Já não me convenço mais que Nicholas Sparks escreve seus livros sem pensar em como adaptá-los para o cinema, pois ou o cara está no automático para conseguir escrever um livro atrás do outro, ou o que prefiro acreditar que ele já tenha encomendado uns 50 filmes e pega sua forma de bolo e ataca. Falar isso pode até soar preconceituoso demais, mas o que vemos em "Um Porto Seguro" é praticamente o mesmo que estamos acostumados a ver em todos os filmes que são baseados em seus livros, claro que tirando um fechamento inesperado, que confesso em nenhum momento mínimo ter pensado nessa possibilidade, talvez até reveja o longa para ver se está mais explícito, mas irei pensar mais no caso. O bacana de suas histórias é que sempre seguem a mesma linhagem e isso pode ser uma forma até mais tranquila para quem vá ao cinema já saber o que verá, mas se não derem uma pausa pra que faça algo novo, pode ser que muito em breve comece a cansar e não seja mais tão agradável de assistir ou até mesmo ler seus livros.
O longa nos apresenta Katie que repentinamente muda-se para uma pequena cidade. A presença da nova moradora logo desperta a curiosidade de todos que começam a levantar questões sobre seu passado. Ela, por sua vez, evita qualquer relacionamento mais próximo, até conhecer Alex, um verdadeiro cavalheiro, pai de dois filhos e viúvo. Mas ela terá que lutar para reconstruir tudo que perdeu a medida que seus segredos começam a ser revelados.
A história em si, ao mesmo tempo em que agrada por ter seus lances acontecendo em duas partes distintas, acaba também tirando um pouco do brilho do romance que poderia ser mais forte, tanto que diferente do que costuma acontecer esse romance acabou não me emocionando tanto quanto os demais adaptados dele, claro que estou falando isso sem colocar em evidência o final, pois nesse caso precisa de muita falta de coração para não se comover com a surpresa. Mas tirando esse fato, o longa toma proporções mesmo que em alguns momentos açucaradas, ficamos com mais nuances de algo mais policial, que pelo menos eu fiquei o longa inteiro querendo descobrir o por trás da história mais do que comovido com qualquer ato do romance que estava ocorrendo na frente do pano de fundo que seria o envolvimento policial. Não consegui observar se foi proposital essa quebra de estilo, que não havia visto em nenhum dos outros filmes baseados em suas obras, mas embora seja uma vertente até mais agradável, precisa ser mais trabalhada para que não perca o estilo romântico que sabe fazer tão bem. A direção de Lasse Hallström, que nunca conseguirá chegar perto novamente de "Sempre ao Seu Lado", é bem vista pelos longos planos que ele tenta fazer para que o espectador entre no clima romântico, mas a forma que optou na edição final ficou dinâmica e boa para algo mais próximo de um drama policial com final comovente do que para uma historinha água-com-açúcar que o público provavelmente esperaria de um livro de Sparks.
As atuações estão corretas, mas faltou química para com os protagonistas, não consegui ver um relacionamento forte entre Duhamel e Hough, que seria a base para que o filme fosse mais convincente. Josh Duhamel teve seu ápice de romances em 2010, e ao que tudo parece esqueceu ele lá, e embora tenha 40 anos aparenta ter muito menos em cena, não convencendo nem como um mocinho para estar dando seus pegas, muito menos como pai viúvo de duas crianças, ficando no meio termo das duas coisas que acaba atrapalhando um pouco para a história em si, mas consegue convencer na questão de diálogos bem colocados e no seu gestual para com a trama. Julianne Hough depois de três musicais chega ao seu quarto filme sendo exigida de algo que não é, uma atriz que pode colocar fogo em um romance, não digo que ela não é uma boa atriz, mas sua cara de coitadinha sofrida precisa ser mais bem trabalhada para que possa incendiar e botar química com qualquer ator que seja, o que faz em cena é convincente, mas com outra atriz, talvez o filme decolasse mais. David Lyons está bem encaixado na trama de uma forma tão convincente que quase puxa o longa para si, o que como disse acaba sendo um problema, pois o filme deveria focar mais no romance dos protagonistas do que na busca incessante do policial e o caso que existe por trás de tudo, ou seja sua atuação é ótima, mas deveria ter sido um nível abaixo para não tirar o foco dos maiores. Cobie Smulders faz um papel tão doce e bacana de vizinha que poucas atrizes teriam uma serenidade tão boa para isso, que confesso que colocaria ela em qualquer seriado como vizinha que caberia extremamente bem, sua forma visual também agrada bastante na última parte do filme. As crianças se saíram bem também com destaque para algumas cenas de Noah Lomax que se tudo der certo nas programações dos cinemas, semana que vem voltaremos a falar mais dele em outro filme e veremos se o garoto emplaca duas vezes.
O quesito visual sempre é bem trabalhado nos longas de Sparks, principalmente porque sempre está presente produzindo ou coproduzindo os filmes, afinal o escritor procura sempre mostrar bem o que escreveu. E aqui não é diferente, temos a cidadezinha muito bem retratada como sendo apenas um ponto de passagem de ônibus e nada mais, onde a população praticamente inexiste, tanto que nos créditos nem precisou de muito espaço para o elenco. Os elementos cênicos aparecem a todo momento dando um bom charme para mostrar onde se encontra cada coisa, mas não são ponto chave para muita coisa, tirando as cartas que sempre estão presentes nas histórias de Sparks e nem o fogo numa casa consegue queimá-las. A fotografia de Terry Stacey sempre consegue por o visual em primeiro plano e o que faz com os elementos de luz e chuva aqui impressionam mais uma vez tornando o longa mais preciso impossível quanto a questão fotográfica, em momento algum a luz estoura ou fica escuro demais, é quase um balé de tão orquestrado que o diretor de fotografia consegue transmitir sensações com a iluminação que faz.
Enfim, é um bom filme sim, mas que poderia ser extremamente melhor se tivesse tido uma montagem menos policial e mais romântica que tornaria o filme docinho e cativante ao mesmo tempo e não algo que deixasse tantas incógnitas presas do início ao fim para que talvez precisássemos ver uma segunda vez o filme para se emocionar. Como já disse possui um final muito bonito e com uma surpresa excelente, mas poderia ter sido assim o longa todo que agradaria mais. Bem é isso, fico por aqui hoje, mas amanhã tem mais por aqui para fechar a semana mais boicotada impossível pelas distribuidoras que mandam longas para o interior. Então abraços e até amanhã pessoal.
2 comentários:
Foi um filme muito água com açúcar, muito linear, sinceramente não me empolgou em nenhum momento, de tal forma que a surpresa também não causou nem burburinho no final da sessão.
Olá!! Achei que faltou até açúcar para falar a verdade... o filme poderia ser bem melhor se tivessem adoçado mais ao invés de colocar mais água. Rs.
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