Alguns dramas que têm aparecido ultimamente devem ter passado bem longe do Vaticano, pois arrumariam uma confusão tremenda por lá. Mais um caso desse estilo é o filme "A Religiosa", que está cheio de cenas polêmicas sobre os maus tratos que algumas freiras mais rebeldes que tentavam desistir de sua vocação no século 17 sofriam, morando em celas, tendo de sofrer torturas diárias, além de muitas outras coisas. E além disso, mostrando algumas coisas meio contraditórias com o que todos imaginavam acontecer dentro dessas fortalezas que eram os conventos. É um filme forte, mas também muito bem acalmado pelo semblante tênue e a boa interpretação da protagonista que domina a cena com um fervor rico de dramaticidade que poucas atrizes conseguem atingir.
O filme nos mostra que no século XVII, a jovem Suzanne sonha em ter uma vida livre, mas seus pais têm outros planos para ela: colocá-la em um convento. Embora resista aos planos, Suzanne é forçada a seguir a preparação para a vida religiosa, entre madres superiores tirânicas, e outras carinhosas em excesso... Aos poucos, a jovem começa a preparar seu plano de fuga.
O diretor foi preciso em escolher tudo de forma bem característica que até espanta a monstruosidade dos conventos, castelos e tudo mais que é colocado em cena, mas o mais chocante são os tratamentos sofridos pela garota ao pedir o cancelamento dos seus votos, chega a ser tão triste que ficamos pensando se a Igreja fazia isso com quem é de dentro deles, o que eram capazes de fazer com quem era contra? E não bastando isso, o diretor se revela mais polêmico ainda ao mudar a protagonista de convento e vir com algo que com certeza faria qualquer grande de lá de dentro incinerar o diretor junto com os rolos do filme. E isso é fenomenal de se ver numa película dramática, pois mostra que o cinema não possui limites para discutir tudo que for possível. A única queixa é que alguns momentos são exageradamente pausados e cansam um pouco, podendo ter um ritmo melhor em algumas cenas, mas estamos focados em algo do século 17 então esse era o ritmo certo para passar a ideia.
A protagonista Pauline Etienne é perfeita para o personagem, dando uma doçura para a câmera tão bela que impressiona e quando a coisa aperta pro seu lado usa uma dramaticidade colocando todos seus trejeitos para algo impressionante de ver na tela, espero ver mais trabalhos dela em breve. Louise Bourgoin faz uma madre tão severa que chega a espantar qualquer mulher que sonhe em ser freira, se é que existe ainda alguém que sonhe com isso, e mentalmente muitas pessoas irão mandar um palavrão nas suas últimas cenas. Isabelle Huppert é amorosa demais e acaba ficando estranho suas primeiras cenas, claro que depois iremos entender melhor, e sua interpretação desesperadora em algumas cenas é perfeita. As demais apenas ligam as cenas, então nem vale muito destacar ninguém.
O visual da trama já falei no início e está impecável, com locações perfeitas, elementos cênicos na medida sem ser exagerado de coisas saltando nos ambientes e isso deixou o filme condizente sem ser pesado, afinal estamos falando de uma produção francesa e não de uma americana que lotaria os conventos de cruzes, velas exageradas e tudo mais. A fotografia ficou bem pesada com a quantidade de cenas escuras iluminadas apenas por poucas velas, e isso deu um tom maravilhoso pra trama que junto dos véus e das peles bem brancas das protagonistas acabou ficando muito bacana de ver.
Enfim, é um filme leve, interessante de assistir, mas lotado de coisas polêmicas sobre como a religião e as famílias agiam num passado distante, ou será que hoje ainda podemos ver coisas desse estilo? Fica a dica para reflexão após a sessão, pois com certeza recomendo ele, principalmente para quem gosta de filmes mais calmos sem muita agitação. E para quem for de Ribeirão Preto, o filme está em cartaz no Cine Belas Artes às 19hs até quarta-feira, então aproveitem. Fico por aqui agora, mas nessa semana ainda tenho mais um para conferir, então abraços e até breve pessoal.
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