Yves Saint Laurent

4/25/2014 01:11:00 AM |

Se existe um estilo de filme que consegue nos intrigar são as biografias, sejam elas autorizadas ou não, cabe ao diretor saber qual parte da pessoa explorar para que o filme fique morno ou tenha todo um tempero para aguçar as ideias de quem for assistir. Com "Yves Saint Laurent" que está com apenas 6 anos de morte, o diretor Jalil Lespert não perdoou nem um pingo das loucuras que o protagonista aprontou durante sua vida, mostrando que em 50 anos de carreira, ele revolucionou a moda, mas também fez muita algazarra sendo polêmico com suas bebedeiras e drogas.

O filme nos situa em Paris, 1957. Com apenas 21 anos, Yves Saint Laurent é chamado para se encarregar do futuro da prestigiosa grife de alta costura fundada por Christian Dior, falecido recentemente. Depois de seu primeiro desfile triunfal, ele vai conhecer Pierre Bergé e este encontro irá abalar sua vida. Amantes e parceiros de trabalho, os dois se associam a fim de criar a grife Yves Saint Laurent. Apesar de suas obsessões e demônios interiores, Saint Laurent vai revolucionar o mundo da moda com sua abordagem moderna e iconoclasta.

É interessante observar o trabalho feito para que o longa tivesse ao mesmo tempo uma dramaticidade bacana, que ficasse verossímil e principalmente que ficasse comercialmente envolvente, pois como estamos acostumados a ver, os filmes franceses optam sempre por algo mais artístico, e aqui sem perder essa beleza artística conseguiu trabalhar para que o público se envolva e fique cada vez mais curioso com o que pode ser mostrado da vida de um nome que marcou a moda da alta costura. O diretor trabalhou com planos mais intimistas para revelar os medos e as fobias do personagem e quando queria mostrar a energia e problemas dele abria suas lentes e agrupava ele com a cenografia sempre bem colorida e cheia de vida para dar. Outro fator muito bom do filme foi o trabalho que fez junto dos atores, trabalhando com cada um individualmente para criar dois personagens riquíssimos em expressão e nos fazendo acreditar que os personagens eram realmente daquela forma.

E falando de atuação, Pierre Niney trabalhou com gosto para fazer o protagonista da história, são trejeitos mínimos bem encaixados que realçaram cada detalhe da vida do famoso estilista, e o mais interessante é que aliado ao trabalho de uma maquiagem precisa e determinados cortes de cabelo, que com certeza deixaram o cronograma de filmagem uma loucura, o ator consegue passar por todas as épocas mantendo a mesma sutileza para cada ato, sendo preciso e perfeito em tudo. E quem mais poderia contracenar com alguém perfeito, senão o perfeito do ano na França, Guillaume Gallienne que inicialmente pra quem o viu fazendo comicidade em "Eu, Mamãe e os Meninos" com cachinhos no cabelo e tudo mais, ficou tão diferente que ficamos com a dúvida de ser o mesmo ator, mas logo que mostra precisão nos diálogos e na interpretação de cada ato, já fica claro o porquê levou todos os prêmios do ano, e olha que como esse filme é desse ano capaz ainda de abocanhar um Cesar de coadjuvante no próximo prêmio, pois mandou muito bem novamente. As mulheres do filme acabam todas tendo alguma participação interessante, mas não chegam a ser tão importantes que tenhamos de focar em alguma, valendo destacar apenas Charlotte Le Bon por acabar gerando uma mudança de humor interessante no protagonista devido ao ciúmes.

O grande charme do filme ficou a cargo da direção de arte para reproduzir vestidos deslumbrantes, e muito caros por sinal, e colocar cada um na sua devida época chamando atenção para as modelos desfilando com classe em cada desfile bem produzido que mesmo com poucos figurantes ainda atraiu um bom visual de época. As casas e lugares por onde o protagonista passa todas lotadas de elementos cênicos bem encaixados e que servem muito para representar o longa é outro luxo impressionante da produção. E claro que a fotografia trabalhando tons mais escuros para dar nuances e destacar apenas as roupas foi uma outra grande sacada que encaixou bem para a trama, pois contracenando com um fundo mais neutro vinham cores vivas ótimas chamando atenção num primeiro plano. E nem preciso falar do figurino afinal estamos falando de um filme sobre um gênio da moda, e se errassem a mão cairia meio mundo em cima do filme.

Agora um ponto que não foi favorável à trama foi a trilha sonora exagerada que pontuando diversos momentos mais tensos elevam as vozes dos tenores em um nível chato até de acompanhar, ficou parecendo que queriam impressionar algo, mas acaba servindo apenas para espantar. Poderiam ter sido mais sutis em relação à isso que agradaria mais e ainda assim manteria o ritmo no filme.

Enfim, um filme muito bom que entra pro hall de boas biografias interessantes de assistir, eu que não sou tão ligado em moda acabei gostando muito do que foi mostrado, então mulheres e quem gosta com certeza sairá até mais feliz, de forma que recomendo principalmente para esse público. Outro detalhe que não recomendo é para quem tenha algum preconceito homossexual, afinal todos sabemos como é o mundo dos estilistas, então pode ser que se choquem com algumas coisas mais chamativa. Dito isso, tirando o lance da música, o que temos é um filme perfeito e muito bem produzido que foi uma pena ter travado o HD no Festival Varilux para que mais pessoas pudessem ter visto antecipadamente, mas a partir de hoje já está em cartaz nos melhores cinemas comercialmente e ja fica o convite para quem gosta do gênero assistir. Fico por aqui agora, mas ainda temos mais algumas estreias para conferir, então abraços e até breve pessoal.



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