Quando falamos de Segunda Guerra Mundial nos cinemas, todos já pensam em mortes de judeus ou no Hitler fazendo alguma das suas loucuras, ou talvez em super-heróis lutando contra o nazismo, mas o que muitos nunca haviam parado para pensar é como ficaram as famílias dos oficiais que foram condenados e presos ou a própria população alemã que se viu jogada ao meio de diversas nações mandando em seu país. Bem ninguém tinha imaginado isso até ontem, pois "Lore" se propõe a mostrar tudo isso sem ocultar nenhuma ação forte por parte dos protagonistas, que para ajudar são crianças e adolescentes filhos de um oficial, e tudo se desenrola muito bem encaixado com o clima passado, tanto que só me queixaria da longa duração que cansa um pouco até o último choque mais duro.
O exército alemão entrou em colapso. O Terceiro Reich chegou ao fim e os aliados ocuparam a Alemanha na primavera de 1945. Esta situação faz com que a família da jovem Lore se desintegre, já que seu pai, um oficial da polícia nazista, foge às pressas e logo é seguido pela mãe. Lore recebe instruções para levar seus quatro irmãos mais novos ao encontro da avó, que vive na distante Hamburgo, precisando enfrentar a fome, o frio e os perigos inerentes da viagem.
O roteiro foi bem trabalhado para colocar em pauta tudo que se imagina acontecer de forma mais dramática impossível com um grupo de jovens para atravessar um país, e a diretora e roteirista Cate Shortland foi fria e crucial em todas as escolhas que deu para a trama, sem pestanejar um segundo se quer, tanto que chega alguns momentos que você tem certeza de que ela não vai fazer aquilo, ela vai lá e faz com a pontuação máxima que poderia atingir. Além disso, todos sabemos o quanto é difícil trabalhar com crianças, e aqui não temos nenhuma facilidade, já que é meio de selva, abrigos imundos, e tudo mais de intempérie que possa surgir pelo caminho, e ela vai lá e faz as crianças fazerem tudo como grandes adultos, trabalhando tanto psicológico delas quanto o físico em alguns momentos, e isso fica impressionante de ver na tela. Porém o longa de tão duro que é aparenta ter uma duração imensamente maior do que os 109 minutos e isso pra quem não é realmente fã de filmes do estilo é capaz que durma ou saia da sala, mas quem for corajoso vai aguentar com firmeza tudo e se surpreender com o que é mostrado.
A atuação de Sakia Rosendahl a faz parecer até mais velha de tamanha responsabilidade que tem para com o filme, e isso a enobrece demais com seus atos e trejeitos empregados com sutileza e ao mesmo tempo quando precisa com a robustez impecável em seu primeiro longa. Kai-Peter Malina fala pouco, mas seu olhar é imprescindível nas cenas que necessita, ou seja, manda muito bem também. Os garotinhos André Frid e Mika Seidel realmente parecem gêmeos, tanto que de cara imaginamos ser um único ator mandando ver em dois papéis, mas isso seria hollywoodiano demais, e aqui o pessoal faz na raça, e ambos os garotos em cada cena principal sua faz muito bonito. Dos adultos que entram em cena temos de destacar apenas as cenas duras da mãe Ursina Lardi que consegue fazer com que ao mesmo tempo que ficamos com dó dela em alguns momentos também ficamos com muita raiva. E vale destacar também a frieza do pai Hans-Jochen Wagner na sua cena inicial na casa que chega a um nível de tensão logo de cara.
O cenário embora seja de grande miséria agrada muito bem visualmente e cada elemento cênico utilizado no caminho é impressionante como funciona bem, sendo usado na medida certeira e pontual. A escassez de comida é visível e como as florestas estão castigadas e cheia de mortos nem elas servem de alimentação para os jovens, mas não é por isso que fica menos belo o cenário. A fotografia usou muito da iluminação natural para encontrar sua nitidez frente a cada momento, horas utilizando do escuro, horas tendo relances de sol passando pelas folhagens, e isso demonstra um trabalho ímpar para agradar o espectador final com emoção na medida.
A trilha bem pontuada nos momentos chaves chama atenção pra onde algo vá acontecer, mas poderia ter sido trabalhada melhor para dar um ritmo mais acentuado na trama e não cansar tanto de forma ao longa parecer ainda maior do que é realmente, mas tirando esse detalhe, ela é extremamente cabível com o que é proposto.
Enfim, é um excelente filme que recomendo demais para quem gosta do estilo dramático mais tenso, que nem o proprietário do cinema mesmo disse, algumas pessoas não irão aguentar o tranco que o filme passa, mas quem conseguir ver tudo vai ficar bem feliz com o resultado final. Pena que por ser algo mais artístico demorou um pouco para aparecer por aqui, mas para quem é de Ribeirão Preto, o filme segue em cartaz no Cine Belas Artes que fica dentro dos Estúdios Kaiser na Mariana Junqueira com a Jerônimo Gonçalves e recomendo com toda certeza que vá conferir. Encerro aqui a semana cinematográfica na torcida para que amanhã receba muitas estreias nas programações dos cinemas que recebo à noite, então abraços e até breve pessoal.
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