A Coleção Invisível

10/26/2013 09:28:00 PM |

Poucas vezes um filme nacional não comercial conseguiu me emocionar, pelo menos não consigo lembrar de quase nenhum, tirando o melhor filme nacional que já vi e que dificilmente algum outro conseguirá substituir que é "Olhos Azuis". Mas hoje com "A Coleção Invisível" já posso colocar na minha lista de mais um filme brilhante que merecia ser visto por mais pessoas, principalmente aquelas que acham que o dinheiro vai durar a vida toda e que as adversidades nunca irão aparecer. O longa começa de uma forma vagarosa e estranha, mas vai crescendo numa intensidade tão bela que poucas obras poderiam ser igualadas na beleza que conseguiram transmitir no final perfeito.

O filme nos mostra que para resolver a crise financeira da loja de antiguidades de sua família, Beto se aventura ao interior da Bahia em busca de uma coleção de gravuras raras. Lá ele encontra Samir, o colecionador, e a sua família arruinada pela decadência das plantações de cacau. Este encontro o fará mergulhar na sua própria história familiar e mudar sua visão do mundo.

É interessante ver como muitos primeiros filmes costumam sair maravilhosos, pois geralmente sem muito dinheiro e com o ego ainda num nível baixo, os diretores costumam fazer verdadeiros milagres para que consigam tirar um projeto do papel. E não foi diferente com Bernard Attal que soube dosar toda singeleza em sua mão para baseado no conto homônimo de Stefan Zweig criar uma história comovente como muitas vezes o cinema não conseguiu transmitir. A forma inicial aparentava um longa fraco e sem muita coisa para falar, mas conforme vai ligando os pontos finais da trama, e no momento exato do ápice, não tem um lutador de UFC que não cairia com o tamanho do soco no estômago que o filme dá no protagonista e em todos os espectadores, algo que em momento algum poderíamos imaginar, mas que bem dirigido e magnificamente interpretado pelos atores conseguiu comover na medida.

É interessante falar sobre as atuações, pois estamos acostumados a ver Vladimir Brichta fazendo papéis cômicos e ele tem um bom tino para dramas, conseguindo ter um bom momento de explosão e principalmente fazendo bons trejeitos para manter os momentos delicados em sintonia com a câmera, ou seja, perfeito. O longa acabou pegando uma certa fama, por ser o último trabalho de Walmor Chagas e como ele demora a aparecer estava quase crendo que tinha morrido durante as filmagens e tinham cortado partes que haviam ficado pela metade, mas não, o ator entra no momento certo para fazer três cenas memoráveis que devem ser realmente lembradas como um bom final para o ator, seus momentos são raros de se ver sem se comover com tudo que é dito em tom maravilhado e na medida. Ludmila Rosa é uma atriz um pouco difícil de se analisar, pois teve momentos que explodiu exageradamente e poderia ter feito uma atuação mais centrada, mas soube dosar bem nos demais momentos e até acaba sendo agradável no geral. Dos demais atores são poucos os momentos que valem ser citados, mas vale destacar a rispidez de Clarisse Abujamra e o entrosamento das falas do garoto Wesley Macedo que deve fazer essa boa recepção com todos que aparecem na cidadela.

Em alguns momentos o cenário é tão assustador parece mais cenário de um filme de terror, mas infelizmente é a realidade do que aconteceu nas fazendas de cacau da Bahia com a vassoura de bruxa, e a equipe de arte foi extremamente feliz em achar essas locações para retratar o filme com uma consistência única de ser vista. Os elementos cênicos poderiam ser melhores em algumas cenas, mas não chegam a atrapalhar tanto. A fotografia soube aproveitar bem das cenas abertas para utilizar iluminação natural e agradar bem, enquanto nas locações fechadas optou por uma iluminação mais densa puxada para tons escuros que ditaram os momentos mais dramáticos da trama.

Enfim, um excelente filme nacional que infelizmente não deve aparecer tão cedo nas locadoras, pois é bem alternativo e provavelmente irá se resumir a rodar os diversos festivais espalhados pelo Brasil afora, o que é uma pena imensa, pois muitos deveriam poder conferir ele nos cinemas comercialmente. Recomendo quem for de Ribeirão Preto que venha ao Festival de Cinema assistir a próxima sessão dele no dia 29 às 21:30, pois pode ser a única chance de conferir nessas bandas. E quem não for torça para passar em algum festival por aí ou quando sair nas locadoras, confira que vale muito a pena principalmente pelo final. Fico por aqui agora, mas já vou para mais uma sessão do Festival de Cinema de Ribeirão Preto e mais tarde volto com mais uma crítica. Abraços e até mais pessoal.


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