Quando eu falo que o cinema nacional está evoluindo, sou obrigado a ouvir de alguns amigos que estou maluco, que só tem comédia boba, e por aí vai. Mas daí lançam um filme histórico muito bem produzido e cadê o público na sala com 20 gatos pingados? Isso que deixa esse Coelho super irritado e chateado com o público que frequenta os cinemas em nossa terrinha amada. Mas vamos falar do filme que é melhor e dá menos raiva, afinal que produção impecável, que fotografia impressionante, que direção de arte minimalista, que atuações marcantes de atores escolhidos a dedo para parecerem ao máximo cada um dos personagens reais, ou seja, "Getúlio" tem tudo que necessita para ser colocado dentro de uma história até que intrigante, mas que muitos até já conhecem, pautando seus últimos dias na melhor forma expositiva possível num filme totalmente fora dos padrões novelescos que tanto estragam nosso cinema. Ou seja, quem reclama que não temos bons filmes, está na hora de levantar da cadeira e ir pro cinema ver algo que não seja comédias novelescas.
O filme nos situa em Agosto de 1954, onde o jornalista e dono de jornal Carlos Lacerda sofre um atentado na porta de casa, mas o ato dá errado e o tiro mata o Major Rubens Vaz, que fazia a segurança de Lacerda. O presidente Getúlio Vargas, é acusado de mandar matar o jornalista e passa a ser pressionado por militares e pela oposição. As investigações mostram que a ordem para o atentado saiu do Palácio do Catete. O tenente Gregório Fortunado, chefe da guarda do presidente, é acusado. Ao lado da filha Alzira Vargas, seu braço direito na presidência, e colaboradores fiéis como Tancredo Neves e o general Zenóbio da Costa, Getúlio tenta provar sua inocência.
Para quem nunca foi fã da História do nosso país, o filme pode parecer confuso, mas basta manter os olhos presos à tela do cinema para que tudo acabe sendo agradável e entendível, bastando pensar estar vendo algo do estilo do filme "A Queda: As Últimas Horas de Hitler" e um pouco de "O Espião que Sabia Demais", apenas para citar dois filmes intrigantes, porém aqui baseado em fatos reais de nosso país, onde o diretor João Jardim trabalhou sob uma perspectiva bem interessante do roteiro de George Moura para contar com uma dramaticidade que poucas vezes vimos em filmes nacionais essa história que mostra que nossos amigos jornalistas quando querem conseguem derrubar qualquer um, colocando na mídia fantasiosa algo que poderia ser simples, mas que com jeito vira uma bola de neve imensa. Porém mesmo a história sendo boa para criar uma trama, o que faz mais valer no filme é a produção grandiosa que trabalhou com minúcias para recriar o tumultuado ano de 1954, onde a sede do governo mais parecia um sambódromo pelas algazarras e confusões que ocorriam ali, aliás até hoje temos essa bagunça dentro das sedes de governo não é mesmo? E aliado a isso, contou também com as atuações precisas de grandes nomes que deram seu máximo para incorporar os personagens reais.
E já que comecei a falar das atuações, vamos ao principal nome de Tony Ramos que incorporou o personagem tão bem, aliás todo papel que pega ele detona, fazendo trejeitos dramáticos precisos que mostra em sua face todo a pressão que o governante estava sofrendo, e assim acabamos torcendo tanto para ele que até seus problemas políticos acabam sendo minimizados. Outro grande nome escolhido a dedo para caracterizar o personagem foi Alexandre Borges, que chega assustar tão semelhante que ficou com o original, e fazendo o que sabe melhor que é pontuar em nível sua força de expressão, fez com que o Datena de hoje fosse um gatinho manso com todas as acusações que fazia no seu programa de TV. Drica Moraes faz um papel gostoso de acompanhar, mas ao mesmo tempo também um pouco chatinha em alguns momentos, mostrando o lado forte da mulher já naquela época poderia ter sido mais enfática em algumas cenas que agradaria mais. Agora um ator que não acreditava que poderia fazer algo mais sério é Adriano Garib, que surpreendeu como Ministro da Guerra, sendo eloquente e com postura de um general mesmo definiu suas falas encaixadas num tom perfeito. Thiago Justino se colocou frente ao risco de o preconceito acabar forte demais com o modo que atua, mas agrada de tamanha maneira nas cenas de depoimento com sua tremedeira que apaga praticamente tudo de ruim que fez em outras cenas. Poderia ficar falando horas de cada um aqui, mas o que vale ressaltar mesmo de todos atores além das boas atuações é o trabalho de maquiagem, cabelo e figurino que transformou todos sem exceção em quase pessoas ressuscitadas, pois ao final quando é mostrado fotos originais dos personagens vemos que a maioria está idêntica.
Outro ponto fortíssimo do longa está no visual cenográfico criado para retratar a época, com carros, figurinos e até mesmo o palácio que hoje é um museu foram ajustados para retratar com verossimilhança tudo que ocorreu naquele ano. E com objetos minimalistas souberam colocar cada detalhe numa ótica palpável para sabermos o rumo que vai tomar a história somente observando os closes que o diretor optou em fazer. Filmes de época usam um modelo padrão de fotografia que é jogar um tom de sépia e azular um pouco nas cenas mais escuras que fica perfeito, e aqui aliado a isso, optaram por muita iluminação de lâmpadas amarelas em cena, nos abajures e lustres, com isso deu um ar bem bacana para a trama.
Enfim, é um filme obrigatório para quem quer saber um pouco mais da História do nosso país e agrada na medida por tudo que é apresentado, claro que possui alguns defeitinhos, como placas de carros do Distrito Federal, que ainda não existia, e outros detalhes técnicos, mas não chegou a atrapalhar o andamento da trama. E como disse no começo, para quem reclama que só fazemos comédias bobas, é o momento certo para ver um bom drama nacional na telona. Bem é isso, fico por aqui com a última estreia da semana no interior, mas hoje mesmo (Sábado 03/05), começa o Festival do SESC que será exibido no Cinépolis Santa Úrsula, com filmes alternativos que pra quem gosta de fugir do tradicional vale a pena dar uma conferida, pretendo ver todos e comentar por aqui, então abraços e até breve pessoal.
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