O que vou falar aqui até pode soar irônico, visto que esse filme é a terceira adaptação para o cinema do texto original de Nelson Rodrigues. Já aviso de antemão que não vi os outros dois para poder comparar, mas o que consigo enxergar plenamente é que é "Bonitinha, mas Ordinária", cairia muito melhor numa peça ou até mesmo numa mini-série do que num filme, pois é um texto onde o ator precisa ser explorado para convencer, e no cinema são raros os atores que conseguem explodir de forma tão precisa, onde acabamos falando que o longa nem é mais do diretor, e sim do ator que tem a presença tão marcante que rouba o filme pra ele, o que em hipótese alguma acontece nessa versão, que o diretor até tentou fazer planos mais fechados para convencer, porém acabamos ficando tão envoltos com o texto que o ator acaba sendo esquecido em segundo plano, e com isso o longa acaba bem fraco.
O filme nos mostra que Edgard trabalha como subalterno na empresa do milionário Werneck e é apaixonado por Ritinha, uma mulher simples que trabalha como professora para sustentar a mãe e suas três irmãs. Um dia Peixoto, genro e funcionário de Werneck, lhe faz uma proposta para que se case com Maria Cecília, filha do patrão. O motivo é que Maria Cecília foi currada e agora precisa de um noivo, mesmo que seja comprado. Edgard hesita, mas aceita a proposta. A partir de então ele entra em uma grande dúvida: deve depositar o cheque e se casar com Maria Cecília ou ficar com Ritinha, seu grande amor?
A história em si é bacana e mesmo não sendo dos meus textos favoritos do Nelson Rodrigues, a forma adaptada dele por Moacyr Góes, que assina a direção também, ficou bem interessante, porém como disse o texto é daqueles que o ator precisa ser maior que o próprio roteiro, e como a direção de Góes pecou muito nesse quesito por não dominar os atores no seu máximo, principalmente o papel de João Miguel, que é um mega ator, mas acabou forçado. Acredito que se essa mesma adaptação, tirando certos exageros visuais, fosse colocado em uma peça, inclusive com os mesmos atores, teríamos uma verdadeira obra prima, que seria recorde de bilheterias, mas do jeito que está no cinema, nem mesmo num dia de ingresso mais barato o que se viu foi uma sala com 8 pessoas que pareciam mais estar interessadas em olhar celulares com luzinhas acendendo a todo momento do que ver o filme realmente.
Quanto das atuações, eu diria que foram corretas, sem que pudessem sobressair em momento algum, mas na medida que se pode avaliar, poderia ter saído melhor todos com um pouco mais de dedicação. João Miguel, como disse tem tudo para ser um grande ator dramático brasileiro, mas anda derrapando demais em nas suas escolhas de papéis, fazendo pra cada filme excelente, dois péssimos, e desse jeito não vai chegar ao topo nunca, aqui o filme poderia ser dele, mas foi apenas um ator comum. Leandra Leal é a que se sai melhor da trama toda, fazendo um papel meigo que exigiu bem da atriz e ela soube aproveitar todas as nuances que poderia ter sem pesar na expressão nem nos trejeitos, é apenas uma pena que seu papel seja "secundário", senão poderia ter dado uma boa guinada no filme. Leon Goes faz algumas boas cenas, mas no geral é outro personagem que poderia ter dado melhores insinuações para a câmera, acabando como mediano pra baixo. Gracindo Junior é um ator que costumo gostar das atuações que faz, sempre saindo bem fiel ao personagem que faz, porém aqui ele não representa bem nem o empresário xarope das primeiras cenas, muito menos um pai que quisesse alguém para sua filha, ficou praticamente em cima do muro. Letícia Colin tem 23 anos, mas representou quase uma garota de 12-14 anos da atualidade, só não digo que isso foi bom, porque incomoda alguns momentos, mas soube finalizar bem sua cena final, então ficou de mediana pra cima.
Se eu falar que o visual do filme é qualquer coisa eu estaria mentindo, pois o diretor nesse quesito se eu sou da equipe técnica depois de ver o resultado final iria querer matar ele, pois 98% do filme é feito em closes, ou no máximo planos médios, e com isso não temos noção nenhuma do espaço por onde o longa se passa, ou seja, se teve alguma coisa no cenário que quisessem nos mostrar, tirando o cheque, não foi mostrado e com isso, não irei avaliar nada nesse quesito. Quanto da fotografia, é outro ponto que poderia muito ser melhorado, tudo bem que a impressão de lugar sujo que o diretor gostaria de transmitir foi passado, mas poderia ter sido muito melhor iluminado as cenas, tanto que além de estarmos sempre com closes, na maioria das vezes ainda está tão escuro, que temos praticamente forçar a vista para imaginar o que o ator possa estar representando. Ou seja, no quesito técnico o diretor decretou sua morte.
Enfim, um filme que poderia ser anos-luz melhor, pois contém uma história de peso onde o ator poderia sair aplaudido de cena, mas que foi mal dirigida de tal forma que podemos dizer que quem foi assistir praticamente perdeu tempo na sala do cinema. É triste dizer isso, pois o diretor disse em uma entrevista que esse é o filme dele que mais pode representar sua direção, então irei preferir não ter ouvido isso, já que prefiro outras obras suas e até mesmo "Xuxa Abracadabra" foi melhor dirigido por ele. Fico por aqui hoje, mas na quarta já temos um dos filmes nacionais mais esperados de todos os tempos, então veremos se vai atender mesmo às expectativas. Abraços e até mais pessoal.
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