Toda vez que vou ao cinema ver um filme brasileiro torço muito para que saia da sala festejando pelo crescimento tanto da qualidade quanto da quantidade de filmes que estamos produzindo, ainda mais quando vejo no pôster 12 premiações, mas infelizmente assim como toda indústria, pelo menos é o que almejamos ser um dia, sempre temos de ter produtos estragados, e "Vendo ou Alugo" é mais um exemplo do nicho que é classificado como comédia por não ter outro gênero para encaixar, o trailer já não faz rir muito, e durante os 88 minutos de duração com uma sala lotada não se ouviu um esboçar de risada, ou seja, fracasso na certa.
O longa nos mostra que no Rio de Janeiro, Maria Alice vive com a mãe, a filha e a neta em um casarão no Leme, bem na entrada de uma favela. Para sobreviver Maria Alice faz os mais diversos bicos, mesmo que eles passem longe da legalidade, mas ela sabe que o único meio de resolver seus problemas é vendendo a casa. O problema é que ninguém quer comprá-la, devido à proximidade com o morro. Um dia, Maria encontra uma amiga que diz que seu filho, Júlio, está trabalhando como corretor de imóveis e tem um estrangeiro louco para comprar um imóvel na cidade. Maria pede que ele o leve à sua casa e, esperançosa que a venda enfim aconteça, passa a organizar tudo para agradar o possível cliente.
O roteiro em si não é ruim e foi muito bem trabalhado pela produtora Mariza Leão, o problema é que as piadas não encaixaram e fica parecendo um seriado alongado daquele tipo primeiro capítulo de 1 hora onde conhecemos os personagens e ficamos esperando depois o que vai acontecer, o longa é bem dessa forma, acabando e o público saindo com a sensação de que ou perdeu algo ou não entendeu bulhufas do que viu. E isso é bem triste, pois nosso cinema tem crescido a cada dia com boas produções mesmo que com roteiros bem ruins e quando o público não se apega ao filme, a primeira coisa que ocorre é espalhar não que o filme é ruim, mas que o cinema nacional não presta, aí com isso queima mais do que deveria os bons filmes que têm estreado ou estão para estrear. A diretora e roteirista Betse de Paula quis juntar todo tipo de personalidade que se pode ver em pleno Rio de Janeiro num único local e isso como falei no começo não cabe em apenas 88 minutos, tudo passa correndo e abandonado sem que se forme um filme.
Das atuações tentarei analisar a atuação de cada um, pois os personagens não tiveram tempo de serem desenvolvidos. Por exemplo, Marieta Severo que é uma atriz-ícone e ainda ajudou na preparação do elenco, é perfeita para o papel e consegue desmistificar completamente sua D.Nenê fazendo um papel novo e diferenciado, mas pegamos o personagem já na sua metade, sem conhecermos sua construção, suas bases e na hora que vai engrenar para algo, encerra. Marcos Palmeira embora faça algumas caras de bobo, possui um personagem bem interessante, mas como fica só nos trejeitos e malandragens sem poder desenvolver muita coisa. Nathalia Timberg mesmo falando a mesma expressão umas 4 ou 5 vezes é uma das poucas personagens que se desenvolve inteira, embora pudéssemos ter um pouco mais de informação de seu passado e juntamente com suas amigas Ilka Soares, Carmem Verônica e Daisy Lúcidi fazem um quarteto onde os diálogos são os mais divertidos sem serem bobos. Silvia Buarque cai de paraquedas na trama fazendo um bicho-grilo da forma mais irritante possível, talvez numa desenvoltura pudesse até agradar, mas da forma que foi inserida e colocada com diálogos infantilíssimos com Pedro Monteiro, o qual parece um bebê gigante falando ficou algo que você não acredita estar vendo. Beatriz Morgana também tenta mostrar o que é e para onde quer ir, mas acaba não fluindo tanto, poderia ter sido menos introspectiva com a cabeça sempre para baixo. Nicola Lama serve para assim como os brasileiros são deturpados em filmes americanos, aqui nós deturpamos os gringos, pois só assim consigo enxergar todos os trejeitos ridículos que colocaram para o personagem. Alguém pode avisar André Matos que ele não precisa fazer o mesmo personagem em todos os filmes que entrar? O cara não muda uma expressão, uma fala, um nada, sempre é o ser berrante que não serve praticamente para nada na história, e isso pode mostrar falha de atuação ou todos os diretores escrevem o papel já pensando nele. Maria Assunção só reclama do começo ao fim do filme, e talvez até pudesse crescer no papel que existe a possibilidade também, mas infelizmente no tempo que tinha ficou apenas nisso. Os demais são apenas participações jogadas e não valem nem a pena comentar, afinal queimaria mais ainda o filme.
Um ponto forte do longa como disse está na produção e na direção de arte, que souberam retratar perfeitamente toda essa colônia que expliquei acima, e prefiro mencionar dessa forma, pois analisando assim conseguimos ver bem tudo que quiseram juntar num único filme tanto com os elementos cênicos usados quanto nas locações escolhidas, que agradam bastante por adequar completamente à perspectiva que quiseram passar, uma pena como disse servir apenas para filme e não para algo maior. A fotografia tentou inovar usando câmeras em diversos ângulos, principalmente no início do longa e embora pudesse cansar a grande oscilação, aparentava uma diversidade interessante, mas do meio para o fim voltou pro tradicional e manteve sem criar nada, além de usar a mesma palheta na totalidade o que granulou em alguns momentos a luz.
A questão sonora agradou mais na canção final de créditos ("Chapéu Mangueira") que acompanha de forma diferenciada mostrando a equipe realmente, não ficando apenas em escritos, e isso achei bacana. Porém o funk "Tá dando certo" assim como Mariza já usou em suas outras produções para marcar o contexto de algo que não será mostrado tão a fundo na trama é cansativo e usado numa cena bem boba. Os sons de tiro convencem de estar rolando uma guerra/pacificação no morro e agrada.
Enfim, somando os pontos bons que citei é de onde sairá a nota do filme, ou seja não recomendo ele a menos que quem sabe a produtora use de seu expertise e venda ele como uma série maior onde possa ser desenvolvido cada personagem que com certeza iremos gostar mais do resultado, mas como um longa de 88 minutos simplesmente ficou algo muito ruim que nem fez rir e muito menos nos envolveu. Encerro a semana cinematográfica por aqui, mas na torcida de que sexta venham muitos novos filmes para conferirmos, então abraços e até lá pessoal.
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