É estranho um filme que tem um miolo todo metódico, pra não dizer chato, que você já está pronto para aniquilar no seu texto, e ele vir com um final tão perfeito que até passa a gostar mais de tudo que foi mostrado. Pois bem, aconteceu exatamente isso ao assistir "A Montanha Matterhorn", o primeiro longa holandês que eu lembro de ter assistido. Já havia visto outros longas que mostra toda essa paranoia com horários, de fazer tudo certinho, dominar o outro de certa forma, mas nunca algo que ficasse 100% preso nisso, e quando o estranho entra na vida da pessoa organizadinha, assim como já está na sinopse, já se imagina que haverá uma quebra de paradigmas, mas não, ele tenta colocar a pessoa no mesmo eixo estranho. Porém quando ocorre o clímax e vem o grande choque, o longa toma uma vertente tão interessante que praticamente tudo de ruim, quase é apagado das nossas mentes e ficamos apenas com a música emblemática final e toda a simbologia que representa, mesmo para quem pegar a ideia antes do final mesmo, e isso é magnífico, pena que demora demais para decolar.
O filme nos mostra que Fred tem 54 anos e mora sozinho. Ele anda pela cidade de ônibus, frequenta a igreja e janta vagem com carne e batatas todo dia às 6 horas em ponto. Um dia, Theo entra na vida de Fred e transforma sua rotina. Influenciado pelo estranho, Fred começa a se desprender e passa a explorar um mundo maior.
O interessante do longa é explorar as mudanças de vértices que o protagonista toma, principalmente ao ir conhecendo mais sobre o estranho que ele dá abrigo, pois começa inserindo ele no seu meio, e quando vê já está mais no dele que no seu. E isso torna a experiência em alguns momentos bem estranha de assistir. Porém a genialidade que o diretor teve em colocar um final completamente anverso ao que se espera, foi incrível. Poderia claro ter dado um ritmo um pouco menos monótono durante a execução, mas se formos observar pelo final, talvez não tivesse o mesmo impacto. Além disso, por conseguir montar uma ideia completa do ambiente, a narrativa consegue ilustrar tudo e mais um pouco da vila, dos personagens e tudo mais, criando em apenas 96 minutos algo que alguns necessitariam de no mínimo 120 minutos, e isso é bem inteligente de se observar.
Garanto que nunca imaginei ver atuações tão metódicas, e isso é tão estranho que fiquei curioso para ver mais filmes dos atores, para saber se é o estilo deles de atuar ou do próprio diretor de dirigir ou se é algum estilo próprio do país. Mas isso só saberei assim que conferir outros, o que acho bem difícil de conseguir, mas tentarei. Ton Kas começa tão na defensiva que passa uma imagem fechada e de difícil acesso tanto ao seu personagem quanto a sua interpretação, e isso é ruim, pois poderia dar tudo errado, mas como ele consegue tomar as rédeas facilmente na segunda metade do filme, mostra um teor tão agradável de ver que impressiona. Já vi atores fazerem muitos filmes com poucos diálogos, mas o que René van 't Hof fez hoje é de outro planeta, o ator passa por tudo apenas usando seu gestual e pouquíssimas palavras e o melhor é que consegue convencer a todos de seu problema além de ser o tino divertido da história. Porgy Franssen agrada nos momentos em que tenta se destacar como membro chefe da igreja da vila, e no momento que é revelado seu segredo com os acontecimentos do protagonista, fica uma tensão muito forte na interpretação que ao mesmo tempo que dá um choque no espectador, acaba confundindo um pouco mais tudo. Todos os demais fazem bem seus papéis, mas o destaque mesmo é para a forma interpretativa da canção final com Alex Klaasen que resume tudo o que se possa pensar num momento único de interpretação e sentimentos.
A vila criada ou escolhida para ser parte principal do cenário do filme é algo que em hipótese alguma possa parecer real, pois são várias casinhas, com moradores todos de cultura extremista cristã, onde a religião domina todas as forças possíveis, e isso além de caracterizar demais o filme, mostra toda a veracidade que a equipe de arte tenta passar ao ilustrar ela, e mais do que isso ainda colocar como parte da história o contexto passado. Além disso, toda a influência dos animais como parte da história dá um charme a mais para a trama. A única coisa que ficou mais estranho do que o normal, se é que dava para ficar mais estranho, são as festas "animadas" pelo protagonista cantando e o seu parceiro imitando os animais, sinceramente se eu visse isso numa festa acho que ficaria mais com medo do que animado, mas tudo bem é a proposta do filme, então ficou interessante ao menos. O longa também é riquíssimo em elementos cênicos que remetem sempre à algo na história, acabando por fazer parte do contexto, como o relógio, a forma de comer a bolacha, entre outros. A fotografia aproveitou muito do clima da região para as cenas externas, valorizando bem a luz natural e nos momentos que necessitou luz, como nas internas ou na cena de chuva, optou por usar um contraluz bem leve para apenas chamar a atenção para o ponto que necessita.
Enfim, ao mesmo tempo que o filme é estranho, ele possui seu charme, poderia ser feito de forma a chegar no mesmo resultado brilhante do final sem precisar do exagerado começo e miolo monótono, mas como disse, pode ser que seja algo do estilo de filmes do país, mas com certeza faria esse Coelho mais feliz com o que viu. Vale a pena ver mais como uma ideologia cultural, e para mostrar que sempre é possível quebrar paradigmas e preconceitos se levarmos em conta o bom senso, então só por passar essa mensagem, já valeu o filme. Encerro aqui essa semana cinematográfica bem curta, torcendo para que venham muito mais filmes na semana que vem, então abraços e até sexta.
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