Muitos não conhecem a preparação que atores fazem tanto para entrar em um palco ou em um filme, mas se estiver a fim de conhecer, um bom exemplo, embora de forma bem cômica, é assistir ao filme "Pedalando com Molière" que o nome original explica até melhor tudo que é feito no longa, ou seja, interpretando Alceste, um dos personagens do texto "O Misantropo" do escritor Molière, em cima de uma bicicleta. O longa para quem não gosta muito de textos praticamente lidos e interpretados, pode até cansar um pouco, mas a forma de interação entre os protagonistas é muito bacana e diverte na medida fazendo com que mesmo eles lendo textos nos divirtam com tudo que fazem. Literalmente um filme de atores, onde pouco importa a história que está se passando que os protagonistas conseguem fazer muito mais pelo filme.
A sinopse nos mostra que cansado da carreira de ator, o respeitado Serge Tanneur decide abandonar os palcos e se aposentar, vivendo isolado na pequena Ilha de Ré. Sua calma é interrompida pela chegada de Gauthier Valence, ator de televisão popular, que o convida a interpretar o papel principal em uma adaptação de "O Misantropo", de Molière. Afinal, a nova condição de Serge combina muito bem com o personagem clássico... Após a recusa inicial, Serge propõe um desafio: ambos devem ensaiar a primeira cena da peça juntos, nos papéis de Philinte e Alceste, e depois de cinco dias treinando, ele dará a resposta sobre sua participação. Começam assim os jogos de poder e manipulação entre os dois homens.
Esse jogo que ambos os atores fazem no filme acaba se tornando a grande diversão do filme e chega a ser impressionante o que ambos fazem num "simples" ensaio, cada um tentando levar vantagem sobre o outro e vice versa, de forma que a condução da história vai indo num crescente tão forte que chegamos ao meio do filme sem saber que proporções o longa poderia tomar, ainda bem que teve uma finalização cabível, senão estaria aqui reclamando demais do que vi. Pelo que li em outros sites, a história saiu da discussão de Philippe Le Guay com o ator Fabrice Luchini durante as gravações de outro filme, e provavelmente deva ter ocorrido bem nesse estilo que nos é mostrado a conversa entre ambos, pois atores sempre tentam levar vantagem em algo e adoram fazer jogos, com isso uma simples discussão acabou dando um filme bem inteligente e bacana de ser assistido.
Os atores fazendo papéis de atores é algo preciso que poucos conseguiriam fazer, e ambos escolhidos destroem em cena como dois monstros, um tentando ser melhor que o outro e agradando demais os espectadores que forem ver essa comédia. Fabrice Luchini, eu tenho impressão de já ter visto diversas vezes no cinema, mas olhando sua filmografia não consigo me lembrar bem quais filmes me marcaram tanto para lembrar dele, mas vamos falar do que faz aqui, pois chega a ser irritante, no sentido bom da palavra, o que faz com seu colega de cena, sua expressividade e trejeitos dão um show a parte para com seus textos de forma a ficar genial sua atuação. Lambert Wilson está diferente já aparentando a velhice dos seus 55 anos, mas ainda cabe bastante no papel de galanteador com uma cabeleira charmosa e a tradicional ótima atuação que já conhecemos e vimos em diversos filmes, e aqui não seria diferente, fazendo um papel que mostra como muitos atores no auge da fama são facilmente levados por papos e acabam se atrapalhando com tudo que fazem, está excelente o que faz. Maya Sansa tem uma participação boa em algumas cenas, tendo uma forte expressividade na sua primeira cena, mas depois acaba ficando bem de coadjuvante mesmo não tendo mais tanta eloquência para com os protagonistas, sumindo um pouco de cena.
O local onde o filme se passa é maravilhoso e como o personagem de Luchini fala em uma cena, não tem como não passear por lá de bicicleta, afinal deve ser uma delicia passear por aquelas praias como paisagem de fundo para uma boa pedalada. Os elementos cênicos que são mostrados acabam retratando bem a vida de Serge e a sua primeira cena pode ser vista quase como uma metáfora do elemento que é mostrado que é a fossa aberta, como um ator que foi literalmente jogado à merda. E a direção de arte trabalha bastante o filme com várias outras metáforas sendo usadas em objetos cênicos, o que é maravilhoso de se ver num longa. A fotografia poderia ter abusado um pouco mais, mas também não faz o básico agradando com o pouco além em algumas cenas na praia, mas como a locação que é o principal acaba sendo nada demais.
Enfim, é um filme bem bacana que agrada mais pelo elenco que devora magistralmente nas atuações do que pela história em si, mas vale a pena ser visto principalmente para que se conheça como atores se preparam para peças, mesmo que precisem pisar um nos outros. Vale também pela diversão que nos é passada como uma comédia bem tradicional sem precisar de apelos, tirando a cena da banheira completamente desnecessária, para nos fazer rir. Bem é isso, encerro aqui minha participação no Festival Varilux de Cinema Francês hoje, faltando apenas 3 filmes para serem vistos, mas que agora durante a semana verei mais espaçado do que essa maratona de 12 filmes que fiz no fim de semana, espero ter deixado bem exposta minhas opiniões dos filmes que estarão também repetindo durante a semana para que todos vejam o que achei e vá ao cinema conferir também e opinar junto aqui no blog. Durante a semana estarei postando esses 3 últimos além claro de outros filmes que não fazem parte do Festival. Abraços e até logo mais.
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