Ia tentar escrever o texto inteiro em cearensês, mas não iria conseguir, então melhor apelar para o português mesmo pra falar desse filme chamado "Cine Holliúdy" que possui uma linguagem própria, mas mantém a grande essência principal que é o amor pelo cinema, pela arte de contar histórias numa tela grande, onde a cidade, os amigos e até os inimigos se juntam para ver uma obra que muitas vezes nem entendemos o que ela diz, mas consegue nos empolgar, emocionar e porque não dizer também refletir. Muitos irão reclamar de não ser uma comédia onde possa rir horrores, mas a principal mensagem é passada com muita fidelidade e quase faz chorar com o letreiro final onde diz que no Ceará dos 184 municípios apenas 5 possuem cinemas, isso me dói o coração demais, pois não sei vocês que leem meus textos, mas eu não sobreviveria
O filme nos situa no interior do Ceará, na década de 1970. A popularização da TV permitiu que os habitantes da cidade desfrutassem de um bem até então desconhecido. Porém, o televisor afastou as pessoas dos cinemas. É aí que Francisgleydisson entra em ação. Ele é o proprietário do Cine Holiúdy, um pequeno cinema da cidade que terá a difícil missão de se manter vivo como opção de entretenimento.
A forma de condução da história é bem divertida e nos remete a ver um movimento que anda voltando com força que é a briga dos cinemas contra as televisões, pois se naquela época um tubo pesado e quadrado quase conseguiu derrubar a existência dos cinemas, o que pensar de algo agora fininho de alta tecnologia e alguns até de melhor qualidade que a imagem de um cinema pode fazer? Mas vou procurar me concentrar que isso não irá ocorrer, e esse será apenas mais um pesadelo que rondará minha mente. E o diretor Halder Gomes foi muito feliz em idealizar esse filme com base em seus dois curtas-metragens, fazendo tanto uma homenagem à sétima arte quanto ao público que quis atingir, e com isso conseguiu em pouquíssimos cinemas do nordeste conseguiu uma bilheteria de fazer inveja a grandes nomes do cinema nacional e internacional, fazendo com que distribuidoras grandes corressem atrás para mostrar aos demais estados do Brasil o que é o cearensês e principalmente como é esse "Cine Paradiso" brasileiro, o nome pelo qual muitos críticos internacionais andam chamando o longa lá fora. Confesso que estava esperando demais a oportunidade do longa chegar ao Sudeste, e já estava até descrente de que viria para o interior, mas veio, e pude conferir que é um filme muito bem feito com um baixíssimo orçamento, e que consegue passar a ideia primária de humor e bom senso para fazer o princípio de que o cliente tem sempre razão, e que deve buscar agradar exatamente o que ele quer ver. Usando dessa ideia podemos parar para pensar um pouco e ver o porquê muitos blockbusters acabam lotando enquanto filmes cheio de ideologias pensantes acabam sendo desprezados nas salas de cinema, seria porque o povo não quer mais pensar ou não é aquilo que ela quer pagar para ver? Vou parar com tantas reflexões, senão não falo do filme, mas que o diretor tocou numa ferida enorme com muito álcool querendo ou não, tocou!
As atuações são bem simples, não tendo nenhuma grande eloquência, já que todos são muito caricatos e tendem a forçar um pouco a expressão para conseguir colocar em prática exatamente todos os tipos de pessoas que existem num único lugar, assim como já é apresentado em fotografias logo no início do filme colocando ao invés de nomes, a "qualidade" de cada um da cidade. Quem vale a pena destacar mesmo é o protagonista Edmilson Filho que já vem junto de Halder desde os curtas e mostra uma desenvoltura ímpar nos enquadramentos, seja falando muito bem e conseguindo contar suas histórias inventadas para quem quiser escutar e tentar entender imaginando tudo aquilo, como seu filho faz, ou até mesmo para abrilhantar uma sessão onde o projetor acaba estragando e salvando a sessão, com isso seus trejeitos estão tão bem encaixados que fica difícil não gostar dele, o problema será remover o sotaque dele para outros filmes ou ter muitos outros filmes do estilo para que possa agradar cada vez mais. Os demais atores todos fazem parte da trama apenas auxiliando tudo e fazem bem, mas a esposa poderia ter participado mais da trama, que quem sabe ela se destacaria também, não sendo apenas suas visões algo maioral do filme.
O visual do longa é bem trabalhado, dando valor aos pequenos elementos principais, que acabam se destacando pouco, mas possuem todo um brilho lúdico para revelar cada momento do filme, seja a bola do riquinho que sem ela não tem jogo, o falso toddy, a ilusão da criança sonhadora, o próprio projetor velho e claro a sala de cinema de rua quente que era tradicional antigamente. Com bons figurinos de época, é divertido ver os personagens sendo tão caricatos e isso soma pontos para o longa. Com isso todos os detalhes pensados pelo diretor, a equipe de arte fez com minúcias para agradar e ficar interessante de se ver na tela. Aliado a isso, a equipe de fotografia soube utilizar cores bem vivas para dar um ar bem para cima de algo que poderia ser melancólico, e além disso consegue fazer com que os anos 70 tenha uma gramatura bem própria dos rolos de filmes.
Enfim, é um filme que dá para analisar diversos questionamentos e ainda assim se divertir numa sala de cinema, o longa demorou um pouco para chegar no restante do Brasil, e errou um pouco a mão na escolha de data, já que veio com um dos blockbusters mais esperados pelo público em geral e outro filme que é um possível candidato ao Oscar, mas acredito que consiga se manter forte como alternativa para quem quiser ver um filme diferenciado de uma época que pode estar para acontecer novamente. Recomendo ele com certeza, mas não vá esperando rir tanto quanto o público nordestino que conhece mais as gírias, apenas será algo bem divertido de ver. Fico por aqui agora, mas hoje ainda confiro mais uma estreia da semana, então abraços e até mais tarde pessoal.
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