Jogada de Rei

5/14/2014 01:18:00 AM |

O gênero drama hoje está carente de bons roteiristas que fugiram para as séries de TV que pagam bem mais, e com isso a cada dia mais lotam nos cinemas longas baseados em fatos reais que foram adaptados de algum livro escrito ou pelo próprio protagonista ou por alguém próximo que vivenciou o momento que será contado. E em "Jogada de Rei" essa tradição acaba bem desenvolvida por um diretor que sabe conduzir suas tramas para algo mais crível sem necessariamente precisar inventar muita coisa. No filme, o tradicionalismo das camadas sociais periféricas que sofrem muito em diversos países, e não é por que estamos falando dos EUA que seria diferente, onde o crime domina tudo, mas quem tiver coragem e garra para vencer pode conseguir coisas melhores, e aqui o foco do filme se baseia no grande ato do jogo de Xadrez, que é pensar antes de fazer sua grande jogada, seja ela no jogo ou mesmo na vida, e com isso o longa agrada com momentos emocionantes, boas atuações e só peca um pouco em manter o ritmo tradicional do jogo que é lento demais no seu miolo.

O filme nos mostra que Eugene Brown tenta recomeçar a vida após 18 anos na cadeia. Ele consegue um emprego de faxineiro em uma escola pública, onde uma classe de alunos problemáticos acaba de expulsar sua professora. Eugene é encarregado então de tomar conta dos adolescentes. É a chance que ele tem de se redimir dos erros do passado. Para afastá-los do crime, o ex-detento cria um clube de xadrez, ensinando aos jovens a pensar antes de agir, mas a iniciativa não agrada ao mafioso local, que ao ver suas vendas de drogas caírem, decide se vingar de Eugene.

A história do filme em si é bem interessante e empolga por mostrar que uma vez feito algo errado na vida, nas maiorias das vezes, não é possível arrumar esse erro, e que muitas coisas podem acabar atrapalhadas com isso, mas o diretor Jake Goldberger soube trabalhar essa amarração toda em cima de um jogo de estratégia dos mais antigos que traz filosofias interessantes para tanto mostrar as virtudes de saber o que sofreu com algo errado, como também ensinar o próximo a fazer algo de forma correta. E com uma história real em mãos, em parte é até mais fácil fazer um filme, pois não é necessário tanta criatividade para engajar a trama e convencer os espectadores da história, porém aí é que está o grande erro do longa, que ao manter a mesma dinâmica de um jogo, com cada ato acontecendo passo a passo, o meio do filme acaba cansando um pouco, mas nada que diminua o agrado que a história em si, com uma beleza razoavelmente plena, consegue nos motivar como acontece na maioria dos longas esportivos. Alguns fatos também acabaram acontecendo e sendo jogados na trama sem devido fechamento, por exemplo a história do mafioso que até é colocada como ponto alto na sinopse, acaba sendo exibida no meio do filme e depois evapora, ou seja, faltou algumas amarras para que o longa não ficasse somente trabalhado no que o personagem principal acabou construindo e também com algumas câmeras mais rápidas como ocorreram no início e no final do filme agradaria bem mais.

É engraçado ver como alguns atores envelhecem de tal maneira que ao lembrarmos de seus bons papéis ficamos perplexos que podem estar em breve fazendo filmes mais sérios e até não sendo mais os atores que gostamos tanto, por exemplo aqui Cuba Gooding Jr. não tem mais aquela vivacidade característica que tanto fez sucesso no passado, mas começa a demonstrar habilidades mais trabalhadas em seus diálogos para recair bem como um mestre que quer ensinar seus discípulos algo que aprendeu em sua vida, e o mesmo que o personagem principal tenta fazer de bom para a comunidade, vemos o ator ao tentar passar seus bons momentos para os jovens que estão começando agora no filme. Por exemplo, Malcolm M. Mays que inicialmente até não imaginamos que o filme fosse recair para seu personagem e seu jeito mal encarado vai sendo trabalhado não de forma a virar o bonzinho da trama, mas com sutilezas para florescer o ator que o personagem pede e com uma simbologia bem bonita fechar o filme não da forma que muitos até poderiam querer, mas colocando a lição exata no momento exato que o personagem precisava. Kevin Hendricks que aparentava inicialmente ser o protagonista da trama, na sua segunda cena mais trabalhada já é possível saber seu destino, então seu mote é único e o jovem ator estreante trabalhou bem para não fazer suas cenas de maneira tão forçada, poderiam apenas ter trabalhado mais suas expressões sofridas, que ficou parecendo estar mais assustado do que preocupado. LisaGay Hamilton teve seus momentos sutis para aparecer, mas preferiu ser bem coadjuvante na história, o que é uma pena, pois a atriz é muito boa e poderia ter, caso a história quisesse variar para outras vertentes, principalmente dentro da escola, mais dinâmica no miolo com suas interpretações, mas aí já não é nem culpa da atriz e sim do roteiro. Vale destacar também Dennis Haysbert que mesmo aparecendo apenas no começo e no final do longa demonstrou uma seriedade ímpar para seu personagem, agradando por inserir mais um conselho que o filme tanto prezou. Rachae Thomas e Richard T. Jones tentam ter bons momentos, mas são tão mal aproveitados que nem dá para saber se poderiam destacar em alguma cena.

O visual da periferia foi bem retratado colocando os guetos acima de tudo, claro que temos algumas falhas bem graves aqui, por exemplo o QG da máfia parecendo mais um almoxarifado fajuto sendo que eles são o que comandam tudo na parada das drogas ali, e além disso os capangas praticamente dormindo na mesa de jogo não convenceu de forma alguma, ainda bem que essa parte do filme com toda certeza foi a mais eliminada, senão a chance de estragar algo que ficou bom poderia ser grande. Tirando esse detalhe, as cenas de competição e até o clube de xadrez bem simples agradaram por conter os elementos necessários para realçar cada momento e aliado à tudo que a trama pedia temos boas colocações cênicas. A fotografia tentou em alguns momentos dar uma gramatura mais escura na trama, só que sem preconceito algum viram que a maioria dos atores eram negros e não caberia ali usar esse estilo de filtro, e ao jogar para o marrom então o filme aparentou ser mais velho do que realmente é, não que isso atrapalhe muito, mas ficou um pouco atemporal o longa, ao invés de marcar a data correta que a trama ocorreu.

Enfim, o filme está bem longe de ser algo ruim, muito pelo contrário agrada e emociona em muitas cenas, mas poderiam ter se apegado mais a alguns detalhes para fazer algo perfeito. É um filme que tradicionalmente cairia bem nas sessões da tarde, por não conter nem nada muito forte e ainda dar algumas lições para o pessoal que gosta de ver um filme que trabalhe isso. Por estar nas mãos de uma distribuidora bem pequena, o filme com certeza passará bem rapidamente por diversas cidades, então recomendo que quem gostar do estilo e quiser ver o filme corra, pois ao exemplo daqui já irá sumir com apenas 1 semana de exibição e é um filme bacana de ser visto, então corram. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica, mas já postei os horários da próxima semana no Facebook do blog e teremos muitos filmes para conferir, então aguardem vários posts por aqui, abraços e até Quinta então.


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