Temos de colocar na cabeça que o cinema nacional lança bons filmes também! Não é somente as comédias novelescas que tendem a aparecer, e felizmente alguns desses acabam caindo no interior. "Entre Nós" é um bom exemplo que também elenco de globais sabem fazer coisas fora das novelas e trabalhar com mais introspecção nos seus personagens colocando a dramaticidade para ser trabalhada num roteiro que até poderia virar algo bobo nas mãos de qualquer diretor, mas nas mãos dos Morelli acabou se tornando um filme intrigante que acaba não escondendo nada do público, mas como somos cúmplices do que aconteceu acabamos querendo ver até onde vai tudo, mas ao final o que acaba sendo demonstrado é mais do que poderia ser óbvio demais, deixando uma mensagem bonita no ar para ser refletida com o ato de Vilhena.
A história do filme nos mostra que isolados numa casa de campo, jovens amigos decidem escrever e enterrar cartas destinadas a eles mesmos, para serem abertas dez anos depois. Porém, após uma tragédia ocorrida naquele mesmo dia, os amigos ficam dez anos sem se ver. Agora, este reencontro irá trazer à tona antigas paixões, novas frustrações e um segredo mal enterrado.
Com o roteiro escrito a duas mãos por pai e filho, Pedro e Paulo Morelli, de "Cidade dos Homens" trabalharam o desenvolvimento de amizades e conflitos que acabam mudando as vidas num período mais longo e podem ser reativados num encontro. Mas a forma desenvolvida colocando cada ator para trabalhar quase que individualmente seus problemas no reencontro, foi uma sacada e tanto de Paulo na direção, que ao mesmo tempo que o ator desenvolvia algo, seu problema parecia maior do que a cumplicidade do fator maior que o público já soube logo de início. E com o decorrer da trama somos trabalhados a acreditar por tudo que já vimos em diversos outros filmes para um final completamente tradicional, seja ele trágico ou mesmo doce, e felizmente o que ocorre é algo simples mas que poucos podem entender da forma que bonita que pode ser interpretada do que realmente importa em uma amizade e quais as regras devem permanecer somente entre o grupo. E com isso o diretor acabou transformando o longa de uma história simples em algo bonito e trabalhado sem muita parafernália e muito menos muita informação. Além disso o trabalho de elenco foi tão bem feito que até alguns que julgamos ser difícil de tirar algo conseguiram se mostrar bem para a trama.
Falando mais sobre o elenco, Caio Blat achou enfim um estilo que cabe nele, e se trabalhar bem pode até ser alguém que vamos lembrar muito mais pra frente, pois segurou todo o desespero de ter algo que ocorreu por sua culpa, junto com muita franqueza para um personagem que o dinheiro subiu para a cabeça, então o que vemos é o ator a todo momento entre a cruz e a espada lutando contra tudo e todos dentro de sua mente. Julio Andrade está tão diferente que quase não reconhecemos o bom ator que está cada dia melhorando e chamando mais a atenção para si, seus momentos são mais fechados com a esposa, mas nem por isso acabam sendo deixados de lado, e o que faz sendo crítico com tudo e todos agrada bastante. Paulo Vilhena fazendo alguém mais dócil é coisa rara de se ver, mas acabou fazendo muito bonito em todos os seus momentos, colocando clareza e desespero frente a tudo que necessitava. Carolina Dieckmann conseguiu não ficar aparecendo tanto em algo e se adequou bem aos momentos que necessitavam ser demonstrados como divergentes de duas pessoas, seus olhares disseram muito mais que seus textos e isso é ótimo de ver num filme. Martha Nowill é a que menos parece ter evoluído com o passar do tempo e sua interpretação na cena mais forte acabou temperamental demais, e poderia ter sido trabalhada mais forte na emoção do que na expressão, claro que essa expressividade acabou marcando seus atos e chama atenção, mas esperava mais dela nos últimos atos. Maria Ribeiro é aquela atriz que oscila o humor em quase 2 horas de projeção umas 10 vezes e com essa explosão de diversos elos interpretativos acabamos até confusos de onde o personagem pode chegar, talvez se a vontade única da personagem engravidar não fosse tão forte, poderiam ter trabalhado o lance dos remédios que ganharia uma nova vertente pra trama somente usando um personagem. Lee Taylor aparece pouco, mas nos seus momentos fortes trabalhou tão bem que deu um show de interpretação quase ganhando o papel de protagonista do filme mesmo com 20 minutos no máximo de atuação.
Embora tenha sido filmado inteiramente num único lugar, o visual deslumbrante da casa de campo na Serra da Mantiqueira é impressionante, com uma ambientação harmônica de cores verdes com um pôr do sol sempre colorido, onde os elementos usados acabam sendo quase nem tão importantes para a trama, claro tirando as cartas enterradas, mas o ambiente acaba tendo mais vida na trama sendo até boa parte da história. Com cores tão marcantes, a fotografia trabalhou com muito contraluz para realçar detalhes dos personagens nas cenas noturnas, e nas diurnas abusou de reflexos do sol entre as árvores para que a nuance ficasse linda de ser observada.
A equipe musical trabalhou com um mix interessante de trilhas para realçar as cenas mais tensas e dar ritmo nas demais, e alguns momentos nos remetem às trilhas que Hans Zimmer costumava usar para dar suspense nos filmes que trabalhou, dessa forma não poderia ser melhor acompanhar tudo que foi usado, além claro da ótima canção tema.
Enfim, é um excelente filme nacional que infelizmente não chegará nem perto das bilheterias que as porcariadas nacionais conseguem atingir, mas mais uma vez fica claro que temos bons cineastas no país que querem fazer a diferença com filmes mais trabalhados na introspecção e sim podem aparecer por aí, por exemplo nesse caso o longa acabou participando de Festivais Internacionais sendo inclusive nominado à prêmios, então deixo a dica para quem quiser conferir algo diferente, que pode e deve fazer com que ao sair da sala do cinema acabássemos pensando muito nas nossas amizades e como podemos trabalhar elas. Lembro novamente que não é um filme comum, que você sentará na sala escura e ficará feliz rindo de tudo que vê, mas precisamos pensar também um pouco não é mesmo? Fico por aqui hoje, mas amanhã confiro o filme que entrou em cartaz em toneladas de salas e depois falo do que tem de bom nele, então abraços e até mais pessoal.
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