Malévola em 3D

5/31/2014 01:52:00 AM |

É interessante você ir para uma sessão de cinema esperando ver algo que já possui toda a ideia por tudo que foi falado antes, e com filmes da Disney não tem como não esperar algo. Mas como já sabíamos que dessa vez a história do filme seria contada por um lado mais sombrio, nem tinha expectativa alguma em relação ao conceito visual, até ler minutos antes do filme iniciar, o currículo do diretor, aí foi sentar na poltrona confortável e curtir um deslumbre de imagens feitas por Robert Stromberg em "Malévola". Mas peraí, quem é esse cara? Sim, é um diretor estreante que se arrisca logo numa mega produção, mas é só puxar seu currículo e ver que foi desenhista de produção dos filmes visuais mais completos que tivemos ("Avatar", "Oz: Mágico e Poderoso", "Alice no País das Maravilhas", e responsável pelos efeitos de mais uma tonelada de filmes, ou seja, um filme esteticamente perfeito que agrada não apenas por isso, mas por criar uma história condizente, onde tudo possui detalhamento e deslumbre.

Baseado no conto da Bela Adormecida, o filme conta a história de Malévola, a protetora do reino dos Moors. Desde pequena, esta garota com chifres e asas mantém a paz entre dois reinos diferentes, até se apaixonar pelo garoto Stefan. Os dois iniciam um romance, mas Stefan tem a ambição de se tornar líder do reino vizinho, e abandona Malévola para conquistar seus planos. A garota torna-se uma mulher vingativa e amarga, que decide amaldiçoar a filha recém-nascida de Stefan, Aurora. Aos poucos, no entanto, Malévola começa a desenvolver sentimentos de amizade em relação à jovem e pura Aurora.

Um fato engraçado, pelo menos para a minha pessoa, é que mesmo a história da Bela Adormecida sendo um clássico, após a sessão sai sem lembrar exatamente a história original, já me convencendo praticamente de que a história nova que a roteirista Linda Woolverton, que já foi responsável pelos roteiros de animações sensacionais como "O Rei Leão", "A Bela e a Fera", entre outros, acabou criando, e isso embora seja algo bom por criar um modelo para nossa imaginação, praticamente tira a lembrança da animação tradicional que conhecíamos, mas como o filme é tão bem feito, vamos adotar essa versão e ficar felizes com o que vimos, só mudaria um detalhe na cena do beijo, mas sem dar spoilers não tem como falar, então acredito que até muitos irão pensar na mesma ideologia, já que sem falar nada minha irmã que me acompanhou na sessão pensou na mesma mudança. Quanto a direção do novato, frisando que comandando as câmeras, Robert Stromberg, o que podemos falar é que usou de todo o seu conhecimento visual para criar um ambiente alegórico perfeito para a trama, de forma a sermos praticamente transportados para querer viver no mundo mágico criado no filme. E já que a questão visual é algo que o diretor conhece e quis valorizar muito, aliás caiu uma produção composta da bagatela de 200 milhões de dólares no seu colo, ele foi esperto suficiente para trabalhar com muitos planos abertos, onde tudo ao redor dos protagonistas é bem preenchido com seres exóticos e com uma cenografia que mesmo sombria tem um charme interessante de ver. Com isso que fez, ele acertou bem e com certeza deve ser convidado para outros filmes.

No quesito atuação, o diretor pode ter sofrido um pouco, afinal está trabalhando com uma das atrizes mais completas e que é diretora também, ou seja, mandar Angelina Jolie fazer algo pode ser trabalhoso, mas como é um fenômeno absurdo de interpretação, colocou a personagem como sendo sua e fez algo que se antigamente muitas garotas queriam ser princesas, agora irão querer ser uma fada "malvada". Elle Fanning consegue segurar a onda, mas tem alguns momentos que faz trejeitos que ficamos pensando em que tipo de sentimento ela está tendo, e mesmo não sendo o foco do filme, poderia ter sido trabalhado melhor a atriz para que ao menos nos seus momentos de destaque ficasse bem para as câmeras. Sharlto Copley agrada nos seus momentos mais tensos, mas não chega a convencer a loucura que tenta passar sem a narração, o que acaba sendo um erro de expressão. As três fadas Imelda Staunton, Lesley Manville e Juno Temple agradam inicialmente, mas nas cenas como humanas ficaram paspalhonas demais, o que por sorte foi optado usar bem pouco do material delas, que acabaria saindo totalmente do conceito do filme. Sam Riley caiu muito bem para o personagem Diaval e mesmo estando sob a forma de animais na maioria das cenas, seus momentos afetivos são bem interessantes para a trama, e o ator soube manter praticamente a mesma expressão passada pelos animais digitais. E quanto a estreia de Vivienne Jolie-Pitt só um olhar e já vemos que a menina é a cara do pai, se juntar os talentos dos dois então, quem sabe em breve vire um prodígio nos cinemas, não virando um Jaden Smith está valendo. Dos demais atores, todos fazem bem seus papéis, mas vale destacar as jovens que fizeram as versões mais jovens de Malévola, Ella Purnell e Isobelle Molloy, por trabalharem bem seus diálogos com expressões simples e bem colocadas.

Por ser um filme recheado de elementos visuais, a trama contou com uma cenografia até exagerada demais, o que acaba nos enchendo os olhos de maneira que é certo de vermos o filme umas 10 vezes e a cada vez ver algo novo que não vimos antes. Falar de cada detalhe cenográfico daria para montar uma tese gigantesca em defesa do filme, mas vale destacar o reino dos Moors que com toda a computação gráfica nos envolve de uma forma ímpar. E a fotografia toda trabalhada em tons mais escuros para dar o ar sombrio que a trama pedia caiu de uma forma que não nos assusta, mas impressiona por utilizar técnicas interessantes para visualizarmos tudo de maneira palpável e agradável. Quando do 3D do filme tudo foi concebido para ter textura e a profundidade está bem interessante na maioria das cenas, claro que o destaque para quem gosta de movimento tridimensional está nas cenas de voo da protagonista, que lembrou muito o filme que o diretor trabalhou com o mestre do 3D James Cameron.

A trilha sonora encaixou bem para dar um ritmo envolvente na trama, sem deixar o longa nem acelerado demais e nem dar sono nos momentos que o filme caminha mais devagar. E com uma temática mais sombria James Howard trabalhou o filme com um único intuito: nos envolver. A música tema tradicional da animação de 1959, "Once Upon a Dream", interpretada por Lana Del Rey também ficou gostosa de ouvir e agradou ao fechar o filme.

Enfim, como disse o filme possui alguns detalhes no quesito atuação que poderiam ser melhores, mas nem por isso não é algo gostoso de assistir e se maravilhar visualmente. Como já disse em outros filmes que abusam de tecnologias visuais, recomendo ver o longa nos cinemas que possuem melhor projeção, pois como é 3D num ambiente bem escuro, é capaz que com alguns óculos o filme não atinja a perfeição visual que foi trabalhada e em casa pode ser que não fique legal também, então corra e pegue o melhor lugar num cinema e se impressione com tudo que nos é mostrado, pois recomendo o longa com certeza. Bem é isso, fico por aqui agora, mas ainda falta uma estreia para conferir, então volto mais tarde para falar dela, abraços e até breve.


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