Tese Sobre um Homicídio

9/18/2013 10:40:00 PM |

Fazia muito tempo que não via a seguinte cena: eu debruçado sobre minhas pernas com o olhar fixo para a tela do cinema sem nem olhar para os lados para ver como estavam os demais espectadores, mas acredito que todos estavam da mesma forma, pois "Tese Sobre um Homicídio" prova mais uma vez que não existem filmes argentinos ruins que venham para o Brasil. Claro que eles filtram o que vão jogar no mercado estrangeiro, diferentemente de franceses e americanos, mas se alguém souber de algum filme argentino bem ruim pode me falar o nome que irei conferir. E boto mais uma certeza nesse desafio, se tiver o Ricardo Darín será quase um milagre, pois na minha humilde opinião não existe melhor ator que ele, fazendo bem drama, comédia, romance e tudo mais que colocar, é capaz até de fazer bem um alienígena, pronto fica minha dica: Cameron chama ele pro novo Avatar. Brincadeiras a parte, realmente fazia muito tempo que não via um suspense policial com um roteiro tão forte e uma montagem precisa de fazer com que o espectador crie mil possibilidades na cabeça, claro que acusando alguém, e ainda assim ficássemos com raiva do final. Ou seja, perfeito.

O longa nos mostra que Roberto Bermudez é um especialista em Direito Criminal que ministra um curso bastante reconhecido. Uma nova turma está prestes a iniciar as aulas e entre os alunos está Gonzalo, filho de um velho conhecido do professor. Gonzalo trata Roberto como um verdadeiro ídolo, o que incomoda o mestre. Já com as aulas em pleno andamento, um brutal assassinato ocorre perto da universidade. Roberto logo demonstra interesse no caso e, ao investigar os detalhes, passa a crer que Gonzalo seja o autor do crime e esteja desafiando-o a um jogo de inteligência.

Roteiros de suspenses policiais sempre rendem bons frutos e não foi diferente dessa vez, pois o trabalho todo que o diretor Hernán Goldfrid faz em seu segundo longa é trabalhar tanto com o psicológico do protagonista quanto com o psicológico do espectador, principalmente o latino que está muito acostumado com novelas e já começa a deduzir tudo querendo acusar o primeiro elo que lhe é mostrado. Tudo bem que cada um vai ter a sua opinião e chegar a sua própria conclusão sobre o crime, mas a verdade é que ninguém pode afirmar nada a não ser o roteirista, e isso ele vai ficar nos devendo. Porém a amarração completa dos fatos que fizeram na montagem nos instiga a pensar junto com o protagonista e o longa de apenas 106 minutos parece ter quase 3 horas, pois queremos ver o fechamento do caso a qualquer custo, e dessa forma tenho certeza do acerto feito na trama.

Falar dos atores é uma moleza em filmes assim, pois já falei um monte sobre Darín e falaria mais horas a finco desse magnífico ator, aqui seu semblante está bem cansado, mas ao mesmo tempo luta para que consiga mesmo estando aposentado e errado outro palpite sobre um crime desvendar a qualquer custo esse novo, nem que pra isso tenha de enfrentar todos os seus amigos e sua reputação, ou seja, é ele novamente dando seu sangue por uma produção. Alberto Ammann é simbólico em seus trejeitos, deixando todo um misticismo em sua interpretação, fazendo tudo da melhor forma possível para ao mesmo tempo que se incrimine nas mentes doentias dos espectadores e do protagonista, seja visto também como um santo inocente para os demais, e isso só um grande ator seria capaz de fazer, mas ainda prefiro ele em "Lope". Calu Rivero faz boas cenas, mas poderia ter sido mais interpretativa em alguns momentos que aparentou mais fugir da câmera do que querer se mostrar para ela, porém no geral agrada. Os demais acabam fazendo mais pontas e nem são tão importantes para o filme em si, mas também não atrapalham tanto.

A cenografia de criminalística não costuma falhar, pois hoje é tão fácil os diretores de arte se basearem em séries policiais consagradas e com isso fazer um serviço minucioso que se faltar qualquer elemento seja ele o mais fraco é capaz até que um leigo fale mal do filme. Com isso em mente, tudo é meticuloso em detalhes para mostrar tudo, até mesmo numa compra de farmácia, só acho que exageraram em querer focalizar a notinha fiscal, mas tudo bem, o diretor ficou com crédito pelo menos com o diretor de arte. Já a fotografia acredito que poderia ser menos turva, tudo bem que gostamos de um bom mistério, usar tons escuros e tudo mais em filmes do gênero, mas não precisava apelar para o foque e desfoque também que aí é apelar com o público.

A trilha sonora incidente não costuma ser muito usada nesse gênero, pois ela acaba atrapalhando muitas vezes ao tentar botar tensão em momentos que nem necessitariam tanta atenção do espectador, mas aqui até que foi bem usada elevando o tom da batida nos momentos certos e até em alguns momentos que julgaria desnecessários para a investigação, mas vai saber a opinião dos outros né, as vezes pode ser que alguém tenha pego algo a mais onde achei inútil, não é mesmo?

Enfim, é um excelente filme que recomendo à todos que veja, seja no cinema (para quem for de Ribeirão Preto amanhã ainda irá passar no Cine Belas Artes às 19hs) ou em DVD/Bluray assim que sair, afinal desconheço quem não goste de uma boa investigação, nem que seja para culpar alguém pelo menos. Poderia ser melhor em alguns detalhes como citei acima, mas não chegam a atrapalhar tanto pelo menos, também se acertasse em tudo seria mais um "Segredo dos Seus Olhos" e aí mandaria fechar as portas do cinema brasileiro de vez. Fico por aqui hoje, mas ainda temos mais um longa para fechar essa semana recheada, então abraços e até amanhã pessoal.


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