Quando olhamos um cartaz de qualquer animação, a maior parte já classifica o filme como sendo algo para crianças, mas que a maioria dos adultos acaba gostando por ser bonitinho e tudo mais. Esqueçam completamente essa visão e vá ao cinema filosofar, buscar suas origens como diria um professor que tive, e assista "Uma História de Amor e Fúria", um longa metragem de animação que não foi feito para crianças, mas sim para retratar de uma forma mais crua e porque não dizer realística algumas das passagens mais duras da história do Brasil que são mostradas de forma bonitinha nos livros de História.
A história do longa narra o amor entre Janaína e um guerreiro indígena que, ao morrer, assume a forma de um pássaro. Durante seis séculos, a história do casal sobrevive, atravessando quatro fases da história do Brasil: a colonização, a escravidão, o regime militar e o futuro, em 2096, quando haverá uma guerra pela água. Em todos estes períodos, os dois lutam contra a opressão.
O que Luiz Bolognesi faz com a história é algo que de forma alguma vamos lembrar como uma animação simplória que apenas passou por nossos olhos, mas sim uma mensagem de que mais do que tudo vale a pena lutar por um ideal, para que consigamos atingir os objetivos sejam eles quais forem. Algumas pessoas que estão acostumadas com desenhos bonitinhos, onde se dá preferência pelos traços arredondados, podem até sair reclamando do que irão ver ao assistir esse que possui formas mais retas, mas inegavelmente irá esquecer a mensagem que o longa traz logo no começo e a simbologia é retratada diversas vezes no seu decorrer: "Um povo que não conhece seu passado vive o presente no escuro". Por termos quatro pontos da história brasileira, narrados e ilustrados, os saltos podem parecer estranhos, mas a forma escolhida de retratar isso acabou sendo gostosa de ver, pois como num voo de um pássaro ou num voo de avião atravessamos uma parte de tempo, mas mantemos nossa essência de forma inalterada, e isso notamos facilmente, pois embora estejam de forma visual diferente, os personagens mantém seus ideais, e isso achei simplesmente fantástico que o diretor soube dosar.
A narração e interpretação dos personagens feitos por Selton Mello e Camila Pitanga deram um sabor mais especial ainda, como já disse algumas vezes não sou fã do personagem Selton, mas sua voz agrada demais sempre fazendo qualquer personagem ou sendo até mesmo um liquidificador como falei em "Reflexões de um Liquidificador". Outro ponto bacana que a equipe de mixagem ou até mesmo os atores fizeram foi dar uma entonação diferente no timbre das vozes em cada ato, tornando o personagem único para cada momento. Rodrigo Santoro também faz algumas participações, mas é mais difícil reconhecer sua voz nos personagens do que as de Selton e Camila.
A parte visual mesmo que não seja algo como disse com traços bonitos, é facilmente reconhecido onde está ocorrendo cada ato e isso se deve a um grande estudo da História pela direção de arte que trabalhou arduamente para retratar tudo bem feitinho. Claro que cada pessoa irá gostar mais de um ato que do outro, mesmo todos sendo bem caprichados, eu, por exemplo, me apaixonei, mas espero não estar vivo para ver isso, pelo visual futurista que colocaram para nosso amado Brasil, onde a briga pela água faz as pessoas morrerem e se matarem, mas conseguimos ver um ótimo trabalho que pode ser reconhecido vindo de diversos outros filmes futuristas.
A trilha sonora é outro ponto chave da trama, pois ela conduz cada ato com ritmos nativos e bem cadenciados, contando ainda com duas ótimas canções que são usadas nos momentos cruciais para segurar tanto o ritmo quanto colocar mais sentido ainda no texto do diretor.
Enfim, um excelente filme que mostra que o Brasil também pode fazer ótimas animações sem precisar copiar ninguém, com uma história original nossa e principalmente sem precisar agradar ninguém. Dou parabéns para a equipe que acreditou em tudo e fez esse brilhante trabalho, mas claro que infelizmente não poderão esperar um resultado grande para o filme, pois como todos nós sabemos o povo brasileiro não gosta de saber seu passado, então torço muito para que lotem cinemas, eu mais do que tudo recomendo muito a todos, mas o tino comercial ficou devendo para chamar mais público ao cinema. Fico por aqui hoje, pois acabaram as estreias, mas na segunda estou de volta com mais filmes do Festival SESC Melhores Filmes. Abraços e até breve pessoal.
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