Do Lado de Fora

5/20/2014 01:43:00 AM |

Não sei se antes era restrito a um circuito menor ou se agora os filmes de temática homossexual resolveram explodir em quantidade de produção, pois a cada 15 dias mais ou menos tem surgido ao menos um por aqui, e como não tenho nada contra, claro que estou conferindo todos. Com o filme nacional "Do Lado de Fora", optaram por uma levada mais cômica para mostrar a dificuldade da revelação da homossexualidade seja para chefes, esposas ou pais, e a história até teria um mote interessante para seguir, mas optou pela comicidade em cima de estereótipos totalmente clichês que acabam até nos divertindo, mas não sei se para quem for gay se o filme irá representar ou difamar mais do que deveria.

O filme nos mostra que Rodrigo e Mauro são dois adolescentes gays, que decidem ir pela primeira vez à Parada LGBT de São Paulo. Eles têm a companhia do tio Vicente, um executivo solteiro e também homossexual. Apesar de se divertirem no evento, eles presenciam uma cena de agressão homofóbica, e socorrem a vítima, Roger, um homem casado cuja esposa está grávida. Quando os quatro se reúnem, eles decidem fazer um pacto para saírem do armário em menos de um ano.

A proposta em si é bem louvável e até poderia ter sido mantida sob uma versão cômica mais light, mas não sei até que ponto foi feita uma pesquisa para saber o estilo de cada um e fazer algo mais dentro da proposta, que é mostrar o como falar para alguém que é homossexual. A linha forte de debate de agressões contra os gays até é bem desenvolvida pelo personagem da Marilia, mas ainda assim sua postura arrogante atrapalha um pouco as ações. O diretor Alexandre Carvalho consegue ao menos criar situações divertidas, quase transformando um tema sério em piada pronta para divertir o público no melhor estilo de esquetes de programas de humor, e com isso ao menos um acerto na classificação do filme como comédia que sinceramente teve pessoas gargalhando e muito na sala, o que não sei se era o real objetivo da trama criada por André Collazi em seu primeiro roteiro. Com planos em sua maioria bem abertos, ao menos o diretor valorizou o trabalho da equipe de arte, não que tenha sido um primor, para mostrar bem tudo que foi criado ao redor dos jovens, mas quem sabe se não tivesse banalizado tanto, o filme teria um outro tom mais interessante de acompanhar conforme a outra classificação que é drama.

No quesito atuações, podemos dizer que os atores ao menos incorporaram bem seus personagens, não que isso vá dizer algo sobre o filme ser bom ou não, mas pelo menos a tentativa é válida, principalmente por a maioria estar fazendo sua estreia em frente das câmeras. Luiz Vaz tem o desejo no filme de ser uma drag queen e isso é algo que não precisaria nem estar vestido para parecer, pois faz gênero totalmente descambado que nem a tentativa dos pais de tirar o "capiroto" do corpo dele daria certo com um exorcismo, alguns momentos são bem engraçados, já outros acabam forçados demais. Mauricio Evanns fez o jovem tímido num nível acima da média que se não vivesse colado de Vaz poderia ser considerado mais um nerd antissocial do que um homossexual, somente após sua revelação que acaba literalmente saindo do armário, mas não é das melhores atuações que já vimos. André Bankoff, mesmo sendo veterano na TV, estreia no cinema com um papel onde poderia ter dado mais de si, pois suas atuações com os rapazes até convence de sua atitude, mas seus momentos com a sogra e com a esposa são dificílimos de suportar. Marcelo Airoldi é o mais conhecido do elenco e até quase nos convence ter um francês decente, mas quem assistiu tantos filmes do Festival Francês vai morrer engasgado com algumas pronúncias, e seu personagem até tem bons momentos no filme, mas peca por exagerar nos trejeitos forçados. Titi Müller talvez pudesse ser o grande mérito do filme por reportar diversos momentos que causam furor de agressões homofóbicas, mas acabou fazendo um tipo tão fora do padrão, além de quase o filme todo estar sempre de perfil, que acaba sendo tão adolescente quanto os jovens do filme. E para finalizar nesse quesito é preciso falar do exagero que foi colocar a drag Silvetty Montilla como a sogra de Roger, seus momentos são divertidíssimos, mas até onde caberia colocar ela como uma mulher? Acho que nessa escolha desistiram completamente de fazer um filme sério.

A preparação das casas para cenografia do filme são interessantes e mostram que tirando o grande executivo que possui um apartamento todo decorado e bem ambientado, os demais são de famílias bem humildes e tudo isso foi retratado sem necessitar de uma palavra ou legenda, apenas vendo os elementos cênicos usados nas casas e até mesmo o local por onde andam. A parada gay foi retratada rapidamente mostrando cenas que são exibidas e reexibidas todos anos na TV, não explorando em momento algum qualquer cena que mostre algo mais efetivo dos atores por lá, sem ser por material exibido fora do filme. A fotografia não utilizou de nenhum recurso de filtro ou iluminação diferenciada, principalmente por manter o estilo cômico em evidência usou apenas das cores tradicionais que o figurino e a arte definiu e seguiu padrão total.

Um ponto interessante do longa está na remixagem de "Noite Preta" que coube bem para o momento do personagem, mas as demais canções inseridas acabaram soando falsas para os demais personagens, ficando estranhas e não refletindo a personalidade que poderia mostrar através delas.

Enfim, um filme que poderia ser completamente diferente mas que preferiu ficar dentro de um padrão bobo da comédia nacional, e com isso apenas diverti quem for ver o filme com olhos para as situações engraçadas que o filme proporciona, nesse quesito o diretor acerta por ganhar um público maior do que o que talvez atingiria se fosse mais voltado pra causa social que tentou defender. Não digo que posso recomendar ele, mas como digo sempre, se o filme está classificado como comédia e fez rir, já valeu meio caminho andado. Bem é isso pessoal, encerro aqui minha semana cinematográfica que foi até bem grande, mas na quinta já estarei de volta na ativa para um dos blockbusters mais esperado do ano, então abraços e até lá.


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