Glória

4/07/2014 12:31:00 AM |

É interessante observar que muitas pessoas se queixam que na velhice acabam não aproveitando mais a vida como na juventude por uma série de motivos, mas algumas pessoas começam exatamente a viver tudo que poderiam logo após os filhos estarem crescidos sem depender deles, e com isso fazem tudo que gostariam criando o que está sendo chamado de nova juventude, que costuma ocorrer geralmente entre 50-60 anos. E com essa ideologia o diretor Sebastián Lelio utilizou tudo e muito mais para mostrar que as mulheres conseguem ser mais independentes e viver melhor esse período no filme "Glória" que ganhou na noite de ontem, 05/04/14, três Prêmio Platino, que vem surgir como um novo prêmio no cinema íbero-americano sendo uma espécie de Oscar latino. Os prêmios que a película ganhou foram: melhor filme, melhor roteiro e melhor atriz.

O filme nos situa em Santiago, Chile, onde Gloria é uma mulher solitária de 58 anos, cujos filhos já saíram de casa há algum tempo. Como se recusa a ficar sozinha em casa às noites, ela tem o hábito de ir a bailes dedicados à terceira idade. Lá ela conhece vários homens, com os quais costuma se empolgar e, tempos depois, se decepcionar. A situação muda quando conhece Rodolfo, um ex-oficial da Marinha que é sete anos mais velho do que ela. Gloria se apaixona por ele e passa até mesmo a aspirar um relacionamento permanente, mas logo é obrigada a confrontar alguns dos seus segredos mais obscuros.

O roteiro do próprio diretor é muito gostoso de acompanhar, e por nos colocar no cotidiano dessa mulher, o filme anda gostoso, ilustrando suas aventuras na noite e com o passar da história passamos a torcer para que sua vida de certo. O diretor foi bem sábio em não apelar nas sexuais, mas sim colocá-las na trama devidamente bem usada tirando um ou outro momento, e assim não ficou forçado demais para outro lado que acabaria desandando a trama. Um grande feito dele , foi manter a linearidade ao seu favor, pois o filme poderia ser todo quebrado, mas valeu aqui predominar a rotina de algumas semanas mostrando a personalidade forte e precisa da protagonista, enaltecendo todas as mulheres que podem e devem viver felizes em qualquer idade, fazendo o que gosta sem depender de ninguém, e com essa mensagem, o diretor não poderia finalizar de forma melhor a história senão do jeito que encerrou utilizando uma música que já ouvimos diversas vezes, mas que passou a ter uma conotação completamente diferente após assistir esse longa.

A atuação de Paulína Garcia foi majestosa sem nenhum pudor de fazer as cenas de nudez, mostrando ser dinâmica na interpretação e fazendo a personagem ser sua totalmente, com uma garra e vida que raramente vemos por aí e tornou a personagem tão carismática que foi quase como abrir a porta de sua casa para que os espectadores entrassem com uma câmera e a seguisse nos seus dias de gravação, tanto é que vem arrebatando prêmio em cima de prêmio com o que fez. Sergio Hernandez faz um senhorzinho interessante primeiro pela sua história de vida acaba cativando nossos olhares e passamos a torcer pelo relacionamento, mas depois ao demonstrar suas fraquezas o público fica perplexo com o que faz e passa a torcer para que ele tivesse um final bem trágico, mas seria maldade demais com ele, e serviu para demonstrar que os homens acabam mais dependentes quando ficam velhos do que as mulheres, e com esse propósito ele não merecia morrer. Os demais personagens são meros elementos de ligação com os dois, mas a cena de Fabíola Zamorra cantando "Águas de Março" ficou bem bacana de acompanhar e vale um destaque.

A direção de arte nos mostrou um Chile diferenciado, menos envolvido em protestos e coisas fortes que costumam ficar evidentes nos filmes que chegam ao interior. E conseguem colocar diversos elementos cênicos em cada cena para que sejam utilizados da maneira correta e sirva para algo no filme, não que eles sejam mais importantes que os atores, muito pelo contrário, apenas se adequam a cena para identificar o que o momento representa na vida da protagonista. A fotografia seguiu uma linha bem tradicional, afinal é um filme mais artístico do que algo cheio de firulas, e empregaram algo mais rebuscado apenas na cena que ilustra o pôster, onde a cena noturna passa a ser mais reflexiva na vida da personagem.

No quesito musical o filme também trabalhou muito bem colocando algumas canções brasileiras para ilustrar alguns momentos, e outras chilenas sempre fazendo parte do contexto da cena, e isso agrada muito numa trilha, quando ela passa a dizer mais do que os personagens. E para fechar com chave de ouro, entra a canção "Glória" na versão de Umberto Tozzi, que resumiu o filme completamente com a letra da canção numa cena da protagonista desfrutando do seu momento perfeito.

Enfim, um excelente filme que dá um show completo de atuação e de contexto. Quem não curte muito filmes casuais pode achar um pouco chato acompanhar a vida da protagonista, mas isso não impede que veja a beleza que o roteiro nos impõe, então mais do que recomendo para todos e principalmente para todas as mulheres. Quem for de Ribeirão Preto não pode ficar sem ver ele no Belas Artes que continuará exibindo ele na próxima semana. Eu encerro minha semana cinematográfica aqui, me preparando para o Festival Varilux que vem aí a partir da próxima quinta-feira. Então abraços e até breve pessoal.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...