Existem filmes que possuem uma linguagem tão apurada que conseguem transmitir diversas sensações em tão pouco tempo de forma a se tornarem nominativos tanto à prêmios quanto à necessidade de que todos vejam. O que "La Jaula de Oro" mostra é intenso ao conseguir retratar o sonho que jovens de países pobres têm em conseguir ir para a grande América de qualquer forma e todas as intempéries que encontram pelo caminho indo de forma ilegal, mas para isso o diretor não coloca da forma mais fácil, e usa o elenco de forma tão incrível, retratando toda a dureza da vida junto de influências culturais que não por menos levou Cannes com seus jovens e conquistou à todos na 37ª Mostra Internacional de São Paulo levando vários prêmios grandes.
O filme nos mostra que Juan, Sara e Samuel, são três adolescentes das favelas da Guatemala, que tentam viajar para os EUA em busca de uma vida melhor. Em sua jornada pelo México, eles conhecem Chauk, um índio de Chiapas que não fala espanhol. Viajando em trens de carga e caminhando sobre os trilhos dos trens, eles logo terão que encarar uma dura realidade.
Embora muitos vão ler a sinopse e achar que é um filme bem simples, o que nos é mostrado é uma dura realidade que ocorre praticamente todos os dias e o que o diretor Diego Quemada-Diez faz em seu primeiro longa-metragem como diretor é praticamente um absurdo ao mostrar uma mão firme frente à tudo de negativo que ocorre no trajeto dos jovens, e além disso infiltrar todo o sentimentalismo bonito que é a amizade e solidariedade que somos capazes de construir. Com essa figurativa na mente, o longa vai muito além ao incorporar tudo num ritmo dramático que poderia até reclamar de não ser mais acelerado, mas ele consegue contemplar cada momento como único nas vidas dos jovens, tendo de sofrer, suar trabalhando, roubando, traficando e tudo mais para conseguir atingir seu sonho, e para isso tudo é sofrível, duro, árduo e ao mesmo tempo lindo de se ver na telona. Por ter trabalhado muito como operador de câmera ele soube exatamente onde pontuar forte a intensão que a câmera poderia passar o melhor sentimento e isso são poucos os diretores que conseguem, então espero que seja lançado comercialmente em breve para que mais pessoas possam conferir esse brilhante trabalho do diretor e que também continue mostrando o que sabe fazer bem em outros filmes em breve.
Um fator poderoso do filme é ter sido trabalhado completamente com atores iniciantes, que nunca fizeram nada profissionalmente, e os jovens conseguiram manter tanto sua vitalidade e determinação real, quanto tiveram expressões dignas de serem lembradas muitas vezes pela originalidade. São raros os casos que costuma funcionar tão bem um elenco completo de não-atores, e aqui o acerto foi total. Brandon López faz uma linha carrancuda e determinado a conseguir tudo que quer, seja uma garota ou seja uma bota ou conseguir atingir sua meta, e o garoto faz isso com uma facilidade na expressão que é incrível. Rodolpho Domínguez consegue ser interessante mesmo não dizendo praticamente nada que tenha sido traduzido na legenda, e esse seu sentimento incompreendido acaba ficando singelo e maravilhoso de ver tudo que é passado pelo jovem rapaz. Karen Martínez faz um trabalho incrível que inicialmente pensei que não funcionaria bem ao se transformar num garoto, mas no decorrer do filme suas sutilezas são tão interessantes de ver que ficou muito bom tudo que fez para o filme.
A produção com muita certeza sofreu horrores para gravar tudo, pois a todo momento temos trens andando com centenas de figurantes em cima e muitas cenas no meio de florestas, mas o resultado final é maravilhoso de ser observado, e cada momento a densidade cenográfica vai aumentando e ficando mais incrível de se ver. Somos apresentados a cada instante um novo elemento cênico que pode nem parecer importante de início, mas toma proporções tão inteligentes ao adquirir sentido que fica perfeito. A fotografia intimista foi sábia em cada ato, pontuando momentos de mais calor com cores vivas, e colocando tonalidades sombrias quando a tensão ficava mais densa de forma bem acertada e pautada em tudo de melhor que o diretor já conhecia por ter trabalhado em outros ótimos filmes como câmera.
Enfim, é um excelente filme que mereceu ter sido o vencedor da Mostra tanto pelo júri quanto pela crítica especializada e ainda levar menção honrosa do público, ou seja, conseguiu levar os três maiores prêmios que poderia e com isso torço mesmo para que alguma distribuidora lance ele comercialmente para que o público conheça bons filmes que não são de diretores famosos e que com certeza são melhores que muitos que vemos nas redes de cinema diariamente. Recomendo que todos vejam assim que for possível. É isso pessoal, fico por aqui hoje, mas amanhã tem mais Itinerância da Mostra, com um filme que ficou 20 anos engavetado e agora depois de concluído vem com tudo. Então abraços e até amanhã pessoal.
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