Sempre me perguntam: Coelho, você também é contra as refilmagens? Respondo de bate pronto que não, pelo seguinte motivo, não sou fã de rever filmes, mesmo que sejam clássicos ou que eu tenha me apaixonado por ele, nem mesmo na TV, então se posso ver um clássico moldado com uma nova roupagem mais moderna e atualizada, mesmo que não saia tão perfeito como foi o original, então por que não deixar que refilmem tudo? E já que está tão na moda falar de bullying nas escolas, novelas, e tudo mais, porque não refazer uma versão moderna de "Carrie: A Estranha", com uma das maiores estrelas mirins que temos no cinema. Portanto, vou tentar abster de falar sobre o passado e analisar o que de bom ficou nesse filme que infelizmente não foi tão bem lá fora, mas que é um terror muito bacana cheio de cenas fortes e marcantes, onde a interpretação de Cloë chega a níveis impressionantes de expressão.
O filme retrata um grande desastre ocorrido na cidade americana de Chamberlain, Maine, destruída pela jovem Carietta White. Nos anos anteriores à tragédia, a adolescente foi oprimida pela sua mãe, Margaret, uma fanática religiosa. Além dos maus tratos em casa, Carrie também sofria com o abuso dos colegas de escola, que nunca compreenderam sua aparência, nem seu comportamento. Um dia, quando a jovem menstrua pela primeira, ela se desespera e acredita estar morrendo, por nunca ter conversado sobre o tema em casa. Mais uma vez, ela é ridicularizada pelas garotas do colégio. Aos poucos, ela descobre que possui estranhos poderes telecinéticos, que se manifestam durante sua festa de formatura, quando os jovens mais populares da escola humilham Carrie diante de todos.
O mais interessante da história é ver que ela foi escrita por Stephen King em 1974 e conseguiu ser adaptada de tal forma que parece ter sido feita exatamente para os tempos modernos, onde o fanatismo religioso e o bullying escolar anda destruindo famílias em um nível altíssimo. E utilizando o mesmo roteirista da versão original, Lawrence D. Cohen, juntamente com um novato em longas, Roberto Aguirre-Sacasa, ambox conseguiram tirar uma essência do livro do grande mestre do terror que dificilmente algum longa novo conseguiria ficar tão bem pautado. E com essa história pesada em mãos, a diretora Kimberly Peirce soube utilizar muito bem do grande orçamento que lhe deram para colocar efeitos como nunca o diretor do original sonhou, dando um realismo nas mortes que o diretor da série "Premonição" com certeza ficou com muita inveja. Não posso dizer que a mão da diretora seja das melhores para as cenas mais dramáticas, pois poderia ter dado mais ênfase, já que tinha nas mãos uma das melhores atrizes da atualidade, mas na hora do vamos ver realmente, onde o terror predomina ela soube fazer algo bem carnicento sem dó nem piedade, contrariando exatamente o que muitos achavam que seria diferente, já que seus longas anteriores eram carregados de dramaticidade. No geral, o mix roteiro bem pautado e atual com uma direção pesada no quesito terror, o resultado é bem satisfatório, muitos irão falar que fugiu da versão original, mas já disse e reforço, que devemos considerar como um novo filme e que esse sim adentrou bem nas possibilidades propostas.
