Se tem uma lição que a maioria dos filmes franceses gostam de passar e sempre fazem bons filmes com ela é a do Carpe Diem, e o filme "Lulu, Nua e Crua" parecia ser tão diferente e complexo que ao adentrarmos dentro da simbologia que a mensagem nos passa, o filme fica gostoso de acompanhar, mesmo nos vendo a cada 10 minutos pensando o porquê dela ter abandonado a família. Além desse pensamento, nos vemos refletindo também o quanto ajudamos um próximo dando apenas carinho e o que mais ele precisar sem ter um euro na carteira, e com toda essa coisa mística no ar o filme acaba sendo delicioso de acompanhar.
O filme nos mostra que após uma entrevista de emprego que não é boa, Lulu decide não voltar para casa e parte deixando o marido e seus três filhos. Ela não premedita nada. Ela se concede alguns dias de liberdade sem outro projeto além de aproveitar plenamente. No caminho, ela cruza pessoas que também estão na beirada do mundo. Três encontros decisivos vão ajudar Lulu a reencontrar uma antiga conhecida que ela perdeu de vista: ela mesma.
É notável como a diretora Sólveig Anspach trabalhou com um mundo aberto para tudo que pudesse acontecer, e o filme ficou com ares de road-movie sem ficar preso a uma estrada ou carro, levando a protagonista para onde ela pudesse viver feliz e passar sua felicidade que estava oculta até então. Em momento algum conseguimos ver um roteiro redondinho, parecendo ser criado junto com a própria personagem, e com isso como disse no início nos vemos pensando direto como isso pode acontecer? Por que isso? Como pode terminar esse filme? E como todo bom filme francês, a maioria das respostas irão ficar para serem respondidas pelos próprios espectadores, mas longe de ser algo tão aberto como estou dizendo, o filme joga boa parte da culpa no modo de vida do Carpe Diem, e se pararmos pra pensar a vida pode até ser mais bonita se levada sem pensar muito e agir mais com seu extinto.
A disposição que Karin Viard dá para seu personagem vai muito além de uma atuação comum, e adentra a libertação de uma expressão vivenciada e colocada para seu próprio reconhecimento, e além disso é possível notar em seus olhos que tudo está acontecendo conforme lhe agrada, e isso é lindo de ver vindo de uma atriz interessante. Bouli Lanners é o típico ator que nenhum diretor sem colhões colocaria para interpretar o personagem que faz, pois é completamente fora de algo tradicional e acaba dando certo por isso, sua expressão não é algo que chame atenção, mas acabamos gostando do que faz. Claude Gensac está com quase 90 anos, mas ainda demonstra saber lidar com a expressão facial melhor que muita atriz com metade da sua idade, seus momentos junto da protagonista são gostosos de ver e enriquecem nossa alma com tudo de bom que ela nos apresenta. A dupla Pascal Demolon e Philippe Rebbot inicialmente parece divertida, mas suas bobagens começam a cansar um pouco mais pra frente, porém souberam fechar com uma boa cena.
Por ser um longa de descoberta, as locações são visualmente impressionantes sempre marcando por algum elemento chamativo, a protagonista passa por cidades pequenas interioranas que acabam tendo pelo menos um mísero charme para olharmos, e além disso a equipe de arte fez questão de que cada cena tivesse algo para marcar, nem que fosse um pequeno elemento cênico, de modo que desde uma aliança até mesmo uma tinta para cabelo tivesse importância e significado para a trama. A fotografia usou de muitas cores vivas e luzes nas cenas mais escuras para realçar a abertura sempre da mente da protagonista e com isso temos um filme bem claro e bonito de ver.
Enfim, um filme muito divertido e gostoso de assistir, que passa bem rápido e ainda assim não soa bobo como uma comédia qualquer. Recomendo ele para quem está com tanto problema na cabeça e precisa dar uma espairecida, só não saia atacando o primeiro mendigo que ver pela rua ok! Fico por aqui neste Domingo que finalmente os filmes franceses funcionaram todos, não sei se conseguirei fechar o Festival Varilux completo já que agora muitos horários é capaz de não encaixar bem. Então abraços e até breve pessoal.
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