A Espuma dos Dias

10/27/2013 02:05:00 AM |

Já assisti diversos filmes malucos, mas jamais imaginaria metade do que vi em "A Espuma dos Dias", onde a cada 1 minuto eu só ouvia, em alto volume, meu cérebro gritando o que é isso meu Deus! Sinceramente não sei que tipo de erva o diretor misturou para conseguir imaginar tudo o que é mostrado no filme, pois misturar animação com live-action em alguns casos é aceitável, mas no nível fantasioso que é feito tudo aqui é abusar da imaginação fértil das pessoas. Tudo bem que não posso falar que não foi divertido certos momentos, mas o exagero em dramatizar de forma animada tudo que ocorre na trama acaba ficando piegas demais e cansa de tal forma que nem o significado da perca das cores, simbolizando o fim da fantasia acaba salvando o longa de ser chato.

O filme nos mosta que Colin é um homem rico e despreocupado, que nunca precisou trabalhar. Tímido, ele nunca teve muito sucesso com as mulheres, até ser apresentado a Chloé durante uma festa. Apesar de um primeiro encontro desastroso, os dois se apaixonam e se casam. O casal está sempre cercado pelos amigos Nicolas, um cozinheiro talentoso, Chick, um intelectual pobre e fascinado pelo filósofo Jean Sol-Partre, e a extrovertida Alise. Tudo caminha bem, até o dia em que Chloé é diagnosticada com uma doença rara: ela tem uma flor de lótus crescendo dentro do seu pulmão. O caríssimo tratamento exige o uso de diversos medicamentos e a aplicação de centenas de flores, levando Colin à falência, e a amizade do grupo à crise.

O diretor Michel Gondry é famoso mesmo em Hollywood por filmes que não são de fácil interpretação, mas poderia ter sido menos exagerado na adaptação da obra de Boris Vian para que existisse ao menos uma coesão nos fatos mostrados, já que tudo, sem nenhum exagero, pode e tem duplo sentido no filme. E nem que sua mente seja muito trabalhada em figuras de linguagem você conseguirá assistir ao filme num cinema, afinal em vídeo até dá para ir parando e pensando, e ir completando todas as lacunas de que ele quis dizer com a cena mostrada. Com isso, o misto na sala de cinema fica entre pessoas que riram de tudo parecendo hienas, os que dormiram, e os que ficaram tentando pensar na velocidade da luz e saíram da sala com dor de cabeça de tanto pensar, e vou me colocar num misto da última categoria com um pensamento além de o porque a moça na minha frente ria de tudo mesmo. Agora tirando toda a forma pensante do longa e analisando somente a obra de arte que são as animações, mesmo que exageradas, tudo funcionando num ritmo muito maluco, é lindo de se ver, preferiria que o filme não tivesse toda a conotação maluca e ficasse só preso às animações que talvez agradaria bem mais.

Os atores conseguem conduzir o filme até certo ponto, pois em alguns momentos é notável a expressão de que não sabem nem mais o que estão fazendo. Romain Duris começa de forma bem bacana, trabalhando com as animações até parecendo orquestrá-las, e com isso ao mesmo tempo que agrada acaba destoando seus trejeitos para as câmeras, e aí é que entra o perigo de se trabalhar com animações, pois o ator acaba sem saber para onde olhar, mas depois conforme vai ficando mais trabalhado com os demais atores passa a mostrar que é maluco suficiente para acreditar no roteiro e dizer todos os diálogos de forma convincente e interessante. Audrey Tautou, nossa eterna Amélie Poulain, mantém sua atuação doce e delicada do início ao fim, fazendo de seu personagem um misto da mulher infantilizada com as princesas fantasiosas das animações. Omar Sy que tanto idolatrei em "Intocáveis", é o ator que mais trabalhou com as animações e acabou caricato demais, chegando a incomodar em diversos momentos, porém quando abria sua boca para dialogar, mostrava o porque é o ator negro mais comentado do cinema francês. Gad Elmaleh que também enchi de elogios semana passada em "O Capital", faz um personagem metódico e vidrado em livros de um filósofo e pra não falar que ficou um personagem chato, ficou no mínimo irritante estar repetindo a todo momento as mesmas coisas. O restante dos atores acaba sempre se comunicando rapidamente com os protagonistas, e também não ajudam em nada para melhorar o filme, valendo destacar apenas os belos trejeitos do pequeno rato interpretado por Sacha Bourdo que no começo fica gracioso, mas depois começa e enjoar.

O visual é um ponto interessante que a equipe de arte soube trabalhar bem, pois com a quantidade de elementos animados na tela, fica difícil até saber o que usar para cenografia, afinal a maioria dos elementos são colocados na pós-produção junto das atuações dos atores, e isso acaba engessando um pouco o conteúdo real da trama. Mas o trabalho da equipe gráfica para criar os elementos animados ficou tão bonito e divertido que mesmo a história ficando confusa demais, acabamos maravilhando com toda movimentação deles e isso acaba ficando legal, mas altamente exagerada principalmente nas cenas animadas onde os atores acabam sendo animados, por exemplo na dança, apertos de mão, etc. A fotografia como disse no início é toda colorida e fantasiosa, e conforme a doença da protagonista e o brilho do amor vai morrendo, a película vai perdendo a cor, de uma forma até bem poética, porém devido o excesso de animações, acaba que a iluminação não fica gostosa e fluída para assistir tranquilamente.

Enfim, é um filme que se não fosse tão exagerado talvez agradaria bem mais pelo conteúdo poético que tenta passar, mas da forma que foi concebido, como eu disse no começo e no Facebook, só se você estiver bem drogado para conseguir sair feliz depois de tudo que é expressado na tela. Não chega a ser algo 100% inaproveitado, mas ainda está bem longe de ser algo que agrade. Fico por aqui, mas nesse Domingo confiro mais uma estreia da semana, e na segunda volto com mais filmes do Festival, afinal já conferi os dois que irão passar hoje. Para quem não viu a programação segue aqui, e já aviso quem goste de cinema que na próxima semana começa a Itinerância da Mostra Internacional de Cinema, que virá para Ribeirão com essa programação. Então preparem-se que o Coelho vai lotar de posts nas próximas semanas. Abraços e até mais tarde então pessoal.



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