Já disse isso em todos os filmes que assisti de Cloë Grace Moretz que os produtores, diretores e afins precisam trabalhar bem essa garota para não deixar estragar seu talento como aconteceu com tantas outras jovens atrizes que ao chegarem na idade adulta se perderam e não conseguem fazer mais um filme decente, pois essa jovem mostra em todas as cenas do filme que não basta fazer cara de espanto ou estado de choque, tem de vivenciar o personagem, fazendo com que o público acredite no que está vendo, e ela faz isso com uma perfeição que fez com que os que lhe bulinavam antes das filmagens quando foi escolhida calassem a boca com a grande atuação que fez aqui. Julianne Moore, aparecendo em dois filmes na mesma semana no Brasil, vem tão impactante como uma mãe religiosa fervorosa que não quer que sua filha tenha nenhum contato fora de sua casa e da bíblia que chega a ser tenso demais só de ver suas cenas de autopunição e isso choca de uma forma que mostra que a atriz ainda está no ritmo de boas atuações que lhe deu o Globo de Ouro do ano passado, claro que nem sempre irá acertar em cheio, como ocorreu falhas no filme que comentei ontem, mas ainda assim, se mostra precisa nos diálogos e quando a questão é dramaticidade no ponto, ela é o nome a falar. O filme basicamente é só das duas, mas as garotas Gabriella Wilde, Portia Doubleday, e a não tão garota Judy Greer conseguem ter seus bons momentos colocando boas discussões do que vale ou não fazer na sua juventude, e tudo que pode ficar em sua mente depois de seus atos, não temos nenhuma grande atuação delas, mas todas deixam essa mensagem no ar com seus momentos. Dos homens prefiro nem comentar sobre nenhum em específico, já que todos, sem exceção, fazem de seus momentos, atuações dignas de serem esquecidas.
Outro ponto interessante da trama é ver que a equipe de arte soube dosar elementos sutis, mas muito bem encaixados nas cenas de forma a trabalhar com a pregação religiosa exagerada da mãe, colocando símbolos por toda a casa, fazendo o closet mais tenso e pequeno, trabalhando com cenários que embora sejam comuns de ver em diversos filmes ficaram mais tensos com a forma que escolheram filmar, e na cena clímax do filme souberam fazer uma festa com toda classe possível de ficar bonita e cheia de possibilidades para que tudo fosse usado pela protagonista. A fotografia intimista usou de cores claras, o que geralmente não é usado em filmes de terror, e soube dosar na iluminação para que a trama tivesse o tom ideal da carnificina final onde o vermelho domina sem dó nem piedade, onde alguns efeitos saíram até um pouco de controle e ficassem com clima de filmes das antigas, onde não existiam tantos recursos em computação gráfica e os efeitos mais faziam rir do que dar medo do que ocorria, o que aqui quase inverte o jogo.
Enfim, é um filme que ficou tão bem atuado que praticamente todos os erros existentes podemos ignorar e com isso obter uma diversão interessante num filme de terror trash com muito sangue e violência, onde muitos irão reclamar de terem refilmado um clássico, mas que se olhar a fundo verá que ele continua mais atual do que nunca, então recomendo tanto para quem não viu o original de 76 para que veja com outros olhos sem ir com pré-conceitos de que não chegará aos pés do original, quanto quem gosta de filmes de terror trash que andam em falta ultimamente. Poderia apenas ter dramatizado mais algumas cenas que daria um charme a mais para o longa, mas isso acabaria aumentando a duração e não indo ao ponto que realmente vale a pena. Espero que fora dos EUA faça um bom lucro para darem uma continuação bacana pra trama, mas acho bem difícil de acontecer. Vale reforçar que não é suspense daqueles que você vai ficar assustado com algo e muito menos "terrir" daqueles que você mais ri do que ocorre do que fica com medo, então usando dessa opinião do Coelho, veja se gosta do estilo e vá conferir mais uma vez Cloë detonando nas telonas, o que me deixa mais irritado ainda do seu filme anterior não ter estreado no interior por culpa da distribuidora, mas fazer o que se não tenho como morar numa capital. Fico por aqui, mas ainda falta uma estreia para opinar, então abraços e até breve pessoal.
2 comentários:
É incrível como ultimamente eu ando achando os filmes bem fraquinhos. Parece que tá virando teatro (quase nada vale a pena).
Terror não é a minha praia, mas dependendo da história até me agrada.
Devo dizer que não vi a versão original, mas disseram que era mais sombrio.
Tem uma lição legal que é exatamente até aonde vai o limite de cada um e como a pessoa levada ao limite reage quando explode, mas é um filme que não me convenceu.
Olá! O original é mais sombrio porque não tinha tecnologia, então tudo é mais real, mas acaba sendo mais cômico do que terror ver a forma que reage a protagonista no original. Eu achei bacana pelo terror, suspense quase nenhum, e atuação bacana, mas se quisermos um filme denso, sem chance de ser essa a opção. Abraços!
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