Os Incompreendidos

4/13/2014 07:06:00 PM |

Não sou daqueles que defendem ver um filme 200 vezes, e mesmo clássicos tenho da seguinte opinião que são obrigatórios sim ver eles para conhecer ao menos uma vez na vida, mas como o Festival Varilux de Cinema esse ano é em homenagem à Fraçois Truffaut, fui conferir a cópia remasterizada digitalmente do clássico "Os Incompreendidos". O filme é uma obra de arte pelo conteúdo bem expressado, pelo visual magnífico e pelas desventuras do jovem garoto ao ser reprimido apenas por fazer coisas normais de uma criança, porém ao ver uma segunda vez já é possível, principalmente quem tenha bons olhos e ouvidos, escutar sons de passos diferentes do tradicional, entre outras falhas do cinema na época, e isso acaba incomodando um pouco. Ainda acho o filme excelente, mas se colocarmos olhos técnicos veremos defeitos até no melhor filme do mundo.

O filme nos mostra que Antoine Doinel é o filho negligenciado de Gilberte Doinel, que parece ter tempo para tudo menos o bem-estar da criança. Julien Doinel não é o pai biológico, mas cria o menino como se fosse seu filho. Gilberte está tendo um caso e não se surpreende quando, por acaso, Julien fica sabendo que Antoine não está indo à aula, pois ela sabia que na hora do colégio o filho a tinha visto com seu amante. A situação se agrava quando Antoine, para justificar sua ausência no colégio, "mata" a mãe. Quando seus pais aparecem na escola, a verdade é descoberta e Julien o esbofeteia na frente de seus colegas. Após isto ele foge de casa e arruma um lugar para dormir. Paralelamente seus pais culpam um ao outro pelo comportamento dele, após lerem a carta na qual ele se despede. No outro dia Antoine vai à escola normalmente. Lá sua mãe o encontra e se mostra preocupada por ele ter passado a noite em uma gráfica. Ela alegremente o aceita de volta, mas os problemas não acabam. Antoine se desentende com um professor, que o acusa de plagiar Balzac. Como ele odeia a escola, sai de casa de novo e para viver é obrigado a fazer pequenos roubos.

A história em si é interessante por mostrar um jovem garoto que pula algumas etapas da sua infância, mas também não é algo que se apaixone, pois acaba sendo um filme de cotidiano de uma pessoa, sem que tenha algo que vá impressionar o espectador. Por exemplo, caso fizessem uma refilmagem do longa utilizando a mesma história sem mudar nada nos dias de hoje, era capaz de todos os críticos que são apaixonados pelo filme é capaz que falem mal do longa por ser uma refilmagem, mas com certeza quem assistir falará mal por ser algo sem conteúdo, já que tudo que vemos é algo comum hoje, jovens fugindo de casa cedo por brigarem com os pais ou na escola, alunos sofrendo bullying nas escolas, etc. Porém na época em que foi feito, podemos dizer que Truffaut estaria com uma imaginação de uns 40 anos a frente por pensar assim e fazer um longa dessa forma. Com cenas maravilhosas em plano sequência, mostrava também uma grande faceta do diretor que era mestre nesse quesito.

O garoto Jean-Pierre Léaud já mostrava na época que seria um excelente ator, com expressões bem feitas e diálogos pontuados com muita interpretação agradou em tudo que fez no filme, e nos divertiu emocionando também com o que fez nas diversas cenas. O jovenzinho Patrick Auffay fez boas cenas no longa sempre acompanhando o protagonista e interpretando bem quando precisava mostrar serviço, mas acabou não decolando fazendo apenas mais 2 filmes. Claire Maurier era linda e fez em cena um papel muito bem encontrado, colocando ternura nos poucos momentos que tenta comprar o filho, e sendo ríspida no início como eram as mães da época. Albert Rémy trabalhou bem em cena, punindo até demais com uma expressão forte que quem na época devia ser criança pode até ter ficado com medo de castigos no mesmo estilo, mas isso só mostra o bom ator que era. Vale destacar também a interpretação do professor Guy Decomble que fez tudo com muito bom senso e expressão.

O visual do longa é um dos pontos fortes da trama, ressaltando bem as casas com os aquecedores simples, ou então as famílias abastadas com objetos excêntricos em casa, as escolas com seus cantos de castigo, os brinquedos de parque, entre muitos outros elementos que poderia citar, tudo na medida perfeita, nem mais nem menos, um real deslumbre. E a fotografia, em preto e branco, mas com nuances lindas de sombreamento sempre ressaltando a iluminação para onde devemos ver.

Enfim, é um filme que vai continuar sendo um clássico eterno, que vai agradar muito quem viveu uma época mais dura, porém quem for do século atual e assistir pela primeira vez é capaz de rir de toda a rispidez existente na época. Além claro de quem assistir com um olhar mais técnico da atualidade poder achar diversos defeitos. Como disse recomendo que seja visto pelo menos 1 vez na vida, mas nunca uma segunda, pois a primeira vez se tivesse analisado na época daria nota 10 com certeza, nessa segunda já ficaria entre 7 e 8, então a nota de hoje vai na média. Fico por aqui agora, mas daqui a pouco tem mais Festival Varilux, que hoje está com todas as sessões funcionando perfeitamente. Então abraços e até daqui a pouco.


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