É uma questão de gosto, mas prefiro mil vezes Pedro Almodóvar fazendo drama e suspense do que comédia, não que ele não faça boas comédias, mas geralmente acabam ao mesmo tempo que engraçadas, sempre forçam a barra para algum lado, e embora isso soe de forma crítica com a sociedade juntando muitas metáforas durante sua trama, "Os Amantes Passageiros" acaba ficando um pouco pesado em certos momentos com toda a ironia que é colocado. Mas mesmo não fazendo o seu melhor Almodóvar ainda consegue bater forte em muitas comédias que acabam saindo no mercado e com isso claro fazer o que é de priori numa comédia: fazer o espectador rir bastante.
A sinopse é bem simples, afinal não tem muito que ser dito sobre ele: dentro de um avião fora de controle, um grupo de personagens excêntricos acredita estar vivendo suas últimas horas de vida. Em meio ao desespero geral, eles começam a fazer confissões inesperadas sobre seus pecados e suas últimas vontades.
A história se não contasse com tanta excentricidade, acredito que seria bem mais light e interessante, mas o diretor optou por colocar num único avião os comissários de bordo mais gays e bêbados que você pudesse imaginar, uma dominatrix famosa, um político corrupto, um assassino de aluguel, dois pilotos com dúvidas de sua masculinidade, uma vidente virgem e um casal de recém-casados que a mulher possui distúrbios de sexomnia (pessoas que fazem sexo enquanto dormem). Pronto misture tudo isso que escrevi dentro de um avião com problemas e polvilhe com as ideias malucas de Almodóvar e saberá exatamente o que esperar do filme. Claro que existem piadas e situações muito bem colocadas e divertidas, mas a forma que tudo foi colocado de uma vez num único filme acabou pesando de uma maneira até estranha, tanto que um cara que estava na mesma sessão que fui resumiu o longa de uma forma até pesada demais: "O trem do Zorra Total com bons atores e um ótimo diretor". Os planos escolhidos pelo diretor também agradam bastante, utilizando pouquíssimas vezes a câmera estática, conseguindo com isso um ritmo interessante para a trama.
O elenco em suma está quase sempre presente nas obras do diretor e claro que com isso sabem fazer bonito em todas as cenas, pois já sabem bem o gosto pessoal dele. Mesmo com uma pequena participação logo no início, Antonio Banderas e Penélope Cruz agradam no que fazem, e claro que se prestarmos atenção na sua cena já ficamos ligados para o que irá acontecer mais para frente. Antonio de la Torre faz um personagem com poucas aparições, mas é bacana a emoção que demonstra no telefone, além de ser um elo interessante com o personagem de Javier Cámara. Falando em Cámara, sem dúvida alguma é o melhor de todos dentre essas maluquices que o diretor pôs, fazendo ótimas expressões, dialogando de forma convincente e com isso agrada a todos, divertindo sem precedentes. Hugo Silva é interessante pois consegue trabalhar bem tanto com a dúvida de sua masculinidade quanto com a bebida, e com isso acaba divertindo o espectador que gosta de coisas mal-feitas. Cecilia Roth acaba recaindo sobre exageros demais em seu personagem, não sei se era bem isso que o diretor esperava de seu personagem, mas achei que soou muito falso. José Luis Torrijo até tenta aparecer, mas seu personagem consegue perder o interesse na trama até mesmo para o casal de noivos. Guillermo Toledo faz suas cenas no melhor estilo de galã de novela, o que aliás é o seu papel, ele aparece, faz o que tem de ser feito e some, tanto que algumas cenas que os protagonistas estão zanzando pelo avião, ou ele estava no banheiro ou simplesmente furou nas filmagens. Lola Dueñas faz mais um ótimo personagem com o diretor, afinal está em quase todos os filmes do diretor e seu sorriso cativa o olhar sobre ela, e com isso acaba agradando bastante nas cenas em que aparece. Carlos Areces faz um personagem bem caricato e agradável, mas ainda prefiro ele em "Balada do Amor e do Ódio". Raúl Arévalo é um ator esquisito que poderia ter agrado mais, e suas duas cenas mais intrigantes acabam sendo apenas imaginativas. Dos demais apenas Paz Vega e Blanca Suárez que estão fora do avião e conseguem fazer um papel interessante também, de forma que ambas conseguem comover com a expressão que fazem apenas em três pontas no filme.
Como o longa se passa praticamente todo dentro do avião, tirando quatro pequenas cenas, a equipe de arte não teria praticamente dificuldade nenhuma não é mesmo? Ledo engano, procure na internet toda a cenografia usada e verá que até construir um protótipo de avião para que tivessem as dimensões exatas das cenas, eles fizeram, colocando decorações interessantes e trabalhando muito com cores diferentes para ilustrar cada cenário do avião em que se passa cada cena. As cores foram muito bem escolhidas pelo diretor e pelo fotógrafo, pois mesmo trabalhando de forma bem colorida, acabou não pesando no tom do conjunto em momento algum, e isso fez com que o filme ficasse bem leve e agradável de assistir.
Enfim, é um filme diferenciado não só por ser do grande mestre que é Almodóvar, mas também por agradar e divertir na medida. Claro que como disse, ele pesou a mão em querer colocar tanta excentricidade junta num único filme, mas mesmo assim acabará agradando a todos que forem assistir. Recomendo o filme para todos, mas com uma ressalva para aqueles que tiverem qualquer preconceito homofóbico que passe longe das salas que estiverem exibindo o filme, pois o arco-íris domina no filme com beijos entre homens e tudo mais. Fico por aqui hoje, mas amanhã cedinho volto com mais uma première que irei conferir junto da Rádio Difusora, então abraços e até amanhã.
2 comentários:
Nossa, coelho, não gostei! Sei lá, o filme é esquisito não mostra muito a que veio...ou eu não prestei atenção direito rsrs
bom, gosto é gosto...
Olá Cê! É normal acontecer isso nos filmes do Almodovar, ou você ama ou não gosta, raramente existe o meio termo... mas ainda prefiro os dramas dele, que mesmo sendo estranhos, a esquisitice acaba sendo útil. Abraços!
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