Alguns dramas familiares costumam ser bem interessantes por trabalhar todo o lado psicológico dos personagens, mas quando temos um elemento que não faria parte do estudo, no caso o médico, sendo inserido no mesmo contexto do que ele está estudando, as coisas tomam rumos que acabam por desestabilizar fortemente todas as barreiras da trama, dando a ela, um fator que acaba convergindo para um lado ao mesmo tempo tenso e preocupante. Com essas palavras posso praticamente definir tudo que o espectador pode esperar de "Run & Jump" sem tirar mérito algum de todas as boas cenas que estão presentes no filme.
O filme nos mostra que Vanetia reconstrói sua vida depois que seu marido sofre um derrame que muda sua personalidade. Entra em suas vidas o pacato pesquisador americano Ted Fielding, que fica hospedado com eles durante dois meses para documentar o processo de recuperação do casal. Inicialmente, Vanetia não se sente bem sendo estudada, mas logo começa a se acostumar com Ted. Uma nova família começa nessa história de amor nada convencional.
O roteiro é interessante por ter pontos abertos fora de uma normalidade padrão, mas ficou faltando algum fator de clímax mais pautado para que ele decolasse, pois tivemos praticamente dois momentos ocorrendo praticamente ao mesmo tempo, que poderiam ocorrer viradas interessantes, mas a diretora que estreia seu primeiro longa após ser indicada ao Oscar de melhor curta-metragem em 2009 não consegue nem fazer algo linear que tenha seus bons picos, optando então por vários picos esparsos que dão as rédeas para que o público faça as devidas ligações e acabe gostando ou não de tudo que verá na telona. No geral é um filme bem agradável, que poderia ter um ritmo mais cadenciado, e principalmente definisse um determinante mais focado, mas isso não atrapalha muito o andamento e Steph Green faz uma boa estreia em longas, vamos ver se melhora ou piora num segundo momento.
O elenco principal se sustenta bem dando uma forma consistente para o longa e tirando alguns certos exageros por parte de alguns, todos fazem com que seus papéis sejam bem agradáveis. Maxine Peake assim como diz em um de seus diálogos exagera na quantidade de felicidade na maior parte dos momentos, tanto que chega a incomodar, mas no momento que demonstra o vértice oposto faz também de forma bem inteligente e dramática que acaba mostrando que sabe ter boas expressões nos diversos momentos, poderia ter oscilado mais nos trejeitos que agradaria não ficar sempre feliz demais. Will Forte desmistifica o que dizem que ator de séries não pode ficar pulando entre TV e cinema, pois a cada filme que passa ele mostra uma melhora considerável em sua atuação, aqui embora fique bem claro tudo que vai ocorrer, ele consegue manter um trejeito suave para e sincero que o personagem pede, mas poderia ter influenciado alguma mudança maior antecipadamente que intensificaria mais a trama. Embora more mais nas séries que em longas Edward MacLiam consegue dar uma essência para seu personagem que poucas vezes vimos algum ator entrar tanto no clima sentimental que derrames causam nas pessoas, e além disso conseguiu manter movimentos intensos e tudo mais que o personagem pedia, na última cena onde corre mancando ficou perfeita. Brendan Morris não é o foco principal da trama, mas nas cenas que aparece consegue chamar bastante atenção, e com isso se destacar com o que faz, mesmo sofrendo bullying por suas escolhas. Os demais atores não se destacam tanto, chamando atenção em uma ou outra cena, mas sempre auxiliando para que o drama ficasse o mais fechado possível, não dando margens para outras avaliações senão a que a diretora escolheu lidar.
O visual da Irlanda é muito bonito e poderiam ter optado por planos mais abertos para mostrar mais o cenário, mas como o foco era o trabalho psicológico do elemento intruso na vida cotidiana de um grupo, acabamos tendo cenas onde os atores foram mais valorizados, então os elementos cênicos que fazem parte do filme acabam sendo mais parte da cenografia do que utilizados para retratar alguma simbologia, tirando claro o envolvimento dos animais, que já podem ser até conectados com a quantidade de roupas de bichos que a filha caçula usa durante toda a exibição. A fotografia usou de tons mais escuros para dar uma dramaticidade maior para a trama, e assim mesmo os personagens nos seus momentos mais alegres acabam ficando num momento mais intimista, já que sua vida está sendo invadida.
As canções que foram colocadas também serviram bem para em parte ajudar a explicar os sentimentos dos personagens e isso deixou o filme mais interessante ainda, pois quando uma música funciona como parte integrante da trama, acaba dando uma nova vivência para o filme, o que agrada mais ainda.
Enfim, é um bom filme que dá para analisar muitos pontos da mente das pessoas e dá boas discussões em debates públicos, não sei se comercialmente ele teria bons resultados por aqui, principalmente se pensarmos qual nome inventariam ao abrasileirar o título já que sempre sai alguma coisa nada a ver com o nome original, mas que é um primeiro longa bem interessante da diretora, isso com toda certeza é, e por isso acabo recomendando bem ele, então quem estiver afim e não pode ir na sessão da Itinerância da Mostra Internacional de São Paulo, agora terá de aguardar um bom tempo até que surja em mídia para ver, já que esse nem comercialmente lá fora foi lançado, só rodando alguns poucos festivais. Fico por aqui hoje, mas volto com mais filmes da Mostra na terça-feira, que inclusive será mostrado aqui o grande ganhador, então já deixo aqui meu convite para todos os ribeirãopretanos comparecerem no SESC às 20hs para conferir se realmente o júri e a crítica da Mostra escolheu bem o vencedor. Abraços e até terça pessoal.
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