O período da escravidão foi algo que deixou muitas manchas nos países que existiu, e em alguns podemos até dizer que existem não da forma como foi, mas de maneiras menos monstruosas. Com essa ideia em mente, o que podemos dizer de "12 Anos de Escravidão" é que o diretor não se absteve de detalhar todo o sofrimento do protagonista, muito menos de revelar os abusos que sofriam, transformando o longa em algo bem interessante de assistir, mas de longe não é o melhor filme do ano que fizesse valer o Oscar de Melhor Filme que ganhou, ficando claro que muitos votaram nele como o melhor por culpa de ficarem marcados como preconceituosos por não votar. Em síntese a sensação de assistir ao filme se dá quando ao acabar, as pessoas saem da sala como se tivesse acompanhado um velório, conscientes do que viram, entenderam e mudos por não ter o que falar sobre nada do que aconteceu, apenas com a sensação de saber que sempre foi um ato errado que existiu e que somente depois de muito tempo conseguiram reverter a crueldade que ocorria, afinal como sabemos muitos demoraram anos e anos para acabar ficando livre realmente.
O filme é baseado na inacreditável verdadeira história de um homem que luta por sobrevivência e liberdade. Na época pré-Guerra Civil dos Estados Unidos, Solomon Northup, um homem negro livre do norte de Nova York, é sequestrado e vendido como escravo. Diante da crueldade (personificada por um dono de escravos desumano) e de gentilezas inesperadas, Solomon luta não só para se manter vivo, mas também para manter sua dignidade. No décimo segundo ano de sua odisseia inesquecível, Solomon encontra casualmente com um abolicionista canadense, que muda sua vida para sempre.
A história é tão bem contada que essa sim mereceu o prêmio pela adaptação do roteiro, que é onde optaram por colocar detalhes sutis, mas de uma força de expressão imensa em cada ato e forma de atuar de cada um dos donos de escravos. E juntamente com isso o diretor Steve McQueen conseguiu trabalhar os pontos fortes sem que fizesse um filme de horrores chocante, mas trabalhando com consciência para adequar tudo dentro de um padrão artístico bem favorável com o que a trama necessitava para não ficar nem boba demais apenas com ideologias, nem um mar de sangue desnecessário, afinal todos sabem bem como os escravos sofriam nas mãos de seus donos. Outro ponto muito favorável do diretor é como ele trabalha com o elenco, deixando o protagonista sempre em foco, mas dando abertura de destaque em diversos momentos para cada um dos coadjuvantes aparecer e demonstrar que faz bem, e com isso a trama se desenvolve redondinha tendo pontos brilhantes durante toda a trajetória.
Já que entramos no detalhe dos atores, Chiwetel Ejiofor se põe em destaque aberto para todas as possibilidades de forma crua e pura com expressões bem fortes e marcantes, mas ao mesmo tempo não entra no tão famoso cliché que poderia detonar completamente seus trejeitos, e com isso acabou ganhando muitos pontos nas premiações para ser indicado e deve sair rapidamente da excessiva quantidade de papéis coadjuvantes que já fez para mais alguns protagonistas com certeza. Lupita Nyong'o foi mais uma das grandes sacadas de filmes ao escolher quem deve ser a coadjuvante a concorrer prêmios, pois a atriz em si aparece em poucas cenas, mas sempre quando está em cena, a câmera brilha em cima de sua atuação abrindo o destaque para que a jovem coloque em suma tudo que pode fazer muito bem e agrada com ênfase no seu semblante interpretativo, só é uma pena que no seu segundo filme já tenha sido tão mal aproveitada para já se queimar. Michael Fassbender é icônico nos papéis que lhe desafiam, e aqui ele está num papel fortíssimo que o deixou muito bem em cena, a ponto de que se não tivesse sido o ano de Leto nas premiações, ele seria ganhador facilmente de tudo. Já falamos diversas vezes que Paul Dano tem melhorado consideravelmente a cada filme que faz, e aqui mesmo sendo poucas cenas pegamos um ódio pelo seu personagem que se fosse numa novela brasileira o jovem teria de ficar sem passear pelas ruas com medo de apanhar da população, muito bem encaixado o papel que faz com seus trejeitos. Benedict Cumberbatch é outro nome fantástico que tem nos entregado excelentes atuações e aqui ele ficou num nível muito interessante de dono de escravo coerente mas ao mesmo tempo sendo um dono de escravo, e com isso ao mesmo tempo que talvez ficássemos felizes com o que ele faz, no fundo ainda fica uma pontinha de rancor. Sarah Paulson consegue chamar a atenção para si em alguns bons momentos, e se tivesse mais cenas é capaz até de virar um personagem marcante do filme, pois segura sua face delicada com marcas nervosas bem interessantes nos seus diálogos. E pra finalizar no quesito atuação precisamos destacar o produtor do filme Brad Pitt, que participa de um fechamento bem interessante que se não fosse favorável poderia ser mais um vilão falastrão com sua cara sempre de canalha que infelizmente não passa confiança para ninguém, mas o protagonista confiou.
A trama visual que nos foi entregue é um ponto bem emblemático no longa, pois trabalharam bem nas locações e nos figurinos, mas não evidenciaram tanto em momento algum alguma marca clássica da época, tanto que se não estivesse marcado na sinopse que ocorreu próximo da Guerra Civil e não soubermos através das aulas de História que esse foi um ponto marcante na libertação dos escravos nos Estados Unidos, em momento algum conseguimos denotar pontos chaves visualmente, mas isso não estraga nada, pois tudo é muito bem usado para retratar a sujeira onde vivem os escravos, os maus tratos sofridos por cordas bem rudes, vestidos de panos simples para as escravas que não possuem destaque e roupas exuberantes para os patrões, e por aí vai com os elementos cênicos usados. As locações incorporaram excelentes fazendas bem montadas para retratar bem como os donos de escravos possuíam muitos bens, apesar de mostrar mais no tamanho e menos em detalhes cênicos. A fotografia trabalhou bem com cores fortes e nos momentos mais escuros puxando pro tom avermelhado que contratou bem, quase chamando o público para um debate sangrento mas sem forçar a barra no filme todo, e para aliviar dramaticamente sempre entre uma cena forte e outra mostrando paisagens das fazendas, e em outros momentos jogando o tradicional algodão para contrastar com os escravos.
A trilha sonora de Hans Zimmer mesmo não sendo um de seus melhores trabalhos está lá bem pautada e tocada com minúcia tanto para segurar a trama quanto para emocionar nos momentos mais marcantes e com isso ele clama nossos olhos para o que o diretor quisesse evidenciar no momento exato, ou seja, o de sempre nas suas trilhas maravilhosas.
Enfim, é um filme tocante, forte, muito bem produzido e dirigido à partir de uma história que sozinha fala mais que qualquer filme, mas que caiu nas mãos certas para fazer algo marcante nos cinemas. Como já disse é um excelente longa, mas não acho que foi o melhor do ano para ganhar tantos prêmios e acredito sim que se não tivesse ganhado um prêmio marcante, em questão de tempo nem lembraríamos da existência dele. Bom pelo menos foi uma boa estreia para a primeira quinta-feira de estreias, com uma sala felizmente bem cheia para o horário, e principalmente por ter sido um filme que já foi lançado há algum tempo, ou seja, muitos poderiam ter visto de forma ilegal, mas deixaram para ver nas salas dos cinemas. Fico por aqui agora, mas ainda nessa semana temos mais algumas estreias para conferir e colocar aqui minha opinião, então abraços e até breve pessoal.
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