O diretor Asghar Farhadi com certeza deve ter passado por separações difíceis, pois depois de fazer o brilhante filme "A Separação", agora está de volta com "O Passado", onde utiliza novamente a mesma ideologia de dramas familiares conturbados para nos envolver numa trama que se com 30 minutos você já está nervoso com tudo o que está ocorrendo, imagina aguardar os demais 100 minutos restantes para "concluir" se o passado deve ser deixado ou não para trás e partir para o novo é mais fácil sempre que surgir qualquer inconveniente.
O filme nos mostra que após quatro anos de separação, Ahmad chega a Paris de Teerã, a pedido de Marie, sua esposa francesa, para assinar o divórcio deles. Durante sua estada, ele descobre a relação conflituosa entre Marie e sua filha, Lucie. Os esforços de Ahmad para tentar melhorar essa relação vão revelar um segredo do passado.
Após assistir esse estilo de filme sei bem que não sirvo para ser roteirista jamais, pois resolveria o caso todo com 9 palavras, "garota arruma a mala e vamos pro Teerã comigo", afinal não sou uma pessoa paciente para relações conflituosas que necessita muita paciência para dilacerar tudo e resolver de uma forma concisa. Mas nosso caro diretor e roteirista Asghar Farhadi é mestre nesse estilo e vem com uma proposta complexa, onde a cada momento somos surpreendidos com algo novo e complicado de resolver no melhor estilo de soltar um gatinho junto de vários novelos de lã, pois quanto mais ele tenta se soltar do enrosco, mais ele vai ficando enrolado com tudo que é mostrado e somente numa tacada de gênio ele conseguirá soltar a ponta final deixando a grande dúvida no ar, que é onde os filmes franceses se diferenciam da grande maioria por mesmo largando o clima aberto para que o público tire suas conclusões, eles conseguem nos deixar mesmo que de forma singela a opinião concreta do diretor e isso nos convence de forma a adorar o trabalho mostrado.
A direção de atores que o diretor fez foi impecável, colocando toda a equipe numa sintonia incrível que até as jovens crianças acabam tendo diálogos que muitos atores adultos que fazem cinema há anos não conseguiria fazer tão bem. Bérénice Bejo mostrou seus dotes para que o público das Américas a conhecesse em "O Artista", mas pode encher o peito e falar que é uma atriz fenomenal a partir do que fez nesse longa, tanto que levou o prêmio de melhor atriz em diversos festivais, incluindo Cannes pelo exímio trabalho de interpretação que deu para sua personagem, seu desespero aflitivo só vai crescendo para na cena clímax explodir de uma maneira que se fosse qualquer uma titubearia, mas mostrou firmeza e destruiu em cena. Ali Mossafa também entrou com tudo para a trama, sendo até mais um personagem de ligação do que protagonista em si, pois como fica no meio de todos os elos dramáticos acaba servindo de estopim para tudo, e com isso suas reações são impactantes e agradáveis demais para qualquer pessoa, e só pela paciência em lidar com todos os fatos já valeu tudo que fez. Tahar Rahim interpreta muito bem seu personagem e com frieza resolve os problemas que tem para encarar, e assim quando chega seu momento nas cenas finais, o roteiro passa a ter seu nome para que com firmeza na interpretação consolide tudo que já havia feito em um fechamento incrível para o filme. Pauline Burlet chorou muito durante o filme, mas quando precisou colocar seu texto a prova, mostrou que não é fraca não, e desabafou com olhares meticulosos e precisos para encantar e assustar com o que diz para os protagonistas, perfeita também em tudo. E claro vale destacar o jovem Elyes Aguis que estreou muito bem, fazendo birra nas cenas iniciais, mas na cena do trem comove todos com seu diálogo falado em um tom além de qualquer criança, mostrando que mesmo jovem, possui potencial grandioso.
A direção de arte montou os cenários com toques bem fora de eixo, não colocando nada em simetria, para manter o clima sempre tenso, e essa aparência de faltar arrumação pauta perfeitamente para o que o filme quer nos mostrar, que falta um desfecho para ambas as famílias, e isso é incrível de ver como uma equipe pode transmitir isso além do roteiro passando também para os materiais, então palmas para tudo que é mostrado. E assim como a arte bem feita, a fotografia sempre chuvosa e escura, nos turva nos momentos para não tirarmos nenhuma conclusão precipitada de nada, apenas acirrando cada momento a procura de uma solução, que não vem facilmente com os tons sempre escuros que o diretor optou usar.
Enfim, um Filmaço com F maiúsculo, que não deve ser apenas assistido, mas sim interpretado por todos para que vejamos que nem sempre abandonar algo e mudar para algo novo pode ser a melhor solução para os nossos problemas, e com essa mensagem em mente, talvez você meu caro leitor possa até assistir ao filme de uma maneira diferente da que vi sem saber nada do longa, mas acredito que irá ser mais proveitoso ainda todos os elementos que os protagonistas acabam enfrentando. Já disse e repito que recomendo muito, e como 3° filme do Festival Varilux, já posso dizer quase que já tenho o meu preferido logo no primeiro dia. Fico por aqui agora, mas vocês ainda aparecerei muito por aqui nessa semana, afinal são 15 filmes no Festival e mais 2 estreias para conferir, então abraços e até breve.
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