Uma Dama em Paris

5/06/2013 04:56:00 PM |

Poucos filmes que fogem dos gêneros tradicionais costumam me agradar, mas não consigo classificar "Uma Dama em Paris", nem como um romance, nem como um drama, e o longa me agradou bastante, tanto pela quantidade de cultura francesa que ele dispõe, principalmente para turistas, como pela forma de ser sutil com uma história agradável, leve mas que não é boba suficiente para acabar jogada num canto. Todos sabemos que lidar com idosos é difícil, por isso tiro o chapéu para pessoas que se propõem a cuidar deles, e aqui o que vemos é uma senhora que teve uma vida complicada, não tendo muito entrosamento com amigos, filhos, parentes nem nada e que acaba dificultando a vida da mulher que vem de outro país sendo contratada para cuidar dela, e o envolvimento nesses casos acaba sendo algo bem difícil, que o longa acabou tratando muito bem com luvas de seda para não ser doloroso demais.

A sinopse nos mostra que a estoniana Anne é contratada para cuidar de uma senhora de idade, a também estoniana Frida, que mora há muitos anos em Paris. Apesar de todo o esforço em trocar o seu país natal pela França, Anne é mal acolhida por Frida, que não quer ser ajudada. A única preocupação desta mulher é conquistar novamente Stephan, seu antigo amante. Juntas, elas descobrem a amizade e o prazer de se sentirem novamente sedutoras.

A história em si é bem simples, mas funciona bem e dos filmes que estão passando no Festival Varilux, para os alunos de francês que estão acompanhando para conhecer mais a cultura, acredito que esse deva ser o melhor de todos para isso, pois mostra muitos locais conhecidos, mostra a dificuldade que alguns imigrantes sofrem e até mesmo coloca o espectador na pele da protagonista ao se ver rejeitada mesmo fazendo um bom serviço. O diretor Ilmar Raag, estoniano também teve como inspiração sua mãe que foi para Paris cuidar também de uma senhora, e com isso ele soube fazer com todo cuidado possível um filme interessantíssimo que pode mostrar uma Paris diferente que não estamos acostumados a ver em filmes, mas claro também se preocupando em não deixar de lado o brilho da cidade. Sua mão foi afinada para que tudo saísse de forma singela e bonita, deixando o longa com a sua cara realmente, pois até hoje não havia visto um filme ser simples e tocante com essa leveza, mesmo se tratando de uma história dura que é a velhice de alguém que possa ter feito sucesso no passado sendo bonita e sedutora.

As atrizes principais dão literalmente um show de leveza e interpretação. Laine Mägi chega a ter momentos em que a câmera fecha um plano médio nela que dá vontade de acolher, de abraçar e ficar triste junto pela forma que é rejeitada pela sua patroa, mas também consegue manter sua postura forte sem chorar, o que aconteceria em qualquer outro filme que necessitasse disso para emocionar os espectadores e mesmo não lavando a tela ela consegue tocar o espectador fundo. Jeanne Moreau é uma lenda viva do cinema francês, tendo diversos filmes imensamente tocantes em seu currículo e consegue aqui colocar todo seu charme aos 84 anos de uma forma impecável, que diria até ser ela interpretando ela mesma, com todos seus grandes amantes no passado, hoje deve estar sofrendo todos os problemas da idade, mas ainda assim consegue dar uma atuação de cair o queixo, perfeita. Patrick Pineau aparece nos momentos certos e faz um trabalho muito bem encaixado para a trama, seu momento nas cenas finais junto de Moreau é algo tão singelo que beira o romântico perfeito, não poderia ter sido uma cena melhor.

O visual do longa foi muito bem pensado para não mostrar uma Paris tradicional que vemos em todos os guias para turistas e em outros filmes, tendo locações bem escolhidas para retratar tanto a visão da protagonista quanto para mostrar que a cidade também pode ser um lugar habitável que não necessite visitar todos os dias os pontos turísticos dela. E com isso o diretor fez ganhar meu respeito por ele, dando esse ar gostoso para a trama com tudo que escolheu. A fotografia soube trabalhar bastante com contraluz para dar um clima pesado em alguns momentos e isso é bem interessante, pois poderia ter sido feito o filme sem problema algum todo bem iluminado, mas não daria a mesma alma que conseguiram elucidar aqui.

Enfim, não é um filme tradicional que vá fazer você sair falando nossa assisti um filme que me fez valer o dia, mas também não é algo que será esquecido facilmente por quem for conferir, pois como disse traz toda essa alma de que ao envelhecer, as pessoas acabam esquecendo de nós justamente quando mais precisamos delas, e devemos também saber manter nossos amigos de forma que tenhamos quem nos amar quando chegarmos no fim. Bom pelo menos pra mim foi essa a lição que o longa conseguiu transmitir e de uma forma bem bacana sem precisar apelar nem um pouco. Fico por aqui hoje no Festival Varilux, já temos vários textos aqui para que você escolha sua próxima sessão, agora irei conferir uma estreia aqui do interior bem atrasada por sinal, mas amanhã a noite estou de volta com mais filmes do Festival. Abraços e até daqui a pouco.


2 comentários:

Adilson disse...

Na sua cidade está passando Em Transe? Gostaria de ler sua opinião sobre este filme. Abraço!

Fernando Coelho disse...

Olá Adilson, infelizmente não veio ainda. Espero que venha logo, pois andei vendo boas opiniões sobre ele!! Chegando aqui é no mesmo dia!! Abraços!

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