Filmes históricos sempre possuem uma levada característica que sempre agrada à todos que votam em premiações. E quando se trata de um tema que predomina e muito na história americana ainda que são os direitos iguais aos negros, aí então é que o foco fica quase que direto, então alie isso à ótima interpretação da apresentadora ícone do país, e pronto a receita de sucesso de "O Mordomo da Casa Branca" está preparada para que se não levar alguns prêmios, no mínimo leve uma enxurrada de indicações nas premiações que devem iniciar em breve. E além dessa receita toda, não podemos negar que o filme, embora um pouco emocionista demais, tenha todos os méritos possíveis por conseguir um enredo forte e ao mesmo tempo coeso com a proposta, batendo com uma luva de pelica para não deixar marcas em ninguém.
O longa nos situa em 1926, Macon, Estados Unidos. O jovem Eugene Allen, que no filme adota o nome fictício de Cecil Gaines, vê seu pai ser morto sem piedade por Thomas Westfall, após estuprar a mãe do garoto. Percebendo o desespero do jovem e a gravidade do ato do filho, Annabeth Westfall decide transformá-lo em um criado de casa, ensinando-lhe boas maneiras e como servir os convidados. Eugene cresce e passa a trabalhar em um hotel ao deixar a fazenda onde cresceu. Sua vida dá uma grande guinada quando tem a oportunidade de trabalhar na Casa Branca, servindo o presidente do país, políticos e convidados que vão ao local. Entretanto, as exigências do trabalho causam problemas com Gloria, a esposa de Eugene, e também com seu filho Louis, que não aceita a passividade do pai diante dos maus tratos recebidos pelos negros nos Estados Unidos.
O longa que é baseado num texto real da entrevista de Eugene para o Washington Post possui dóis méritos principais, o fator de conseguir contar 80 anos da história de um homem em 132 minutos sem que fique nenhum pouco acelerado, e principalmente mesclar esse pano de fundo, ou melhor frente de tela, com tudo que ocorreu nos bastidores de 1926 à 2008 no quesito de direitos civis para os negros nos EUA. E o diretor Lee Daniels soube trabalhar com uma precisão cirúrgica para não priorizar nenhuma das duas vertentes, sempre equilibrando bem sua mão para que tudo ficasse suave sem deixar que o tema polêmico agredisse o longa e também não caísse na banalidade. E isso torna o longa perfeito de ser assistido e porque não dizer que servirá de base para ilustrar muitos fatos históricos que ocorreu no período, sem que precisasse torná-lo um documentário ou algum filme mais chato e explicativo de cada momento. Claro que muita coisa acaba sendo fantasiada, mas em momento algum sentimos que o diretor apoie um ou outro vértice, sendo minucioso nas suas opiniões e agradando bem por isso.
O diretor também contou com um casting do mais alto calibre para ilustrar sua história, e pode talvez ser até muito mais feliz com a repercussão do longa graças a isso, pois todos os protagonistas dão show frente às câmeras e os coadjuvantes não deixam por menos, sendo extremamente funcionais nas cenas em que aparecem. Forest Whitaker mais uma vez mostra que em dramas que exijam sua personalidade marcante, ele coloca tudo que pode e muito mais, e o melhor sem exagerar, a maquiagem caprichada para mostrar os diversos momentos encaixaram bem demais com o trejeito na perna que adotou, dando um charme a mais para o mordomo. Oprah Winfrey já pode mandar escrever seu nome na estatueta de melhor atriz coadjuvante, pois coloca a atuação de um papel que poderia ser extremamente simples como uma diva nenhuma conseguiria fazer, e se alguém estava a achando padrão demais, viu o prêmio ser agarrado com unhas e dentes na cena em que expulsa o filho de casa. Dos atores que interpretam os presidentes, todos conseguem impor bem sua característica marcante da época, mas Robin Williams conseguiu cativar de forma interessante sendo bem sútil e Alan Rickman conseguiu fechar com um charme a mais a trajetória do mordomo aliando um bom diálogo com sua personalidade, além claro de Jane Fonda sua esposa conseguir uma cena bem carismática e ao mesmo tempo tão chaveada para o momento do mordomo. David Oyelowo mostrou uma segurança para seu personagem que muitos atores não conseguiriam manter, e aliado a uma ótima maquiagem conseguiu ser estável em todas as fases do personagem. Cuba Gooding Jr. está tão bacana no personagem que penso não ser o mesmo ator que vivia reclamando de estar falso em outros filmes, então gostei muito do que fez pelo personagem e pelo filme. Poderia citar muitos outros que foram extremamente corretos para com o filme, mas ficaria horas escrevendo o texto, então vou destacar a pequena ponta forte de Alex Pettyfer que se sobrasse mais tempo poderia ser um trunfo impressionante, e como destaque negativo a mísera participação de Mariah Carey que é completamente dispensável na versão, não sei se foi desfavorecido seu corte, mas não serviu para praticamente nada.
O visual de filmes de época é maravilhoso, e nesse que passa por diversos momentos então é espetacular, pois consegue mostrar figurinos que marcaram todos os grandes momentos dos anos 20 até a atualidade e junto disso, mostrar que a Casa Branca mesmo sendo um ícone, houve também variações internas interessantes de cenário de acordo com o gosto de cada presidente. A maquiagem foi um dos fatores mais interessantes da trama, pois conseguiu ir transformando os personagens junto dos figurinos, marcando cada momento de uma forma melhor que a outra, e isso agradou demais. A fotografia poderia ter sido um pouco mais intimista em diversos momentos chaves, mas optou por ser mais abrangente e acerta também nisso dando diferentes tons sempre puxados mais para o amarelado para segurar a datação do filme.
Enfim, é um filme agradável que vai muito além por conter boas atuações onde marcam presença com um tema tenso onde tudo poderia dar errado e o diretor acabar sendo criticado por fazer mais racismo em cima do que jogar vantagem pra cima do que foi mostrado. É um filme que nem todos devem gostar muito de assistir, por não ser ágil e determinar um longuíssimo período, mas agrada com certeza a todos que gostarem de um bom épico. Aguardaremos se irei acertar nas minhas apostas para indicações dos atores. Fico por aqui no texto, mas hoje a noite teremos já o início da Itinerância da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, então já convido à todos para comparecerem ao SESC Ribeirão para conferirmos toda terça, quarta e domingo, excelentes filmes de diversos países que com certeza não devem nem passar perto da cidade comercialmente. Então abraços e até mais tarde.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...