Acredito que certos temas começarão a brotar nos cinemas nos próximos anos, e o bullying é um dos que mais deve predominar, afinal dá para trabalhar ele de diversas maneiras que sempre terá uma nova essência, além de poder acontecer em qualquer país por ser um tema universal. Em "Depois de Lúcia", a coisa fica um pouco tensa devido à partir não só para o lado psicológico, mas na força física sexual que existe. É um filme excelente que poderia ser magnífico se talvez tirasse todo o foco do pai da garota e ficasse preso somente nos atos sofridos por ela, mas aí não teríamos a certeza do ato final que com certeza é um dos melhores já feitos em diversos filmes do gênero.
O filme nos mostra que quando a esposa de Roberto morre, a relação dele com sua filha Alejandra, de 15 anos, fica abalada. Para escapar da tristeza que toma conta da rotina dos dois, pai e filha deixam a cidade de Vallarda e rumam para a Cidade do México em busca de uma nova vida. Alejandra ingressa em um novo colégio, e sentirá toda a dificuldade de começar de novo quando passa a sofrer abusos físicos e emocionais. Envergonhada, a menina não conta nada para o pai, e à medida que a violência toma conta da vida dos dois, eles se afastam cada vez mais.
A primeira parte do longa até cansa um pouco devido ao excesso em querer mostrar como anda o nível psicológico do pai, mostrando como suas atitudes levam do melhor momento ao descontrole extremo, e isso para quem não aguentar assistir até o final vai acabar soando como algo muito chato, porém logo que começa a segunda parte onde a garota cai na maior cilada da adolescência que é beber em festas de amigos, aí o filme toma um novo rumo, que acaba entrando na discussão de até onde a pessoa deve sentir vergonha de contar um abuso e sofrer outros gratuitamente, ou delatar logo no início e talvez as coisas piorarem. Vou colocar minha opinião pessoal, que eu delataria logo no primeiro ato e a pancadaria já iria começar cedo, mas sei que em diversos casos isso poderia piorar, mas não sei se não custaria tentar. Como as coisas são vão piorando, o terceiro e último ato voltamos a ter foco nas atitudes do pai, e aí cabe novamente ao público que está assistindo tirar suas devidas conclusões, sendo pais ou não, mas como o diretor usou o início do filme para nos situar como anda a cabeça do protagonista, a forma encontrada para mostrar o fim do filme não poderia ser melhor do que foi feita. O diretor só poderia ter oscilado menos sua mão em querer deixar aberto em certos momentos e em outros colocar sua opinião, pois da mesma forma que dista em querer dar respostas num jogo de cenas, ele mesmo vai lá e fala que não quer brincar mais e leva a bola embora do jogo.
A atuação de Tessa Ia é forte, emotiva e em certos momentos até introvertida demais para uma atriz, que mesmo nas primeiras cenas já parece querer fugir o foco de si, mesmo antes de sofrer os devidos atos, poderia ter começado mais exaltada para depois cair no buraco, pois ficaria mais convincente, mas isso é apenas um detalhe, já que no geral a garota manda muito bem. Hernán Mendoza consegue fazer seu personagem um elo forte para trama, mostrando que o psicológico de qualquer um altera nas devidas proporções com situações extremas, sejam elas morte de alguém próximo, crimes, etc., e com isso o ator mantém seu semblante fechado do início ao fim da trama, conseguindo mudar seus atos apenas utilizando entonações vocais, e isso é muito bacana quando um ator consegue fazer bem, ou seja, excelente atuação que até rouba um pouco pra si algo que deveria estar mais forte na garota. Dos demais jovens atores, todos fazem seus atos da forma mais suja possível, deixando o espectador com raiva de todos sem exceção e isso é muito bom em dramas, pois define a vilania logo de cara, só acredito que Gonzalo Vega Sisto poderia nas cenas finais ter sido mais homem frente aos atos, pois ficou completamente inconvincente sua entrada no carro, mas tirando isso, o garoto até que mandou bem nas demais atuações.
O visual do longa é bem simples, afinal o tema por si só já é forte, não necessitando tantos elementos para retratar os abusos, mas a equipe de arte trabalhou de forma consciente para mostrar sem entrar em detalhes sujos, tudo que era possível e ficasse dentro de um contexto. Algumas cenas foram apenas gastos desnecessários, como a cena do acidente da mãe, que já havia ficado muito bem implícita no contexto, mas como sempre cenas que gastam mais dinheiro se não são mostradas dá briga na equipe. A fotografia optou muito bem por uma iluminação mais densa com tons escuros para retratar tanto o psicológico alterado do pai quanto todos os problemas da garota que mesmo tentando respirar nos seus momentos na piscina acabava lembrando dos atos e se apavorando.
Enfim, é um filme que muitos pais devem ver para ter noção de como devem trabalhar os diálogos com os filhos para saber tudo que realmente acontece por trás de festas com os amigos, e também deve ser visto pelos filhos para que saibam como contar aos pais, tudo que deve ser contado, mesmo que tenha a necessidade da quebra de uma vergonha maior, pois quando achamos que o pior já aconteceu, ele ainda pode estar por vir. É um filme forte, mas que foi bem trabalhado para não ser tão pesado, então é digerível para todos e recomendo para que todos vejam esse que foi o indicado pelo México para concorrer ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2013. Fico por aqui agora, mas hoje ainda irei conferir mais um filme e volto mais tarde com mais uma postagem. Abraços e até daqui a pouco.
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