Walt nos Bastidores de Mary Poppins

3/08/2014 01:17:00 AM |

Certas biografias podem aparecer de forma diferente no cinema, não sendo necessariamente contando a vida completa de uma pessoa, mas sim alguma passagem mais trabalhosa que valha a pena ser contada. Poucos souberam que Walt Disney demorou 20 anos para conseguir os direitos de filmagem de Mary Poppins nos anos 60, e a dificuldade da execução na última tentativa é retratada no filme "Walt nos Bastidores de Mary Poppins" de uma maneira bem leve, descontraída e gostosa de acompanhar, no melhor estilo Disney de construção dos seus filmes. E se um filme de Disney feito pela Disney não poderia ser diferente, ao causar toda uma simbologia mágica interessante para que nos conectemos aos personagens e suas histórias numa montagem bem bonita de se envolver.

O filme nos mostra que durante 20 anos, Walt Disney tentou adquirir os direitos de Mary Poppins da escritora australiana P.L. Travers, que sempre se recusou a vendê-los para que Disney fizesse "um de seus desenhos bobos". Entretanto, a crise financeira faz com que ela tenha que negociar. Desta forma, Travers viaja até os Estados Unidos e passa a trabalhar juntamente com a equipe escolhida por Walt Disney para que Mary Poppins possa chegar às telas. Minuciosa e com muita má vontade, ela começa a encontrar problemas de todo o tipo. Como o contrato lhe dá o direito de cancelar a cessão dos direitos caso não concorde com a adaptação, Disney e sua equipe precisam aceitar seus caprichos para que o filme, enfim, saia do papel.

A história roteirizada por Kelly Marcel e Sue Smith em si é bem leve, mas o diretor John Lee Hancock conseguiu transformar o filme em algo tão bem trabalhado na montagem que da mesma forma que fez "Um Sonho Possível" ser algo tão humano e doce, aqui a amargura da escritora acaba ganhando um tom tão adequado para a trama que mesmo sabendo que o filme foi rodado, acabamos torcendo mesmo para que ela não venda sua história e dificulte a vida de Walt, mas vamos nos agradando com a condução e o fechamento é tão bem feito que agrada demais. Um ponto bem colocado está na direção de atores que faz da trama não ficar somente focada na história que foi desenvolvida, mas sim na personalidade de cada um, seja no passado ou no que está decorrendo.

Quando em um filme a direção de atores se sobressai, o que vemos na tela são os personagens tomarem rumos incríveis nas mãos dos que os interpretam, pois tudo cai bem e vemos a incorporação tomar uma forma encorpada e agradável. Podemos considerar Emma Thompson como a grande esquecida do Oscar desse ano, pois a entrega de características que dá para a protagonista é tão uniforme que em momento algum vemos a atriz em cena, mas uma representação amargurada de uma escritora que vai desenvolvendo e se descobrindo na mesma intensidade que repassa para o espectador tudo que deseja mostrar. Tom Hanks sempre trabalha dando muito aos seus personagens, mas mesmo colocando um Disney interessante na tela, acredito que o grande nome por trás de Mickey e outros personagens seja bem diferente do que foi apresentado, então poderia ter sido feito uma pesquisa mais incorporada de personificação para nos convencer que realmente ali estava Walt Disney. Annie Rose Buckley faz sua estreia usando expressões tão doces e interessantes que ficamos deslumbrados com sua interpretação, quase virando a protagonista integral da história se o foco não fosse a produção do filme. Colin Farrell faz um Sr. Banks incrivelmente trabalhado no álcool e o melhor cheio de diálogos maravilhosos com sua filha, mostrando a tamanha vontade da garota de salvar ele, é outro ator que mereceria ter sido destacado em premiações. Além desses que citei, vários outros se destacam nos devidos momentos, mas são casos à parte que poderiam ser analisados mais numa roda de amigos e não aqui, pois o texto ficaria imenso, mas sem falar de Paul Giamatti que consegue mais uma vez pegar um personagem que tecnicamente seria nada no filme e torná-lo magnífico seria hipocrisia demais já que todas suas cenas são únicas e emblemáticas.

Um ponto interessantíssimo de se pensar é como recriaram alguns locais da Disneylândia antiga, mas como nunca fui lá não posso dizer que ainda tenham conservado os lugares por onde rodaram algumas cenas. E além desse cenário, nos demais escolhidos para rodar o filme, a equipe de arte trabalhou com minúcias nos elementos cênicos para que tudo ficasse perfeitamente cômico para as cenas cômicas e ao mesmo tempo se encaixassem bem para os momentos mais sutis, de forma que o próprio boneco do Mickey parece manter mais de uma expressão de acordo com o momento, posso estar ficando louco, mas reparei nisso. A fotografia manteve tons pasteis bem colocados para o presente e forçou um pouco no sépia avermelhado nas cenas antigas, mas sem apelar muito, porém deixando tudo com ares tenros e gostosos de acompanhar, ou seja uma delícia visual.

A trilha de Thomas Newman pode ser que muitos críticos reclamem de ter utilizado a original do filme "Mary Poppins" e colocado apenas algumas notas a mais, pontuando alguns momentos e em outros deixando a original, mas felizmente isso funcionou muito bem tanto para emocionar como para dar o ritmo correto pra trama, então como diz o velho ditado, "nada se cria tudo se copia", aqui utilizando dele e da consciência ecológica, ele reciclou algo que já era bom e ficou na medida.

Enfim, gostei muito do que vi na tela, até mais do que esperava e tinha ouvido falar. Não é um filme que você vá falar horrores dele durante anos, mas utilizando dos padrões Disney de qualidade de dramas cômicos, tivemos um resultado bem satisfatório de acompanhar e nos emocionar com o que vemos na tela. Recomendo para todos que gostem de ver como funciona geralmente processos criativos junto de autores de obras, para que quando viajarem em pensamentos de querer adaptar algum livro, saibam que a coisa não é tão simples quanto parece, e claro também para quem gosta de um bom drama levinho. Fico por aqui agora, mas ainda falta um último filme nessa semana para conferir, então abraços e até breve pessoal.


1 comentários:

Tato Mansano disse...

Eu amei esse filme, um dos meus preferidos da temporada. Emma Thompson tá fantástica, da vontade de bater nela de tão chata ahuahuaha. Até assisti Mary Poppins de novo depois dele :D

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...