segunda-feira, 11 de março de 2013

A Parte dos Anjos

Sabe aquele filme que o trailer não te compra? Esse filme pode ser muito melhor do que você espera e agradar de uma forma impressionante. Comecei o texto de "A Parte dos Anjos" falando isso, pois lembro como se fosse hoje quando vi o trailer há uns dois meses mais ou menos numa sala, e o senhor do meu lado falou: "nossa que filme estranho e ruim". Fiquei com essa frase dele na cabeça, pois também não tinha achado que fosse ser um bom filme e depois imaginava que nem estrearia aqui pelo interior. Pois bem, o pessoal ponta-firme da Imovision não esquece jamais daqui e mandou o longa aqui na data de estreia nacional, o que já conta muitos pontos, e pasmem, ele é anos-luz melhor que seu trailer, colocando uma mistura de comédia com crítica social muito bem encorpada de forma que os atores, em sua maioria novatos na telona, fizessem excelentes papéis e nos divertissem numa ótima sessão.

A história nos mostra que Robbie é um rapaz do subúrbio de Glasgow, perseguido pelo seu passado de delinquência, que está prestes a se tornar pai. Após escapar da prisão em um julgamento, é forçado a prestar serviços comunitários, quando conhece outros jovens problemáticos e Henry, que se torna seu mentor e o inicia na arte do uísque. Ao descobrir um talento real como degustador, Robbie bola um plano com seus amigos que pode render a eles um novo começo.

O mais interessante da história está na condução que o diretor soube usar para que embora seu filme tivesse toda a crítica social que quer mostrar de pessoas que saem da prisão e não conseguem emprego, do tratamento que policiais dão a eles e por aí vai, ele conseguiu colocar a comédia num nível superior da trama, fazendo com que ríssemos de situações bem divertidas que ocorrem com os protagonistas. E claro, esse modo de fazer o filme rendeu ao diretor Ken Loach o prêmio do Júri de Cannes em 2012, pois com certeza se ele optasse por qualquer uma das duas vertentes, fosse apelar mais para a carga dramática ou exagerar na comédia, o longa se tornaria chato de assistir e geraria muito mais críticas negativas do que favoráveis. Não digo que é perfeito, pois o excesso de palavrões e algumas cenas um pouco nojentas poderá constranger algumas pessoas, principalmente mulheres que geralmente não gostam desse estilo, mas tirando isso é excelente tanto no texto quanto na interpretação/direção.

Os atores inicialmente vão parecer que não possuem química alguma e aparentemente podemos até achar que não vão a lugar algum, mas com o decorrer da história acabam se tornando bem agradáveis de acompanhar e até começamos a torcer para que tudo de certo pra eles, além de que por serem bem mais presentes em filmes britânicos, a maioria deles nem conhecemos por aqui. Paul Brannigan tem toda a cara de meliante juvenil daqueles que você vê na rua sempre e isso o leva ao maior parecer que o ator pode conseguir, só que seus atos de nervoso não convencem muito não, fico preferindo seu lado emburrado. John Henshaw possui todo o carisma possível que seu personagem pede, e faz dele a ligação social que o protagonista necessita para alcançar voos, acredito que por ser um dos atores mais experientes que a trama teve, passou muito para os novatos. Gary Maitland consegue fazer tantas trapalhadas e falar tantos absurdos que numa comparação fácil colocaria ele como o Burro do Shrek, mas assim como o personagem animado, acabamos nos divertindo bastante com ele, e fica tudo bem. Siobhan Reilly acaba sumindo um pouco e seu personagem poderia ter sido talvez um pouco mais empregado, mas os momentos em cena mostra uma boa interpretação e mostra que domina os diálogos também. O mais conhecido de todos Roger Allam aparece em três cenas e pode ser considerado até como uma participação especial, mas marca forte nas cenas que aparece com o protagonista de forma que suas poucas palavras enquadrem bem nos atos do personagem principal.

O visual acaba se tornando mais interessante quando entra no mundo das destilarias, pois mostra a fundo como é a produção da tão famosa bebida de formaturas, casamentos e afins por aqui, que vemos um mundo a parte das pessoas que degustam essa bebida chamada Whisky e quando os personagens passam a fazer parte desse mundo o visual do longa fica bem bacana e divertido. O figurino também comumente usual de kilts acaba ficando divertido e chama a atenção em algumas cenas. A fotografia soube aproveitar dos visuais da natureza e principalmente muito da luz natural, o que enriqueceu bem o filme e agrada visualmente.

A trilha sonora é bem usada tanto para dar ritmo quanto para divertir em muitas cenas. E a escolha de "I'm Gonna Be (500 Miles)" ficou perfeita, principalmente por tudo que diz na letra que é realmente o que o protagonista busca, como a sonoridade que a música proporciona.

Enfim, gostei muito do que vi e mais uma vez agradeço ao pessoal da Imovision por nunca se esquecerem do pessoal do interior, continuem mandando sempre esse estilo de filme que é alternativo, mas que consegue levar um bom público cativo para ver, felizmente tinha um bom volume na sala que assisti. E recomendo demais que todos vejam esse longa que levou 4 prêmios de suas 7 nomeações em diversos festivais, pois vale muito a pena o ingresso investido. Fico por aqui hoje, mas ainda teremos mais nessa semana, então abraços e até breve pessoal.


2 comentários:

  1. Respostas
    1. Ola Érika!!! John Carter também é bom... e assim como esse não teve público então tudo embargado pra variar... bjs!

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Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...