Luz nas Trevas: A Volta do Bandido da Luz Vermelha
O cinema de Rogério Sganzerla sempre foi algo diferenciado, seja por sua forma experimental ou porque não dizer sua genialidade de misturar tudo num filme mesmo que sanguinolento de uma forma cômica. Pois bem sua mulher Helena Ignez consegue manter a mesma veia em seu filme “Luz nas Trevas: A Volta do Bandido da Luz Vermelha” e até mesmo conseguir fazer um longa mais maluco ainda, porém mais leve que o de seu marido.
A história nos mostra que numa cela de uma prisão de segurança máxima o Bandido da Luz Vermelha reflete sobre sua própria vida. Na prisão, descobre que a cada nova falsa acusação que assume, aumentam seus privilégios. Jorge Bronze, mais tarde conhecido como Tudo-ou-Nada, é filho de Luz Vermelha. Adorado pelas mulheres, ele segue os passos do pai, divertindo-se e gastando tudo o que ganha com os roubos.
O mais bacana da história é que o projeto foi idealizado por Rogério para ser uma continuação de seu filme de 1968, mas com sua morte acabou não sendo realizado. E agora passados mais de 44 anos, a sua viúva e suas duas filhas acabam dando vida ao filme e colocando muito do que podemos considerar sua alma e essência. Não posso dizer que tudo foram flores na concepção do longa, pois existem muitos furos de época, pois ao mesmo tempo que temos uma polícia que sai atirando nas ruas, temos TVs de LED e carros novos. Isso são pequenos detalhes, que até caberiam num longa de Sganzerla, pois em seu mix nada era temporal, mas acabou ficando estranho em alguns momentos. Porém tirando esses detalhes, o que vemos nas mãos de Helena é um filme bem divertido e ao mesmo tempo ideológico. Outro ponto que podemos ter como referencia é a forma que os artistas se movem e discursam, fazendo nos lembrar dos filmes antigos onde eles praticamente entoavam suas vozes para dizer um texto declamando como poemas e não apenas interpretando, é algo diferenciado que pode dar certo mais para pessoas que curtiram o cinema brasileiro antigo, pois para alguns mais novos podem ter ficado com cara de interrogação ao ver o longa.
Continuando a falar sobre as interpretações, um grande acerto inesperado foi a escolha de Ney Matogrosso para viver o personagem do Bandido da Luz Vermelha, pois ele como ícone musical da época do filme de Rogério, hoje caiu como uma luva nas mãos de Helena, e o mais interessante é ver como ele se saiu bem, pois quando vi o cartaz do longa no ano passado com o nome dele, jurava que ele não serviria para o papel, mas hoje vi que o cara detonou, principalmente com o final cantando a música “Sangue Latino” que coube completamente para a trama. André Guerreiro Lopes poderia ter forçado um pouco menos no seu personagem, pois alguns momentos soam bem falsos para a trama, fora algumas frases ditas tantas vezes que podemos julgar até mesmo uma falha no roteiro que embora possa servir como tema do personagem acabam cansando. Os demais atores acabam sempre dando ligações para a realização de determinados momentos, mas acabam nem sobressaindo muito para poderem ser citados, então apenas consideremos eles como corretos.
O visual preparado para a trama caiu muito bem e conseguimos ver o trabalho da direção de arte com minúcias tanto nos objetos cênicos quanto nos materiais selecionados de outros filmes “jogados” no meio da trama tanto para lembrar o filme original de Rogério quanto para acabar fazendo uso da linguagem que ele fazia. Os melhores cenários sem dúvida nenhuma ficam para as cenas dentro da cadeia, que embora seja um cenário teoricamente fácil de se produzir tiveram todo o cuidado para fazer algo bem diferenciado. A fotografia também se ateve a fazer as lembranças visuais do diretor e com isso, mesmo nas cenas mais escuras jogar a luz avermelhada caiu muito bem para a trama e colocou identidade.
A sonoplastia foi bem organizada, mas ainda assim não é um estilo que dou muitos salves, pois em alguns momentos a narração mesmo que cabível e feita de forma divertida acaba enchendo o saco. Enquanto que a trilha sonora bem escolhida com músicas que sempre remetam aos personagens entrou perfeitamente sem ter nenhum momento de erro.
Enfim, é um filme diferente porém que além de poder fazer com que as pessoas vejam o filme antigo que originou esse e é um clássico do cinema brasileiro, fez as devidas homenagens e agradou por seguir uma linha um pouco fora dos tradicionais de festivais e colocando um ar mais comercial para a trama, o que claro Rogério ficaria muito nervoso, pois ele não era adepto do cinema comercial. Mas é isso, deve ser um longa que passará muito no Canal Brasil então quem tiver a oportunidade assista ele e claro quem não viu o filme “O Bandido da Luz Vermelha” assista pois é bem bacana. Fico por aqui, mas daqui a pouco posto também o outro filme que conferi hoje no Festival SESC Melhores Filmes, que continua até sábado com preços bem acessíveis, então não deixe de conferir na sua cidade. Abraços e até daqui a pouco pessoal.
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