Nos acostumamos a ver os longas de Damien Chazelle sempre musicais, cheios de desenvolturas, e que mesmo nos momentos mais dramáticos tinham um certo gingado para não ficar um gelo completo, e ao cairmos na dura realidade de seu novo filme, "O Primeiro Homem", que muitos irão conferir esperando ver algo do estilo de super viagens ao espaço, com ação e construção de naves, e certamente se desapontarão com o que será passado, pois a trama é muito mais dramática e em cima da personalidade e problemas que o primeiro homem realmente teve antes de subir até a Lua, trabalhando muito bem a dramaticidade em cima da mente de Neil Armstrong ao passar pela morte da filha, todos os problemas com o programa do governo que só viam dinheiro sendo consumido e pessoas morrendo, toda a responsabilidade que foi jogada em cima de um único homem também, e por aí vai, de modo que o filme soa denso, sem respiros (ou melhor com alguns bem pausados que quase ficamos sem ar), com falta de som inclusive de uma maneira incrível (não é problema da projeção - apenas uma grande reflexão perfeita em cima de mostrar que no espaço não temos som!). E assim sendo o que vemos é um filme bem reflexivo, cheio de técnica, que impacta demais com toda a dramaticidade passada, e que principalmente mostra que um diretor quando sabe o que quer entregar, acaba fazendo algo incrível, mesmo que saia de sua zona de conforto.
O longa conta a vida do astronauta norte-americano Neil Armstrong e sua jornada para se tornar o primeiro homem a andar na Lua. Os sacrifícios e custos de Neil e toda uma nação durante uma das mais perigosas missões na história das viagens espaciais.
A forma que o diretor Damien Chazelle conduziu a história é um feito tão minucioso e cheio de detalhes, que vamos nos conectando aos poucos com tudo, e quando vemos já estamos tão ligados no protagonista e na sua vivência que não conseguimos mais pensar em nada, de modo que vemos diversos filmes absurdos baseados em histórias reais e também histórias reais tão absurdas que por vezes alguns até colocam a ida do homem à Lua como algo inexistente, mas só vendo todo o sofrimento que Neil viveu, suas paranoias, suas derrotas e tudo mais até ter sua glória, conseguimos entender que não tem como isso ser falso, e na forma dramática que o diretor conseguiu trabalhar em cima do roteiro de Josh Singer baseado no livro biográfico de James Hansen, tivemos detalhes técnicos bem alocados, dramaticidades colocadas em pauta com olhares completos e bem encaixados, tivemos cada nuance predominando sem precisar de muitas firulas, e sendo assim, conseguimos ver mais uma vez que Chazelle se reinventa a cada novo filme que pega para dirigir, não entregando uma mão tradicional cheia de vícios, mas sim algo que nos faça refletir e incorpore como algo que vá além, quem sabe até chegar a Lua para poder se libertar de seu sofrimento como é o objeto mostrado na trama. Ou seja, a direção foi impecável e moldou cada ato como algo único, cheio de detalhes, e principalmente reforçou que um bom filme necessita de ótimas interpretações, e aqui ele conseguiu algo que foi além pelos olhares e atitudes de todos os protagonistas.
Falando mais nas interpretações, é bem interessante que o longa se moldou bem em cima dos dois protagonistas, principalmente no conceito mais dramático que o filme puxa, porém tivemos outros grandes atores tendo excelentes momentos durante o longa inteiro. E para começar é claro que temos de falar de Ryan Gosling, que possivelmente consiga sua terceira indicação ao Oscar pelo que fez aqui, e diria que vale mais essa do que a de "La La Land", pois aqui ele realmente incorporou um Neil Armstrong traumatizado pela perda, completamente desesperado para querer chegar no seu ponto máximo, no caso a Lua, e em choque pelas diversas mortes de amigos durante todo o processo de testes, ou seja, com olhares destroçados, trejeitos vocais incríveis e muita dinâmica na personificação, ele conseguiu encaixar toda a responsabilidade o que o diretor colocou em suas mãos e fez tudo e muito mais, ou seja, deu show de expressões. Agora como já diria o ditado popular, por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher, ou algo do tipo, pois que impacto foi esse que Claire Foy conseguiu trazer para sua Janet Armstrong, criando um semblante forte, uma personalidade única, e tendo praticamente quase todas as suas cenas como se estivesse pronta para ganhar todas as premiações possíveis, ou seja, deu um show do começo ao fim do filme. Jason Clarke também foi arrebatador com seu Ed White, funcionando bem tanto na empresa espacial quanto como um grande amigo da família, de modo que junto de sua esposa na trama interpretada por Olivia Hamilton acabaram entregando ótimos momentos junto com os protagonistas. Dentre os demais, todos foram bem colocados e tiveram bons momentos, tendo leves destaques mais por serem personagens bem conhecidos do mundo espacial do que pelas atuações em si, temos Corey Stoll como Buzz Aldrin, Kyle Chandler como Deke Slayton e Patrick Fugit como Elliot See, tendo o primeiro um pouco mais de destaque por estar junto do protagonista no momento máximo do conceito do longa.
No conceito cênico, o longa também foi bem trabalhado, com a equipe de arte não apenas recriando a época dos anos 60 com enterros bem trabalhados, festas na Casa Branca, casas simples mas bem colocadas com objetos cênicos encaixados para dar a sintonia da família e de cada momento, mas principalmente o grande feitio foi para com as espaçonaves incríveis que usaram no longa, que certamente deram muito trabalho para fazer semelhantes às usadas nas missões espaciais, ou no mínimo irem até a NASA para usarem réplicas que devem ter no museu, de tal maneira que chegamos a pensar: "Esses caras que viajaram nisso são loucos! Vão tudo tostar no espaço!", ou seja, dá para pensar em outras premiações também no conceito técnico, pois o filme veio com tudo. A fotografia trabalhou com um granulado interessante para marcar época na trama, e também para dar uma valorizada em diversos aspectos, mas tivemos cenas tão lindas com o sol de contraluz que realmente mostraram um serviço de primeiro nível para chamar a atenção.
A parte sonora nem tem tantas trilhas envolventes, mas é de um capricho técnico na mixagem, cheia de barulhos imensos, bons temas de fundo, e principalmente brincando com o som das coisas chacoalhando que acabamos ficando tensos junto com os personagens, até entrarmos no espaço e termos uma das cenas mais belas, praticamente sem nenhum som, nenhuma fala, nada, somente a beleza do espaço e nada mais, para termos no fim, novamente algo do estilo que foi incrível de ver.
Enfim, vi o longa na sala Imax do UCI, e recomendo muito, pois mesmo não sendo um filme 3D, a imersão na tela imensa, juntamente com todo o trabalho de som que falei acima acabaram dando nuances que certamente em outras salas não terão o mesmo efeito, então recomendo quem puder, veja na maior e mais barulhenta sala de sua cidade, pois vai valer a pena, e claro que recomendo demais o longa, que certamente vamos esperar para ver muito se falar dele ainda nas premiações. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.
PS: Faltou me empolgar um pouco mais para que eu desse a nota máxima, pois o filme é lindo, é uma obra de arte de dramatizações, mas houveram alguns momentos que acabei cansando um pouco, quebrando a tensão, e isso me faria remover pelo menos meio ponto da nota, e como não tenho quebrados, ficaremos com nota 9.
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