Alguns filmes conseguem seguir uma linhagem tão tocante que as vezes ficamos nos perguntando será que vai acabar também da mesma forma bonita que fizeram até agora ou vão jogar terra em cima de tudo. Pois bem o que "Meu Pé de Laranja Lima", assim como vem acontecendo com essa nova remessa de longas nacionais não decepciona e além de comover com uma história belíssima, consegue ter todos os elementos de uma boa narrativa visual bem elaborada e maravilhosamente fotografada. Eu por exemplo não lembro muito bem nem do livro muito menos da versão anterior, quanto mais da novela que foram feitos na década de 70, portanto vou me ater no que vi hoje e posso falar ser de um primor tão riquíssimo tanto no visual quanto no imaginário que podemos criar junto do protagonista.
O filme nos apresenta Zezé que tem quase oito anos e vive com sua família pobre no interior. Ele é sensível, ele é precoce, ele é um contador de histórias: ele é um problema! Seu esporte favorito é transformar sua casa e a vizinhança em cenário para suas traquinagens. E elas não são poucas. Seu refúgio preferido é um pé de laranja-lima. É com ele que desabafa as coisas ruins que lhe acontecem, que comemora uma boa novidade ou com quem divide suas travessuras secretas. Uma história de amor e amizade tão tocante quanto o mais improvável dos encontros.
A história em si só por conter a forma sofrida de uma família pobre junto do imaginário que uma criança consegue demonstrar já é de um brilhantismo contextual que impressiona, mas não bastasse isso Marcos Bernstein em seu terceiro longa como diretor, depois de roteirizar "Central do Brasil", consegue transformar a história que João Mauro de Vasconcelos escreveu baseado em sua própria história no ano de 68, algo de arrepiar, pois entramos no mesmo clima que o protagonista, vivenciamos sua história, choramos junto com ele e porque não dizer que apanhamos também com suas travessuras. O que o diretor consegue captar tanto na forma que adaptou o livro, quanto na forma que pôs suas lentes para retratar tudo de forma simbólica e mesmo assim não ficar abstrata. E olha que esse é apenas o primeiro trabalho do ano que veremos seu, pois vem ainda mais dois dos filmes mais esperados pelos brasileiros que foram escritos por ele. Então se já era classificado como um cara genial, esse ano tem tudo para ser o grande nome do cinema brasileiro tanto na direção quanto no roteiro.
O pequeno João Guilherme Ávila deu uma declaração de que ninguém nasce pensando em ser ator, mas o que ele não sabia é que sairia tão bem à frente de seu primeiro papel nos cinemas que com certeza emocionou seu pai, o cantor Leonardo, e com isso torço para que o garoto faça muitos papéis no cinema, pois o garoto foi sensacional. Outro que destrói frente às câmeras é José de Abreu, que mostra ao mesmo tempo uma serenidade ímpar e um talento de impressionar qualquer pessoa que não tenha virado ainda seu fã. Eduardo Dascar mesmo que não seja perfeito em todos os momentos, consegue representar bem um pai desmotivado pela vida, e claro mostrar que não é severo daquele modo, mas sim um momento ruim que está passando. Caco Ciocler não chega a ser um dos personagens mais preciosos para a trama, mas sua representação simbólica como o autor original do livro acaba ficando uma homenagem belíssima principalmente pela forma bacana que o diretor opta para fechar o longa. As atrizes acabam sendo mais elementos agradáveis para a trama do que realmente personagens que vá dar alguma segmentação representativa maior, claro que no escrito final isso é desmitificado de uma forma até dolorosa, mas tirando a cena em que pede para ser levada embora dali para o irmão, as demais acabam sendo apenas elementos a parte, mas nem por isso todas deixam de ser belíssimas.
Outro ponto que vale ser ressaltado com muito louvor do longa é a questão visual que conseguiram retratar mesmo que usando elementos mais atuais, um lugar tão pobre que qualquer coisa fora da vida dos personagens dali fariam qualquer um salivar e ficar com vontade de ter, além claro de a cada momento em que Zezé viaja na sua imaginação temos quase uma aula de decupagem cenográfica onde os elementos saltam e criam um visual imaginário que deslumbra o visual em si do nosso imaginário também. A fotografia de Gustavo Hadba é daquelas que você consegue notar a sua técnica de tal forma que gostaria de por num quadro e ficar apreciando, são raros os filmes nacionais que conseguem transmitir essa sensação de paisagem realista, num filme de temática "infantil" e imaginária de forma tão dura que como disse, pudesse ser emoldurada, já que costuma ser sempre o inverso algo mais solto.
Novamente temos um longa onde o famoso pianinho chato que tanto reclamo acaba sendo interessantemente usado de forma que acabou me agradando bastante e claro fazendo sua função tradicional: fazer os espectadores chorarem. Brincadeiras a parte com o piano colocado aqui, junto de outros bons instrumentos, Armand Amar compôs uma trilha perfeita para que lavássemos o cinema.
Enfim, como venho dizendo e já estou até me tornando repetitivo, o cinema nacional vem numa linha de ascensão muito boa e espero que continue assim, pois torço demais para que nosso cinema seja visto com bons olhos. Recomendo demais esse filme, pois é quase uma obra prima que na verdade poderia até ser mais dura se não tivesse sido colocado com censura 12 e talvez uns 14 que poderia explorar até mais de forma elucidativa o rancor que o menino sentiria ao apanhar tanto. Não digo que isso estragou o filme em momento algum, mas talvez seria mais forte um pouco. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje nessa semana que novamente o interior foi boicotado pelas distribuidoras e volto na sexta com a estreia mais esperada por muitos no mundo todo, confesso que pra mim é apenas mais um filme, mas gosto de ver na euforia da galera. Então abraços e até sexta.
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