Se existe um fator chave nos filmes franceses é o de que quando um filme é aberto demais, ele acaba não envolvendo o público e a carga dramática gigantesca empregada acaba mais confundindo o espectador que deixando ele curioso do que pode acontecer. Com "Antes do Inverno" acontece exatamente isso, pois o filme até tenta nos prender com o envolvimento estranho do neurocirurgião com a jovem, mas acaba rolando tantas reviravoltas com ele mesmo e sua família que acabamos perdendo o sentido real do filme para talvez o auto reconhecimento dele próprio como alguém incomum.
O filme nos mostra que Paul é um neurocirurgião de 60 anos casado com Lucie. Um dia, buquês de rosa começam a ser entregues de forma anônima na casa deles no mesmo momento em que Lou, uma jovem de 20 anos não para de cruzar o caminho de Paul. Então as máscaras começam a cair: será que todos são realmente o que fingem ser? Ainda há tempo, antes velhice, de ousar revelar os subentendidos e os segredos?
O diretor e roteirista Philippe Claudel trabalha bem o drama do protagonista mostrando suas paranoias e seus sentimentos, mas esquece de desenvolver suas dúvidas de uma forma mais ampla, então o círculo em volta do personagem acaba girando tanto ficamos nos perguntando se o protagonista é importante para a história ou tudo que acontece em volta dele que é o que devemos prestar atenção. E com isso o filme vai nos tomando tempo sem desenvolver praticamente nada e acaba cansando para um desfecho, falando não da cena final, mas sim de onde o filme deveria ter acabado, mais estranho ainda com a revelação do que a moça fazia. Em resumo, o filme é daqueles que talvez, muito talvez assistindo uma segunda ou terceira vez consiga chegar a conclusões melhores, pois apenas com uma vez, o que podemos afirmar apenas é ser confuso demais.
O ator Daniel Auteuil deve ter acabado as gravações e perguntado pro diretor com certeza se na montagem do filme ele entenderia algo, pois com toda oscilação de momentos que seu personagem tem, aliado a nunca gravar o filme numa sequência correta, se nós ficamos confusos, fico imaginando o pobre ator, e ele acaba nos transmitindo essa insegurança no filme. Kristin Scott Thomas faz um personagem que poderia ser a chave do filme em alguns momentos, mas aparece como uma esposa banal que largou toda sua vida para viver as custas do marido, ou não, onde em raros momentos podemos ver alguma expressividade sua. Leila Bekhti no momento que parece engrenar dá uma reduzida enorme em sua expressividade, faz uma cena onde não se consegue concluir nada, ao menos muito bem atuada, e acaba sem ao menos ligar todos os pontinhos. E Richard Berry tem ao todo 6 cenas sendo 2 jogando tênis, e o que é melhor, seu personagem ao que tudo transparece tem uma boa importância para a trama, então ou muitas cenas suas foram cortadas, ou precisava ter trabalhado muito mais o ator para que saísse algo dali.
A direção de arte ao menos trabalhou bastante, principalmente ao escolher a maravilhosa residência do protagonista, que com toda certeza daria para fazer uns 2 filmes inteiros só ali sem precisar de nenhuma outra locação. Uma casa requintada, cheia de elementos visuais trabalhados e diversas áreas de lazer que serviu para bons momentos chaves do filme. Além de outros objetos que acabam aparecendo tanto no consultório quanto na casa da jovem, que vão servir para ligar mais alguns pontos que estavam abertos. A fotografia poderia ter elucidado mais alguns momentos se tivesse optado por determinar os momentos chaves com cores e tons diferentes dos demais, mas apenas iluminaram bem as cenas noturnas para ficar dentro do tradicional e nas cenas diurnas deixaram que o sol fizesse seu papel.
Enfim, foi meu último filme visto no Festival Varilux e acabou sendo o mais fraco de todos, não pelo conteúdo exibido, mas sim pela toda abrangência que acabou nos deixando confuso com o que é mostrado. Como disse talvez assistindo uma outra vez, possa ficar mais feliz com o resultado, mas de início acabo não recomendando ele. Fico por aqui encerrando minha participação no Festival Varilux de Cinema Francês, agradecendo mais uma vez a Aliança Francesa de Ribeirão Preto por trazer excelentes filmes para a cidade e claro pelo apoio ao site, e ficaremos no aguardo do próximo ano que se Deus quiser não teremos os mesmos problemas que acabamos enfrentando nesse ano. Então abraços e até breve pessoal, já com o primeiro lançamento dessa nova semana cinematográfica.
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