São raros os filmes esportivos que fogem da linha de alguém resolver competir brigando com alguém, decola fazendo com que todos torçam por ele, algo ruim acontece, a pessoa se redime e temos um bom final. Pode até parecer um spoiler esse começo, mas quem já assistiu a qualquer filme do gênero sabe que todos serão sempre igual. Infelizmente "A Grande Volta" segue a mesma linhagem e não nos apresenta nada de novo, tirando o belíssimo cenário por onde ocorre, atravessando toda a França por mais de 2500 km de extensão de prova.
O filme nos mostra que François é apaixonado pelo Tour de France. Demitido por seu patrão e abandonado pela mulher, ele vai fazer a Grande Boucle saindo um dia antes dos profissionais. Ele é logo seguido pelos outros, inspirados por seu desafio. Os obstáculos são inúmeros mas os rumores da sua proeza se espalham. As mídias se inflamam, os passantes o aclamam, o Maillot Jaune se enfurece. François deve ser detido!
É interessante ver o trabalho do diretor Laurent Tuel, pois ele trabalhou o filme usando a forma de bolo que citei acima, mas ao mesmo tempo colocou um temperamento adocicado ao protagonista, não temos em cena alguma nenhum desenvolvimento de raiva ou garra de espirito esportivo que costuma aparecer nesse estilo de filme, porém vemos que o protagonista quer competir, mas sem sair matando alguém para isso, e essa visão é o que diferencia o longa de um filme esportivo tradicional para um filme esportivo com a cara francesa. A ideia também de um road-movie esportivo agrada por percorrer lugares incríveis e ir fazendo com que conhecêssemos mais da França, afinal é garantido que muitos conhecem por filmes somente umas 2 ou 3 cidades, e com o andamento quase conhecemos um bom número, só espero que no lançamento oficial venha com legendas amarelas, pois quem não entende muito de francês sofre com o longa filmado quase sempre durante o dia com a iluminação natural ofuscando as legendas.
As atuações poderiam ter definido um estilo a atacar, pois em momento algum conseguimos ligar se os personagens estão dentro de um drama ou de uma comédia, oscilando demais para ambos os lados. Clovis Cornillac se não usou um dublê com toda certeza terminou o filme bem cansado e ao menos nesse quesito podemos ficar felizes com o que vemos na sua expressão que sempre é mantida tênue, porém seu cansaço vai ficando evidente e demonstrável, o que deveria acontecer com outros participantes do filme. Ary Abittan faz "O" competitivo e chega alguns momentos até ficar chato seus diálogos, seu semblante é estável durante todo o filme, e quem já viu qualquer prova desse estilo sabe que os caras chegam mortos após pedalar quilômetros. Bouli Lanners agora sim faz um papel no seu estilo, depois de vermos ele em outros dois filmes do Festival Varilux, finalmente no último achamos um personagem digno de ser interpretado por ele, com seu cabelo bagunçado, barba por fazer e atitude fora dos padrões coerentes, o ator arrasa até mesmo quando atrapalha tudo. E vale destacar o carisma de Bruno Lochet para com o protagonista e sua família, agradando por fazer um ser bom nas telas com suavidade sem ser piegas, e o irreverente papel bem interpretado de Doudou Masta.
Até poderíamos tentar fazer um longa do mesmo estilo no Brasil, mas seria triste com as estradas destruídas que vemos todos os dias nos telejornais, porém no longa estamos falando de um país bem desenvolvido e mesmo na zona rural as estradas, ao menos nos filmes, são verdadeiros tapetes, onde as bicicletas da trama passam maravilhosamente pela cenografia maravilhosa que nos é proporcionada ao longo dos muitos quilômetros percorridos durante o filme. O longa não trabalha com tantos elementos cênicos já que o que era necessário era apenas a bicicleta e o ciclista, mas o trailer da família que acompanha o ciclista é algo bem inusitado e alguns outros objetos que acabam aparecendo durante o filme servem sempre para algo bem colocado. A fotografia usou toda a luz natural possível que o céu lhe permitiu, fazendo algo bem bonito e visualmente interessante, porém como disse atrapalha bem a legenda.
Enfim, um filme bacana que poderia ser genial se tivesse trabalhado um pouco mais os atores e talvez feito alguma coisa diferenciada do que estamos acostumados, mas vale a pena assistir pela beleza cenográfica. Recomendo principalmente para quem gosta de filmes envolvendo esportes, pois quem já tem o costume de ficar com o pé atrás nesse estilo, com certeza irá revoltar ao ver que não tem nada de diferente para observar. Fico por aqui no meu penúltimo filme do Festival Varilux, já que alguns acabaram não passando e outros acabaram não batendo horário após todo o tumulto que foi com as cópias nos primeiros dias, mas valeu pela qualidade selecionada de filmes e pelo apoio que nos foi dado pela Aliança Francesa Ribeirão Preto. Volto mais tarde com o último filme da programação, então abraços e até breve pessoal.
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