O Estranho Caso de Angélica

1/19/2014 03:02:00 PM |

O diretor Manuel de Oliveira tem o costume de fazer filmes estranhos, e dessa vez ele resolveu abusar do espiritismo para tentar convencer que um contato apenas mesmo depois de morta é suficiente para desencadear um amor em "O Estranho Caso de Angélica". O problema é que esse contato para quem não for realmente favorável a acreditar nisso, fica relevante demais e amplo demais, deixando ele exageradamente bobo para conseguir manter o interesse dos espectadores nele. Ou seja, está na hora do nosso querido diretor de 106 anos parar de ficar querendo viajar em suas imaginações.

O filme nos mostra que na Portugal da década de 1950, o fotógrafo Isaac vai à região do Douro para documentar antigos métodos de trabalho nas vinhas. Hospedado numa pequena pensão, ele é acordado subitamente à noite para fotografar o corpo de Angélica, uma linda moça que acabara de falecer.

Se você leu a sinopse acima e achou estranho algo tão simplório, pode crer que o filme é exatamente isso, ele tenta nos mostrar que a vida simples e de modo antigo é o melhor que pode existir, juntamente mostrando que as conexões entre a matéria e a antimatéria são mais simples do que qualquer um pode acreditar. Porém o diretor e roteirista Manoel de Oliveira esqueceu que como o filme foi escrito nos anos 50, ninguém hoje acredita que tudo roda dessa forma, não temos mais essa prática da boa vizinhança que você larga as coisas num dia para buscar no outro, que o espiritismo está sim forte, mas não da forma que o mundo aclamou em "Ghost", e olha que saiu bem depois desse filme ser escrito. Com isso, o longa acaba virando uma grande piada, com fantasminhas voantes, imagens escuríssimas e tudo de ruim que você possa pensar numa obra estranha, e poderia até falar para o diretor aposentar, mas pelo que conferi ele já fez mais um longa após esse, então força a 5ª idade e aguardemos para ver se conseguiu fazer algo melhor, pois o que vimos aqui e no curta que esteve em "Centro Histórico" a situação foi lastimável.

O ator Ricardo Trêpa mora nos filmes do diretor, saindo para fazer um ou outro filme apenas de outros diretores, mas aqui ele soou tão superficial que até voou, deixando seus pensamentos sempre jogados ao vento, dizendo poesias para quem quiser ouvir e dando sua tradicional moedinha para o mendigo, poderia ao menos ter feito expressões mais plausíveis nas cenas que vê o fantasma. Pilar López de Ayala é uma excelente atriz até se fazendo de morta, que por sinal ficou belíssima, mas sem poder expressar usando apenas aparições acabou deixada de lado e poderia talvez ter salvo a película. Adelaide Teixeira é a pessoa que mais fala no longa e acaba sendo até inconveniente na entonação repetida de algumas frases, o seu papel era algo bem comum de ocorrer nas antigas, mas hoje já teriam feito picadinho dela pela alta intromissão na vida alheia. Os engenheiros Luís Miguel Cintra e Ana Maria Magalhães junto de José Manuel Mendez são o motivo da piada plus por estarem numa mesa de café da manhã, que no longa insistem em legendar como almocinho, não sei se em Portugal é assim, discutem algo tão complexo quanto falar de equações: a antimatéria como se fosse algo simplista de explicar, enquanto o protagonista viaja em sua mente pensando em tudo que estão falando, ou seja, quase uma gag cômica num filme dramático. O restante melhor nem perder meu tempo falando de cada coisa que não valeria a pena.

O visual colonial da região do Douro é algo bacana de ver na telona, e a equipe de arte valorizou bem todos os elementos cênicos para que tivéssemos uma boa impressão do lugar. Claro que ficou parecendo que o mundo parou ali e não evoluiu, mas vale a pena como locação para um filme de época. Os elementos cênicos são praticamente 3 apenas, a câmera, as fotos no varal e o passarinho, que só coexistem na mente do diretor e mais nada. Um dos pontos que mais erraram também foi na fotografia exageradamente escura, que só serviu inicialmente para uma das primeiras cenas, para que o jovem falasse para trocarem a lâmpada, pois do restante, mesmo em cenas se passando de dia, esqueceram completamente de iluminar o cenário, sendo quase impossível de ver qualquer detalhe, e com um ritmo lento de filme é capaz até do espectador dormir de tão escuro que é a película.

Enfim, só falei mal do filme, mas como disse temos de relevar, afinal não é todo dia que vemos um diretor de mais de 100 anos na ativa, buscando tudo para ser feito exatamente como quer. Talvez por já estar no fim dos dias de vida, ele quis mostrar para seus familiares alguma forma de se conectar com ele através da antimatéria de seu corpo e isso acabou virando um filme, mas bem chato por sinal. Não recomendo o longa pra ninguém, a não ser que você seja um extremo conhecedor do lance de espíritos e planos do além, pois talvez você consiga enxergar algo a mais que eu não vi, e caso queira fale para nós nos comentários qual foi sua experiência com o filme. O longa fica em cartaz na próxima terça(21/01) e quarta(22/01) no Cine Belas Artes de Ribeirão, então quem quiser muito ver ele, fica a dica, além de estarem passando ainda "Trem Noturno Para Lisboa" que esse sim vale a pena ver. Fico por aqui nessa semana, afinal já vi todas as estreias nas prés que tiveram, mas volto durante a semana para colocar mais coisas novas no site, principalmente na aba Não Passou no Cinema com algum filme que não veio para o interior nos cinemas. Abraços e até breve pessoal.


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