Imagine um filme de 127 minutos que pudesse ser resumido em 70-80 no máximo e o diretor por fazer parte de uma escola que utiliza uma linguagem diferenciada apenas enche linguiça nos outros minutos apenas para que o longa tenha uma carga dramática interessante. Imaginou? Se quiser e estiver com muita paciência, apesar de que agora só deve ser possível ver em casa já que hoje foi a última exibição no Cinecult, assista "Na Neblina" e saberá exatamente como é isso feito por russos. Nem posso falar que a ideia do longa é ruim, ela é bem contada nos 5 atos em que se divide, mas é tanta enrolação para acontecer as coisas que desanima e começa a bater desespero para que acabe logo.
O filme nos situa em 1942, e mostra que a região da Bielorrússia está ocupada pelas tropas alemãs nazistas. Quando um trem repleto de alemães sai dos trilhos, gerando diversas mortes, quatro trabalhadores ferroviários são acusados de sabotagem. Três deles são enforcados, exceto um, liberado pelos líderes nazistas. Sem saber o porquê de sua liberação, este homem passa a viver um calvário, sendo rejeitado pelos amigos e familiares, que o consideram um colaborador do regime inimigo.
A história se tivesse sido contada em 80 minutos, ou como fazem alguns filmes brasileiros em 90 e poucos apenas para falar que é realmente um longa metragem, tenho absoluta certeza que seria um filme magnífico, mas a forma de trabalhar dos russos é diferente e eles preferem minuciar cada detalhe da forma mais calma possível e com a carga dramática lá no topo. Porém um filme que se passa cerca de 80% numa floresta escura andando e relembrando seus momentos não há quem consiga aguentar. Ainda que a fuga da sala foi bem baixa, afinal todos que estavam ali queriam pelo menos saber como o diretor finalizaria, e quase como num daqueles filmes que você nem precisa ser um vidente para descobrir o que vai acontecer minutos depois de premeditar a cena, tudo vai ocorrendo sem que nada mude.
O trio de protagonistas trabalha bem, e cada um na sua maneira faz a dramaticidade mais simples possível virar quase um Shakespeare. Vladimir Svirskiy até sabe carregar bem uma face penosa e sofrida, mas custava muito abrir a boca para falar? Ou todos os russos falam murmurando? Tem horas no filme que parece que está dublando no melhor estilo de ventriloquia. Vladislav Abashin parece mais que está indo para um funeral do que estar indo matar um grande amigo, seu semblante caótico é bem convincente, mas chegamos a alguns momentos que não dava mais para aguentar suas falas pausadas. Sergei Kolesov se não fosse contada sua história seria o típico ator coadjuvante que anda ao lado dos protagonistas pra nada e acaba não servindo pra nada, seus trejeitos pausados demais também cansam.
O visual nas cenas que saem um pouco da floresta, que são bem poucos, são bem interessantes e agradam por mostrar uma região paupérrima que sofreu demais nas mãos dos alemães, porém para economizar e muito na produção, as cenas mais trabalhadas que teriam são feitas apenas através de sons subliminares sendo citados apenas e isso em alguns momentos convence, já em outros fica pobre demais. No restante do tempo, realmente fiquei com muita dó do diretor de fotografia, pois trabalhar no escuro dentro de uma floresta é um trabalho do nível mais árduo possível, e ainda imagino isso no frio russo que enfrentaram, a lua artificial usada para iluminar pelo menos já que o filme não passa mais do que 7 dias poderiam ao menos ser sempre a lua cheia mais forte já que teríamos mais nitidez, mas é questão de gosto.
Enfim, como disse no início poderia ser algo muito mais curto e que agradaria muito mais, porém ainda assim não conseguiram entrar pro hall dos piores filmes que já vi, apenas se tivesse visto ele num horário melhor não tão tarde, talvez até não ficasse com tanto sono e tédio devido a demora para acontecer as coisas. Recomendo que veja somente se tiver com muita, mas muita mesma, paciência e gostar de filmes lentos, senão a chance de desligar o televisor e ir dormir é altíssima. Como falei também é possível identificar logo no começo o que irá ocorrer até o final, mas alguns podem até se surpreender imaginando algo diferente. Bem é isso pessoal, encerro com esse filme essa semana que foi bem longa e produtiva com bons filmes passando nos cinemas e já nessa sexta inicio uma nova semana cinematográfica até com uma quantidade razoável de estreias por aqui. Então abraços e até mais tarde.
PS: Não achei trailer algum legendado em português do filme, quem achar e quiser passar, é só falar que substituirei.
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