Por isso que falo que o cinema francês é tão diferenciado dos demais, quando você espera que o filme recaia para um dramalhão por um motivo óbvio, ele vai para a comédia absurda mais saturada possível e quando você está esperando rir de algo cômico que virá numa sequência, ele nos pega com algo sério e comovente. No filme "Eu, Mamãe e os Meninos" o que observamos nos longos 85 minutos de duração, pois como o filme é praticamente todo nas mãos de um único ator, seu monólogo aumenta a durabilidade, mas muito longe de ser algo cansativo, é muito prazeroso acompanhar sua história de descoberta.
O filme nos introduz com o seguinte texto do protagonista: "A primeira lembrança que eu tenho da minha mãe é de quando eu tinha uns quatro ou cinco anos. Ela chamou os filhos para o jantar, dizendo: "Meninos e Guillaume, na mesa!". A última vez que nos falamos ao telefone, ela me disse: "Um beijo, meu querido". Entre essas duas frases, existem alguns mal-entendidos...
O diretor, roteirista, protagonista e atriz coadjuvante do filme Guillaume Gallienne consegue nos envolver com sua história de uma maneira bem trabalhada e direcionada, não pesando sua mão para lado algum, e utilizando alguns planos tão bem colocados que nem parece ser sua estreia na direção, utilizando planos sequência bem encaixados para o momento, colocando dramaticidade onde deve e comicidade na medida, o filme deslancha com o público entrando completamente na sua, rindo muito em diversas cenas e ficando até meio desnorteado com o desfecho que encaixou perfeitamente num momento interessante que o mundo anda passando. Suas vertentes de conversa com sua mãe e porque não dizer alterego são deveras geniais e acabou lhe dando os prêmios de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Estreia na Direção e Melhor Filme no César, também conhecido como Oscar do Cinema Francês.
Confesso que quando vi no material do Festival que o cara era todas as funções principais da trama, já pensei que o filme seria um lixo máximo, mas Guillaume soube trabalhar tão bem na frente da câmera quanto fez atrás dela, ele usa bons momentos caricatos para trabalhar seus personagens e também nos momentos que precisa dar foco no que quer demonstrar ele acaba surpreendendo em saber mostrar um lado mais introspectivo interessante seu, ou seja, o cara mereceu e muito levar também o prêmio Cesar de Melhor Ator, que não sei para qual personagem ele irá deixar o prêmio se foi para o ótimo jovem ou para seus momentos como mãe que agradam a cada cena que aparece com detalhes riquíssimos de visual e de montagem para estar ambos na cena. André Marcon tem poucas cenas, mas conduziu bem seu papel de pai rígido frente à uma vertente que costuma literalmente ser dura para os pais, e usando até certos clichés, acabou trabalhando bem quando precisou mostrar mais. Uma das cenas mais divertidas do filme envolvem a avó Françoise Fabian que são mais divertidas pelo contexto do diálogo que da sua atuação em si, mas soube encaixar seriedade nos trejeitos faciais para agradar e encaixar a piada de forma bacana. Dos demais atores todos se encaixam bem em seus papéis, mas todos acabam sempre bem caricatos com cada ato, sendo até difícil de elencar algum destaque.
A trama não chega a ser gigantesca, mas o filme preza por um detalhe riquíssimo no quesito direção de arte, sendo que no filme todo não vemos quase nenhuma cena passando duas vezes no mesmo local, tirando as cenas no palco do teatro, e isso fica interessantíssimo de acompanhar pois visualmente é lindo ver o trabalho tão bem feito sendo aproveitado, o que acaba não acontecendo em grandiosas produções que fazem um cenário perfeito para ser eliminado na edição. A fotografia trabalhou com todo tipo de gama de cores para representar cada momento, tendo colocado tons mais escuros para os momentos mais introspectivos do personagem, e puxando na vivacidade de cores alegres para jogar com a vertente que o longa tenta puxar a todo momento.
Enfim, um excelente filme, que nos faz refletir sobre algumas pessoas que acabamos julgando erroneamente e que vale a pena ser conferido para se concluir ideias rindo ao menos. O filme abriu o Festival Varilux de Cinema Francês alegrando a noite dos convidados que compareceram para a avant-première do filme e que será exibido ainda várias vezes na programação do festival, que você pode acompanhar aqui e para quem for de Ribeirão Preto, diretamente aqui. Mais uma vez agradeço a Aliança Francesa de Ribeirão Preto pelo convite e recomendo o filme para todos, e mais ainda recomendo o Festival como um todo que estará sendo exibido diariamente a partir das 13:30 no UCI do Ribeirão Shopping do dia 10/04 a 16/04, então não percam. Fico por aqui hoje, mas na quinta já estarei a postos para colocar ao menos 4 críticas dos primeiros filmes que irei acompanhar. Então abraços e até breve pessoal!
2 comentários:
Vi o filme hoje. Surpreendente. Acho q vc já falou tudo.
Olá amigo, filme gostoso não é mesmo, e pra quem perdeu no Festival Varilux, semana que vem entra em circuito comercial! Abraços!
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Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...