Uma coisa que posso dizer dessa nova versão de "Anna Karenina" é que esse texto de Tolstoy vai ter ainda mais umas 200 versões e sempre um será diferente do outro, e quando achamos que já fizeram de forma mais inusitada possível, sempre virá um diretor que conseguirá deixá-la mais complexa ainda. Não se assuste ao ler essas primeiras palavras sobre o filme, pois mesmo sendo um filme com linguagem bem difícil e ao mesmo tempo estranha, acaba sendo bem interessante a forma que trabalha com a oposição do que é o amor e o que é o pecado da traição visto de uma forma que embora bem machista, acaba sendo leve se jogado ao olhar diferenciado de um único personagem. O longa é interessante, bonito, bem atuado, porém extremamente cansativo, seus 129 minutos parecem inacabáveis, mas conseguem fazer um fechamento decente.
A sinopse nos situa no Século XIX. Anna Karenina é casada com Alexei Karenin, um rico funcionário do governo. Ao viajar para consolar a cunhada, que vive uma crise no casamento devido à infidelidade do marido, ela conhece o conde Vronsky, que passa a cortejá-la. Apesar da atração que sente, Anna o repele e decide voltar para sua cidade. Entretanto, Vronsky a encontra na estação do trem, onde confessa seu amor. Anna resolve se separar de Karenin, só que o marido se recusa a lhe conceder o divórcio e ainda a impede de ver o filho deles.
Como vocês podem ler acima, a típica história do casamento infiel tradicionalmente machista, onde o homem que trai é o bom e a mulher que trai deve ser castigada, que já foi muito batida em diversos filmes e livros, porém é interessante ver aqui que o diretor Joe Wright soube trabalhar de uma forma bem interessante com as duas vertentes que possui no seu enredo, de maneira que o personagem Levin possui uma visão completamente diferenciada tanto na forma de pensar quanto em suas cenas finais que agradam muito por colocar ideias novas numa época difícil de lidar com esses pensamentos tradicionalistas. Outro fato interessantíssimo foi como trabalhou os planos cênicos, utilizando das cenas saindo do palco e indo para um fundo real e vice-versa, deixando os espectadores quase malucos achando que tudo se passa numa peça, e isso ficou magnífico com os planos quase sequenciais, enriquecendo a linguagem de uma forma perfeita e ímpar de se ver nas telas do cinema.
As atuações estão incríveis de uma maneira que impressiona tudo que os atores fazem. Keira Knightley é interessante, misteriosa e tudo mais que a personagem pedia, só poderia ser mais convincente nas cenas que toma morfina, pois nunca vi ninguém ficar daquela forma. Jude Law está mais calmo do que nunca chegando a irritar sua forma de agir, mas como o personagem pedia é maravilhosa a forma que interpreta e mais uma vez mostra que pode fazer qualquer personagem nos cinemas que irá agradar. Aaron Taylor-Johnson conseguiu me impressionar, principalmente agora que estou lendo que outros personagens ele já fez, em hipótese alguma liguei o nome à pessoa, simplesmente incrível sua atuação fria de catador incomensurável de mulheres e como disse não reconheci de forma alguma o mesmo garoto que fez "Kick-Ass" e com isso mostra que pode ser qualquer personagem de maneira incrível. Domhnall Gleeson é o grande contraponto da trama e sua forma romântica e centrada é perfeita para o personagem, sem dúvida na minha opinião foi dele uma das melhores cenas do longa ao estar apenas olhando sua mulher cuidando de seu irmão. Os demais personagens de Ruth Wilson, Kelly MacDonald, Matthew MacFadyen e Alicia Vikander estão bem colocados, mas não se destacam muito, apenas fazendo com que a trama gire e ligue os pontos com os protagonistas. Outro ponto bacana são os figurantes à cada momento trocando de roupa e sendo outros personagens na melhor forma do teatro antigo, literalmente um show.
A parte visual do longa como disse é algo muito interessante, pois nunca tinha visto um filme mixar cenas abertas com cenas dentro de um teatro, o que acaba dando uma perspectiva diferenciada tanto no olhar técnico quanto na forma inteligente que a equipe soube construir. Claro que o sair do teatro algumas vezes dá aquele alivio da pressão total, senão teríamos um filme claustrofóbico. E com esses planos completamente malucos, o diretor de fotografia não só impressiona pela técnica usada como transforma a variação da iluminação em algo brilhante. E essa sacada do teatro ficou mágica, onde temos a cenografia sendo alterada praticamente ao vivo, o que não deve ter acontecido, mas que fez com que muitas vezes tivéssemos diversos planos-sequências do melhor estilo possível. O longa que foi indicado à quatro Oscar: Fotografia, Trilha Sonora, Design de Produção e Figurino, onde ganhou apenas nessa última categoria, afinal é excelente os trajes dos personagens e não teria como perder. Além dos 4 Oscar foi indicado a mais 27 outros prêmios e levou mais 13.
Enfim, é um filme que quem gosta de filmes de época vai gostar muito e aqueles que não gostam de filmes diferentes do tradicional vão acabar ficando bem confusos com o entra e sai do teatro mudando cada hora de um personagem pro outro. Recomendo ver ele mais em casa, que dá para parar e rever algumas cenas do que no cinema, mesmo porque ele foi lançado em 15 de março no Brasil e a Universal só mandou agora para o interior através do Cinecult, então muito em breve deve estar nas melhores locadoras para que todos possam ver, mas quem for de Ribeirão Preto e quiser, ele fica em cartaz nas próximas terças e quintas no Cinemark. Fico por aqui, essa semana que está iniciando hoje já vi todos que estrearam por aqui nas pré-estreias, mas nem por isso irei deixar meus leitores sem uma crítica no site, então amanhã irei ver a pré de mais uma animação que chega com tudo para as férias da garotada. Então abraços e até amanhã pessoal.
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