É interessante ver a forma que alguns diretores trabalham seus filmes, criando toda uma conexão bem trabalhada do drama familiar, fazendo os personagens serem desenvolvidos e até exigindo dos atores que façam coisas diferenciadas, para no final não ter ideia de como terminar agradavelmente e enfiar o pé na jaca estragando quase tudo que fez, colocando algo que nem numa prisão de segurança mínima de cidade pequena ocorreria, quanto mais em algo grandioso que parece ser onde se passa a história, ou seja, até ficou fácil de fechar a ideia do filme, mas pecou demais em inventar algo fácil de criar, mas idiota de acreditar. Com isso dito, "Tango Livre" nos mostra que quando tem gente demais envolvida, no caso aqui uma coprodução de três países, a dificuldade que muitos acabam encontrando é administrar o exagero de gente falando na cabeça do diretor, e dessa forma, um filme que teria tudo para acabar de forma satisfatória acaba virando um pesadelo que só fazendo uma loucura capaz de sair de tudo que pregou desde o início para fechar o longa, e isso nem sempre irá agradar.
O mote inicial do filme é até simples de entender, pois nos mostra que Jean-Christophe é um agente penitenciário pacato e sem história. Sua única alegria são suas aulas de tango uma vez por semana, onde um dia conhece a recém-chegada Alice. Ele se surpreende ao reencontrá-la na sala de visitas da prisão onde trabalha, quando ela vai visitar dois detentos: seu marido e seu amante. Estranhamente atraído por essa mulher, Jean-Christophe irá quebrar todas as regras que regeram a sua vida.
O roteiro escrito por Anne Paulicevich, que é a atriz principal também, até acaba sendo agradável por mostrar que o ciúmes até pode ser algo bom em uma relação, principalmente no caso aqui em colocar 4 homens brigando por uma mesma mulher, o que acaba mexendo com as estruturas psicológicas de todos, levando cada um a buscar uma forma de (re)conquistar ela e isso ficou bem bacana de ser visto pelas ideias criativas que acabaram sendo desenvolvidas. Porém como disse no início do texto, não acredito que tenha sido uma falha do roteiro, o final exagerado que foi colocado, mas sim uma pressão dos produtores para cima do diretor Fréderic Fonteyne para que fechasse o longa no tempo determinado, e com isso boa parte da história que poderia ser feita, acabou sendo resumida em uma fuga ridícula que nem se esforçando ao máximo é possível acreditar no que aconteceu, ou seja, um fechamento absurdo que já vimos acontecer em diversos outros filmes pelo mesmo motivo. Um ponto favorável ao menos, claro antes do fechamento, foram os ângulos que o diretor optou por fazer, principalmente para não constranger tanto os atores que não soubessem dançar tango tão bem.
No quesito atuação, todos se desenvolveram de forma interessante, até claro a última cena, pois foram crescendo tanto em nível de ciúmes quanto na introspecção de cada personagem e isso ficou bem interessante de ver. François Damiens entrou bem no jogo da sedução da protagonista e seus olhares sempre estavam bem colocados, mas poderia ter sido menos bobo em alguns momentos que fugiram um pouco do que aconteceria na realidade, mas isso não é nem um problema tanto de atuação, afinal atores fazem o que são mandados fazer. Anne Paulicevich faz um papel intrigante, mas que nas últimas frases do garoto são ditas boas verdades sobre o seu personagem e que acaba desmontando-a de uma forma interessante demais que a atriz conseguiu colocar com precisão na sua atuação, talvez um olhar misterioso fosse mais agradável no início do que a timidez imposta. Sergi López demonstrou uma boa habilidade tanto para colocar sua raiva em uma atuação bem pontuada, quanto para ir pra cima da dança e tentar fazer seu melhor, que agradaria bem mais em outro final. O jovem Zacharie Chasseriaud agradou por trabalhar seu personagem de forma mais intimista até o momento preciso de explodir e que nem disse uma pessoa na saída do filme, poderia ter sido resolvido essa sua raiva com uma surra que agradaria mais do que o que foi feito para satisfazer sua vontade. Jan Hammenecker foi o mais centrado de todos os atores, mas no momento que poderia demonstrar toda sua atuação, apelou para a birra de fechar a cara e ficou preso no roteiro sem agradar mais. Dos demais todos tentaram não atrapalhar o longa, mas bem que tentaram em algumas cenas aparecer de relance de forma até algumas imagens terem sido usando o termo técnico cropadas, que é reduzir a área\ para dar um sumiço no personagem que está atrapalhando, mas todos os presos demonstraram bastante interesse na dança e isso agradou.
Visualmente o filme nos mostrou uma cenografia mais pobre do que estamos acostumados a ver em produções francesas, mas como os personagens não são da nobreza até que ficou bem encaixado dentro da trama e toda a bagunça de elementos cênicos acabou agradando para não termos um filme redondo, afinal o grande mote é não manter a calmaria nos personagens, e isso ficou bacana de ver, mas poderiam ter trabalhado um pouco mais no salão das aulas de dança que nem a academia mais pobre do planeta seria tão simples assim. A fotografia usou de poucos filtros, utilizando apenas pouca iluminação para deixar a imagem mais gasta e com isso ajudar na pobreza que o longa mantém na cadeia e nas casas dos protagonistas.
Enfim, de um modo bem geral, o longa teria tudo para agradar se tivessem seguido o mote inicial e não feito uma lambança no final, mas como isso desgastou bem tudo, muitos que forem assistir é quase certo que não saiam da sessão agradados com o que verão. Claro que ainda está muito longe de ser algo que deva ser jogado na lixeira, e vale a pena conferir num momento para ver produções mistas de países que raramente vemos algo por aqui, como Bélgica e Luxemburgo, mas não fique esperando que tudo que ele promete acontecer vá ser finalizado de forma boa, senão a chance de decepção com o filme é maior ainda. Fico por aqui agora, mas falta uma estreia ainda para fechar a semana cinematográfica, então abraços e até breve.
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