Sejam Muito Bem-vindos

8/07/2013 01:20:00 AM |

É estranho depois de alguns anos vendo tantos filmes que quando comecei a ingressar nesse meio tinha outros olhos para o cinema francês, já que minhas primeiras experiências com ele haviam sido bem lastimáveis, porém hoje quase 90% dos filmes de drama que me surpreendem realmente são franceses, e agora após assistir "Sejam Muito Bem-vindos" tive mais uma belíssima experiência onde tudo poderia dar errado, ser subjetivo demais, faltar um conteúdo presencial, não ter um final tradicional, mas a doçura que trabalham com dois temas fortes que acabam se entrelaçando e virando um sinônimo de esperança, e mais que isso, uma vida passada em poucos meses sendo reencontrada acaba quase nos marejando os olhos por dois motivos, pela beleza passada e por ser um filme tão alternativo que não chegará até todas as pessoas que necessitariam vê-lo.

O filme nos mostra que Taillandier é um famoso pintor, já na casa dos sessenta anos de idade. Um dia, bruscamente, ele para de pintar. Deprimido, ele toma a decisão de ir embora, sem rumo preciso, e sem dar explicações a ninguém. No meio do caminho, ele encontra Marylou, uma adolescente rejeitada pela mãe. Tornam-se amigos e passam a viajar juntos, como pai e filha. Essa nova relação trará desafios, como a convivência entre eles, mas também esperança e a descoberta do desejo de viver, para duas pessoas que já haviam perdido o sentido da vida.

O mais interessante na história é a forma de condução que o diretor Jean Becker opta, pois se fosse americano com toda certeza teríamos outro final altamente explicativo e as tragédias que ocorrem seriam mostrada com maior força de impacto, enquanto aqui tivemos apenas subjetivadas as tragédias e ficamos com tudo pensando na ligação maior tanto para o nome como para tudo que nos quiseram mostrar, porém antes que venham me atacar e falar "Mas Coelho você odeia filmes que deixam tudo aberto!", o aberto aqui é agradável você liga o que ele quis dizer, o sentimento é relevante e fica impresso, mostrar seria grotesco e acabaria com tudo de bonito que foi dito durante o filme, e aí nesse caso passo a concordar com um final atípico.

É engraçado comparar a atuação de uma novata frente à um ator com 120 filmes e séries, mas o que vemos na tela é que o acolhimento tanto da personagem Marylou como da estreante Jeanne Lambert por Patrick Chesnais é sublime, dócil e inteligente. Os personagens mesmo com todos os seus problemas de personalidade forte vão nos conquistando com um carisma que passamos a nos apaixonar por eles e torcer para que tudo dê certo de alguma forma, ou seja, ambos estão perfeitos em cena. Patrick Chesnais que consegue mostrar tanto seu lado bem rabugento e rancoroso com um ego enorme por ser um pintor famoso no filme e um ator famosíssimo frente à uma novata, como seu lado amoroso e delicado nas cenas que é necessário, por isso não tem como não aplaudir um brilhante trabalho. E Jeanne Lambert estreia com praticamente dois pés direito ao ser bem acolhida e com certeza teve brilhantes aulas de atuação conseguindo passar na medida toda a insegurança que sentia ao estar do lado de alguém muito famoso, mas sem demonstrar medo de estar junto, o que exatamente era necessário para a personagem ficando perfeita também. Além dos protagonistas temos ótimas participações de Miou-Miou e Jacques Weber que mesmo estando presentes apenas em poucas cenas conseguem eximir tudo que seus personagens poderiam deixar para a história se encaixar perfeitamente.

O visual consegue oscilar do pesado clima chuvoso nos momentos mais dramáticos até a beleza de um pôr-do-sol numa linda praia e aliado a isso, a equipe de arte trabalhou mesmo que utilizando pouquíssimos elementos de cena, marcando cada momento com um objeto que simbolizasse cada interação dos personagens e apenas jogou na frente do diretor de fotografia um quadro falando pintem que está moleza. E Arthur Cloquet simplesmente fez isso, trabalhou com o sentimento de um pintor para retratar cada enquadramento de forma única não repetindo iluminação em quase nenhuma cena, deixando um aroma e um sentimento único a cada take.

Enfim, mais um excelente filme francês que não esperava nada afinal nem trailer vi antes de ir para a sessão que fico apenas com um pesar de não chegar à todos os cinemas para que mais pessoas pudessem ver esse belíssimo longa-metragem que nem é tão longo assim, sendo 90 minutos que passam voando diante de nossos olhos. Ele irá continuar em cartaz aqui em Ribeirão nas próximas terças e quintas no Cinecult do Cinemark, então quem puder e tiver a oportunidade vá assistir, principalmente para ver a sensibilidade do acolhimento ainda pode existir, mesmo que apenas em filmes. Fico por aqui nessa madrugada, mas hoje à noite ainda irei conferir mais um bem atrasado que apareceu no interior. Então abraços e até mais tarde pessoal.


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