Ultimamente grandes atores têm saído de frente das câmeras para atacar atrás delas, e o melhor é que não andam fazendo feio de forma alguma, muito pelo contrário, todos têm mostrado que aprenderam muito com outros grandes diretores. O mais novo exemplo é o grande Dustin Hoffman que consegue fazer de "O Quarteto", uma surpresa agradável e deliciosa de assistir, emocionando a todo momento com sutilezas e simplicidades que jamais esperaria ver num filme desse estilo. Ele poderia atacar a história de várias maneiras, afinal tinha tudo para ser um dramalhão do melhor estilo, mas preferiu ser dócil e botar toda a comédia que conhece tão bem para frente de um tema mais do que polêmico que é a vida sadia na terceira idade, ainda mais num lugar cheio de egos a flor da pele.
O longa nos mostra que Cissy, Reggie e Wilfred vivem em um lar para músicos aposentados. Diversas personalidades famosas, hoje aposentadas, convivem juntas, treinando seus dotes musicais e relembrando os tempos de sucesso. Todos os anos a casa realiza um concerto para recolher fundos que permitem a sobrevivência da instituição. A celebração, é claro, é feita com apresentações musicais. Porém, quando Jean, ex-esposa de Reggie, integra a casa de repouso, a harmonia do local é quebrada. Enquanto os organizadores da festa vêem na presença de Jean uma oportunidade única de refazer o famoso quarteto que interpretou Rigoletto, com Cissy, Reggie e Wilfred, a nova habitante recusa-se a cantar. As amizades e os amores de antigamente são questionados na tentativa de convencê-la.
A história do brilhante Ronald Harwood embora seja bem simples é minimalista em diversos aspectos, onde qualquer diretor que quisesse poderia fazer pelo menos uns três filmes diferentes, usando somente o mesmo esqueleto, mas por sorte do destino acabou sendo escolhido para ser a estreia de Hoffman na direção, que pode abusar de um lado mais emotivo da história, sem precisar transformá-la num drama pesado, usando apenas a própria comicidade que é o "fim" da vida para artistas ao se aposentarem e irem todos para uma mesma instituição. O mais interessante da trama é que mesmo o terceiro ato sendo um pouco delongado com todas as apresentações dos velhinhos, ele acaba se tornando charmoso e emociona completamente com sua finalização. Com isso Hoffman mostra que possui uma boa mão para dirigir roteiros desse estilo e quem sabe não vire um novo Woody Allen?
As atuações estão maravilhosas e não tiraria o mérito de nenhum ator do elenco, onde até mesmo os que menos aparecem tiveram uma ótima parcela de emoção com tudo que fazem na tela, representando da melhor forma a velhice e a aposentadoria de artistas, visto que todos praticamente estão na mesma idade dos personagens realmente, ou seja, a única diferença é que o asilo é para músicos e no caso temos atores ali nos fazendo emocionar com tudo. Mas vamos falar um pouco sobre os principais: Maggie Smith conseguiu sua indicação ao Globo de Ouro por esse filme e não é por menos, está divina com uma atuação cativante e bem colocada, mostrando que ego de artista pode ser mantido até mesmo na velhice. Pauline Collins conseguiu mostrar o que o Alzheimer é de tão doloroso para as pessoas que estão próximas delas, foi emocionante, comovente e tudo mais que possa falar da atriz, uma graça de atuação aliada à uma fofura de atriz. Tom Courtenay consegue passar toda seriedade possível para seu personagem de forma a até em alguns momentos ficarmos nervosos com o que faz, mas tem uma ótima finalização, além de ser perfeito como palestrante para jovens, explicando exatamente qual o sentimento de uma ópera. Billy Connolly achei que já tinha ido até pra vala, afinal fazia muito tempo que não via uma grande atuação sua, e aqui seu papel é hilário, perfeito e tudo mais que pudesse dizer, encaixando de uma forma incrível com todos aqueles velhinhos que rimos de ver chegando em todas, mas que não tem mais tanta bala na agulha. Enfim, como disse timaço de atuação.
O visual do longa foi bem trabalhado e mesmo ficando praticamente todo num único local, a equipe de arte conseguiu colocar pontos interessantes para a trama completa e o fato do show de talentos no final ser no mesmo local me agradou bastante mesmo ficando mais simples do que poderia ser, mostrando que a situação financeira da instituição que mesmo estando num lugar maravilhoso, é precária. Todos os elementos cênicos condizem com a realidade da produção, tudo em baixo custo, com instrumentos desafinados e tudo mais que possa demonstrar a decadência da instituição. A fotografia não só soube dar um show, como trabalhou de forma magistral, as cenas externas, principalmente na cena embaixo da árvore é maravilhosa no quesito iluminação, de forma a emocionar totalmente já ali.
O gosto musical escolhido é de um requinte ótimo, afinal estamos falando de uma casa de repouso de ex-músicos, e como esse ano entrei mesmo em diversas óperas passei a gostar mais ainda do estilo clássico que é mostrado muito bem aqui nessa produção.
Enfim, uma estreia mais que perfeita para Dustin Hoffman na direção, com um elenco maravilhoso e que fez um filme excelente. Recomendo muito que todos vejam, aqui está passando no Cinecult, afinal a estreia nacional foi a 90 dias atrás, ou seja, logo estará nas locadoras para que todos assistam. Meu único pesar mesmo é que a Diamond não estreou aqui em Março, já que veio com poucas cópias e poderiam ter agilizado, mesmo que bonito o terceiro ato, mas só tirando isso tudo é mais do que perfeito. Encerro aqui hoje, me preparando tristemente para apenas um filme na semana que vem, ou seja, teremos poucos posts por aqui. Fiquem com meus abraços e até breve com a única estreia por aqui.
3 comentários:
Fernando, acho que você está centrado na estreia de "Antes da Meia-Noite", que parece ser muito bom, mas se eu fosse você faria de tudo para não perder a sessão de "O Som ao Redor", programado para a Cinépolis nesse sábado, 15/06, às 19h30, com a presença do diretor Kléber Mendonça Filho, conforme programação da Feira do Livro. É imperdível!!!!! Boa sessão!
Então Rodrigo... queria muito ver ele, mas não estarei em Ribeirão no final de semana... terei de torcer para que o filme venha outro dia em circuito comercial para assistir. Fiquei muito triste com isso, mas não consegui mudar o compromisso que tenho em outra cidade no sábado a tarde. O "Antes da Meia-Noite" irei conferir na sexta-feira. Abraços!
Rodrigo, irá entrar em circuito comercial agora nessa sexta no Cinépolis Ribeirão o filme "Som Ao Redor"... irei conferir e falarei dele em breve. Abraços!
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