sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Cores

O que leva um produtor a financiar um filme que exiba o cotidiano melancólico e comum de três jovens na cidade de São Paulo? Se você conseguir responder essa pergunta, praticamente você decifra completamente a ideia do filme "Cores", que divergindo do nome é todo em preto e branco. Eu como produtor ao ler um roteiro desse iria questionar o roteirista e diretor no mínimo umas três boas razões para querer fazer um filme assim. Pois o que é mostrado até poderia ser interessante se houvesse uma causa nobre, algum problema a ser defendido, mas não é apenas mostrar o quão melancólico pode ser a vida de três pessoas numa cidade que "teoricamente" tem tudo para se fazer e eles não fazem nada, afinal não dispõem de dinheiro. Certo, então esse é o contraposto que querem defender, mas uma coisa que sempre defendo, tem público, tirando esse Coelho maluco que vê tudo, que pagaria para ver isso? A resposta se dá facilmente pela quantidade de pessoas na sala do cinema!

O longa nos situa na cidade de São Paulo, onde três jovens vivem histórias de amor e tristeza na metrópole: Luiz passa o dia entre pequenos empregos que ele consegue com sua moto e o trabalho em uma drogaria; sua namorada, Luara, mora em frente ao aeroporto e ganha a vida em uma loja de peixes ornamentais, enquanto sonha em viajar ao exterior, e Luca é um tatuador que mora com sua avó.

A ideia principal do longa até poderia soar bacana, mas é tão linear que em momento algum decola, não tendo se quer um clímax para que o espectador espere algo, tanto que na metade do filme já tinha a nítida certeza de que o filme terminaria da forma que terminou. É interessante mostrar para o mundo que só porque São Paulo é a cidade que tem tudo que você quiser fazer no horário que quiser fazer, mas para uma minoria que possua dinheiro? Sim! Mas para que um filme vire realmente algo que faça as pessoas querer ver é necessário que tenha um mote, e o longa patina em 95 minutos sem levar nada a lugar nenhum e aí nem uma fotografia perfeita consegue segurar uma trama.

A atuação do trio principal convence pelo fato de se mostrarem totalmente sem vida, mas não sei se posso classificar isso como sendo um mérito, pois chega quase ao fato de chegar para um mendigo na rua e falar parabéns senhor, você sabe fazer cara de sofrido. Simone Iliescu é a que mais usa desse artefato de fazer cara de sofrimento e expressa seus sentimentos às vezes até falando o motivo do desânimo, mas não sai disso, e no momento que você acha que talvez existiria algum fator que vai acontecer, novamente nada acontece. Pedro di Pietro é o que mais teria chance de conseguir dar um pulo grande com seu personagem, mas fica sempre preso no seu mundinho, então mostra potencial, mas é cortado por ele próprio. Acauã Sol é o que consegue maior destaque no filme por abrir os horizontes e se envolver com mais coisas no filme, então consegue demonstrar tanto sentimentos quanto expressões de dor, felicidade e tudo mais. Embora possa ser considerada apenas participações Tonico Pereira e Guilherme Leme conseguem expressar mais do que os próprios protagonistas dando um gostinho a mais nos seus momentos de tela.

O visual foi bem trabalhado para retratar os lugares por onde os protagonistas vivem, e embora seja um filme de baixo orçamento, conseguiram colocar muitos elementos interessantes e escolheram locações inteligentes para retratar bem a trama. E por isso mesmo acho que poderiam ter trabalhado melhor o conflito que conseguiriam fazer um filme bem mais interessante. E com a fotografia trabalhando muito bem as sombras usando toda a gramatura possível do preto e branco, sairia algo perfeito, mas infelizmente optaram pelo cotidiano linear e sem sal.

Enfim, se eu ficar falando mais do filme estarei igual ele patinando no mesmo lugar sempre falando que ficou insosso demais, mas como a ideia e a fotografia são interessantes, pelo menos como formato artístico, até vale como uma olhada rápida e só. Com toda certeza a maioria do público irá assistir ao filme e sair sem saber o porquê viu aquilo, mas é o que já disse uma vez aqui no blog, que muitos diretores preferem captar verba para fazer um filme sem propósito de com o dinheiro ganho fazer outro, então certamente aparecerão muitos outros assim com o financiamento fácil que temos em nosso país. Encerro a semana cinematográfica aqui, mas já nessa sexta iniciaremos outra bem recheada, então abraços e até mais tarde pessoal.


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