Em um mundo atual onde as novelas e filmes mostram que para uma mulher ser feliz, ela deve casar, ter filhos e um emprego onde sobre tempo para viver com sua família e ter uma vida colorida, o longa "Frances Ha", vai completamente no modo inverso e mostra que essa pseudo-realidade não cabe bem para a mulher moderna e que esse conto de fadas não é necessariamente a melhor forma para que ela seja feliz. E o que deixa o filme mais interessante ainda é ver que ele não trata de algo cult e europeu, mas sim de um longa americaníssimo com toda desenvoltura possível, mas completamente independente assim como a protagonista deseja ser e consegue de forma incrível.
Frances divide um apartamento em Nova York com Sophie, sua melhor amiga. Brincalhona e com ar de quem não deseja crescer, ela recusa o convite do namorado para que more com ele justamente para não deixar Sophie sozinha. Entretanto, a amiga não toma a mesma atitude quando surge a oportunidade de se mudar para um apartamento melhor localizado, mesmo que isto signifique que ela e Frances passem a morar em locais diferentes. A partir de então tem início a peregrinação de Frances em busca de um novo lugar que se adeque às suas finanças, já que ela é apenas aluna em uma companhia de dança à espera de uma chance de integrar o grupo de bailarinos que encenará o espetáculo de Natal. Mesmo diante das dificuldades, Frances tenta manter o alto astral diante os problemas que a vida adulta traz.
A composição do roteiro feita pelo diretor Noah Baumbach e a atriz Greta Gerwig é de uma dramaticidade ímpar, pois consegue aliar toda a animação que seria necessário para manter um longa diferenciado e ainda assim continuar com a seriedade imposta para que o filme não saia do eixo. E essa subjetividade que é passada a todo momento, contrapondo a chegada da idade adulta, da saída da faculdade, da perca de um romance, da melhor amiga se casando e abandonando, e tudo mais que acabamos vivendo em algum momento de nossa vida, com a fantasia que alguns filmes tentam mostrar que seria na realidade, é ao mesmo tempo um baque imenso para quem acredita nas fantasias quanto uma felicidade muito grande ao ver que ao menos um diretor foi capaz de mostrar que nem toda mulher necessita dessas falsas realidades para viver sua vida, o que na verdade é o mais moderno possível, encarar uma vida sozinha com um emprego que mal paga suas contas, mas que pelo menos consegue deixar sua vida feliz. A linguagem que o diretor escolheu filmar, totalmente linear e em preto e branco conseguiu fazer um contraste da modernidade contextual a que estamos inseridos com um passado onde tudo que era certinho era bom, e ao mesmo tempo chocar mostrando que a realidade não é bem essa que tentam nos passar.
A atriz Greta Gerwig é impressionante no que consegue passar com sua personagem, é praticamente um relato de vida mostrado pelo diretor que fazem as horas passarem voando com sua desenvoltura frente as câmeras. Mickey Sumner é uma atriz com trejeitos diferentes do costume, e sua Sophie acabou mostrando ela de forma mais estranha possível, claro que isso não atrapalhou em momento algum o filme, mas suas ações são difíceis de conseguir esperar, e isso em alguns momentos é muito bom, mas em outros acaba soando que um erro pode ser corrigido facilmente. É muito bonito a forma de tratamento de Michael Zegen com a protagonista, mostrando que é possível sim ter amizade entre homens e mulheres sem que o homem seja gay, sua naturalidade para com o personagem agrada e mostra de uma forma sutil toda sua interação e expressão sem que soe falso em momento algum. Adam Driver e Michael Esper são praticamente figurantes de luxo, que possuem algumas falas contundentes, e conseguem até chamar atenção quando estão enquadrados, mas não fazem diferença para o filme, pois a protagonista rouba toda a atenção e isso é um mérito excelente dela.
O visual nova-iorquino nem é tão trabalhado no filme, mas como um pano de fundo para a história serve perfeitamente, afinal estamos falando de um lugar onde tudo é muito corrido e cheio de glamour, porém novamente o diretor entra para diferenciar e coloca como se nada disso importasse, pois as pessoas lá também vivem, mesmo que com pouco dinheiro. Os elementos trabalhados nos apartamentos usa bem esse contraponto a fim de mostrar as divergências de quem tem dinheiro e também de quem tem sorte na vida. A fotografia em preto e branco além de servir para dar a oposição que o diretor queria, serviu para dar um charme a mais para o longa, afinal se fosse colorido, alguns elementos chamariam mais atenção do que a própria protagonista em si, e isso em momento algum poderia ser pensado na trama.
Outro ponto perfeito é a trilha sonora escolhida, que utiliza todas as músicas no momento preciso que devem aparecer, trabalhando quase que como uma extensão do filme. As músicas orquestradas jogam alguns momentos quase que para um cinema mudo, onde as expressões fazem valer muito mais do que qualquer palavra dita e com isso fica excelente. E a música "Modern Love" de David Bowie entra tanto em cena quanto na finalização com todo o significado máximo da mensagem que o diretor quis passar para a trama.
Enfim, um ótimo filme que até poderia ser um pouco melhor se não tivesse demorado demais em algumas poucas cenas, mas no geral é perfeito e fará muitas mulheres saírem dos cinemas onde estiver passando ou até mesmo nas suas casas com um ar de eu posso tudo e esse filme me representa. Recomendo principalmente pra essas mulheres modernas e também pra todos que gostem de um filme diferenciado e divertido, mas já aviso que alguns homens mais machistas talvez achem o filme meio cansativo e chato, então pensem duas vezes na companhia que irá levar para assistir. Pra quem for de Ribeirão Preto e quiser assistir, ele está passando no Cine Belas Artes dos Estúdios Kaiser de Cinema nessa semana, e é uma boa opção para quem não curte shoppings lotados. Fico por aqui, mas hoje ainda teremos mais uma sessão no Belas Artes para conferir, então abraços e até mais tarde com mais um post.
PS: Daria 9,5 fácil para o longa devido apenas à algumas cenas desnecessárias e longas, mas somente por esse motivo, como não tenho notas pela metade e isso pesa um pouco vamos ficar com 9.
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