Homens e Deuses

4/15/2012 01:43:00 AM |

Filmes que misturam religiões sempre são interessantes, mas quando a mistura envolve as duas frentes mais fortes, catolicismo e islamismo, tudo pode acontecer. Em "Homens e Deuses", temos a pitada envolvendo os dois extremos dessas frentes que é a reclusão de monges e os extremistas islâmicos, ou seja a bomba está explodida. Achei que embora o filme possa ser bem amplo para pensar, o diretor optou por não mexer tanto na ferida que poderia causar um pouco mais, mas mesmo assim consegue transmitir sua mensagem.

O filme mostra que há anos morando num mosteiro na Cordilheira do Atlas, na Argélia, um grupo de monges franceses passa a ser ameaçado de morte diante da explosão do fundamentalismo islâmico no país, na década de 1990. Unidos pela fé e diante da ameaça humana, cada monge deve decidir se quer ficar e arriscar sua vida ou voltar para a França. O filme é uma obra poderosa e comovente sobre as complexidades da fé e a noção de Deus no mundo contemporâneo e é inspirado em fatos reais.

Com base nessa sinopse, já dá para ter uma boa noção do filme, só acho que o diretor Xavier Beauvois foi econômico na forma de mostrar o real conflito da região ao invés de ficar tanto mostrando os rituais dos monges. Chega a ser exagerado a quantidade de cenas deles cantando as músicas e como a opção do filme foi  de não utilizar trilha sonora para praticamente nada, usando apenas os cânticos dos monges e somente uma vez colocar uma música mesmo, o longa acaba cansando um pouco e acaba perdendo um pouco o brilho que poderia ter se fosse mais forte já que é inspirado em fatos reais.

Os atores conseguem, claro que por excesso de cenas, mostrar todo o ritual do monastério e os islâmicos também fazem bem o seu papel, embora sejam quase que coadjuvantes sem aparições pela escolha do diretor. Mas todos agradam por dominarem os personagens. Poderia ficar falando de um por um, mas como é um filme de praticamente desconhecidos da maioria seria algo até chato. Citando apenas um bom exemplo de atuações veja as cenas finais onde entra a música Lago dos Cisnes de Tchaikovsky onde a expressão dos monges já diz tudo.

No quesito direção de arte que gosto de reparar, o diretor consegue eximir bem o confronto de etnias que tem com roupas e moradias, mesmo os monges abdicando de tudo que possa ostentar, ainda assim é muito mais do que o pobre povo da Argélia tem pra si. Na questão de fotografia e planos achei exagerado os travellings que ficam a todo momento buscando as interpretações dos monges. Porém as cenas finais sob a grande nevasca tem um sentimento muito interessante de se captar que conseguiram transmitir através da câmera parada.

Outra coisa que incomoda, é pela ausência de trilha sonora, a mudança brusca de planos de um tremendamente silencioso para um barulho estrondoso, assusta o espectador sem ter nenhuma finalidade cênica para o filme.

Enfim, é um filme bem interessante que poderia ser bem melhor, mas segue o padrão do cinema francês de dramas, que opta por largar mais idéias em aberto do que focar em situações, isto é agradável para alguns, mas nem todos irão gostar. Fica como recomendação para ver realmente o conflito que o diretor tenta passar mesmo que superficialmente. Daqui a pouco tem mais um do Festival. Até mais pessoal Abraços.


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