8/08/2013 12:30:00 AM |

É interessante que hoje foi aberta a fase de inscrição dos longas brasileiros que querem se candidatar à indicação nacional para o Oscar e depois de muito tempo eis que apareceu aqui na cidade o indicado chileno que concorreu à premiação deste ano, o filme "No", e o que podemos falar à respeito disso é bem simples, pois mesmo torcendo para que o cinema nacional cresça, estamos ainda muito longe de conseguir fazer algo com um primor tanto técnico quanto com conteúdo que vá realmente valer a pena uma indicação que seja considerada lá fora, pois o chileno é impecável, divertido, contundente, bem produzido e filmado, e além de tudo mostra um ponto monstruosíssimo que não podemos deixar de observar nas cenas finais, a pessoa mais importante por trás de uma história, o nome criativo simplesmente não leva os louros da glória, enquanto aqui estamos acostumados que todos querem aparecer. Portanto vamos pensar um pouco nisso antes de realmente fazermos um filme que seja o nosso nome realmente em jogo lá fora.

A história nos posiciona no Chile em 1988. Pressionado pela comunidade internacional, o ditador Augusto Pinochet aceita realizar um plebiscito nacional para definir sua continuidade ou não no poder. Acreditando que esta seja uma oportunidade única de pôr fim à ditadura, os líderes do governo resolvem contratar René Saavedra para coordenar a campanha contra a manutenção de Pinochet. Com poucos recursos e sob a constante observação dos agentes do governo, Saavedra consegue criar uma campanha consistente que ajuda o país a se ver livre da opressão governamental.

Um dos fatores mais bacanas da história é a forma que ela foi contada, pois coloca o espectador praticamente por trás das câmeras, vendo o processo criativo, a ideologia das mentes brilhantes que estão criando algo para defender os ideais de quem os contrata, e entre aspas é bem isso o que anda acontecendo no Brasil ultimamente, com alguns defendendo uma forma de revolução, outros são contra e a mídia faz o que lhe é mandado pelos publicitários de campanha, sejam do governo ou da oposição mesmo, e a história que se formos ver poderia ser resumida imensamente para não cansar, tem uma duração bem razoável e ainda assim não cansa, muito pelo contrário, fazendo a cada momento com que nos interessemos mais ainda por tudo que é mostrado. O diretor Pablo Larraín acerta a mão de tal forma que cada ângulo escolhido para retratar sua opinião fica digerível e soa sem preconceitos, agradando em demasia com tudo que é mostrado, o que poucos conseguiriam sem opinar muito para um lado só, e isso ficou muito bacana de ser visto.

A atuação de Gael García Bernal é ímpar de tal forma que é capaz de depois desse filme nunca mais ver ele com outros olhos, a incorporação do personagem é tão notória em seu olhar que é rapidamente apagado os papéis mais bobos que fez no cinema. Alfredo Castro consegue nos deixar revoltados em certos momentos, e como essa é a sua função, ele ganha muitos pontos e apesar de estar sempre presente nos filmes do diretor mostra que não é ao acaso. Os demais atores se destacam sempre apoiando os protagonistas e conseguem se sair muito bem, destacando Luis Gnecco, Néstor Cantillana e Antonia Zegers. O garoto Pascal Montero tem boa expressividade, mas foi pouco usado para isso, então apenas ficou bem de coadjuvante mesmo, quase sendo um figurante.

Agora falar da parte técnica da produção deste filme é quase colocar em suma uma aula de direção de arte, figurino e direção de fotografia. Tudo é mostrado com tanta realidade e aliado aos filtros que usaram que ficamos pasmos sem saber o que é filme e o que é material usado da realidade, deixando de lado qualquer outra possibilidade para que apontássemos o dedo e falasse, isso foi pego do material real tenho certeza. Então é magnífico o que vemos na tela que só temos que aplaudir as pessoas que fizeram parte da técnica, pois chegaram num nível incrível. Irei pesquisar a fundo o filtro que a fotografia usou, e quem souber e quiser falar ajudará, mas é um tom de amarelo que não ficou nem western nem envelhecido, ficando no meio termo perfeito.

Enfim, passaria muito mais tempo falando sobre ele e assim como o filme que coloquei no post de ontem, só tenho um único pesar, a distribuição precária de um filme que merecia muito ter sido exibido no Brasil todo em seu lançamento, claro que vindo nesse momento com tudo que anda ocorrendo no país acaba sendo interessante de se assistir, mas com certeza já deve estar beirando para ser lançado em DVD então quem puder assista tão logo que conseguir, pois vale muito. Fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica que rendeu bastante, mas na sexta estaremos de volta com mais filmes por aqui. Abraços e até lá.


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