua loucura é mais intrusiva e destrutiva, de tal maneira que o humor flui para baixo, e com isso cada momento seu leva mais tempo para atingir o público, porém a atriz fez isso tão bem que acabamos indo junto com seu ar até o fim, e até emocionando no melhor momento do longa. Agora estou pensando se dou destaque para mais alguém, pois quase esquecemos que existem outros personagens na trama, pois somente as duas atrizes dominaram tudo de forma tão bem feita que o longa fluiria facilmente sem aparecer mais ninguém (por exemplo numa peça de teatro com três a quatro cenários espalhados, e apenas as duas atrizes), portanto é melhor nem citar mais ninguém.
A equipe artística escolheu locações de cair o queixo, a começar pela vila psiquiátrica aonde diversos malucos estão trabalhando e vivendo muito bem em meio à natureza, mas como todo hospital, ao ir para os quartos as acomodações e o estilo de tratamento deixa a desejar, e isso já foi muito bem mostrado no longa, passando para uma cidadela bem montada e cheia de possibilidades para as protagonistas doidas, indo até a maravilhosa mansão do ex-marido e advogado da protagonista, com todo um charme característico, passa por um manicômio judicial mais intenso, e encaixa numa propriedade cinematográfica com filmagens acontecendo inclusive, para finalizar a praia com todo o charme da orla e claro explicando o começo conturbado da outra protagonista. Ou seja, a equipe se preocupou mais com lugares do que realmente em montar um cenário próprio e esse acerto fez com que o filme fosse quase um road-movie, que montado de forma diferente até iria agradar bem mais. A fotografia italiana, assim como ocorre na dúvida entre drama ou comédia, ficamos com tons variando nos dois gêneros, e isso não é ruim, pois dá boas nuances, mas o foco em um estilo só seria bem mais interessante de ver.
Enfim, é um filme maluco, dramático e divertido, que poderia ser visto e produzido de diversas maneiras, mas que nesse formato acabou deixando muitas situações abertas que se encaixariam melhor num molde mais apropriado. Portanto, é um filme com um estilo próprio que muitos vão amar, e muitos vão odiar, principalmente pela forma lenta que tudo ocorre, e que acaba cansando um pouco, mas no geral é algo bem divertido de assistir, e com esses leves desvios, até recomendo ele. Bem fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até mais galera.
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